Para cumprir reporte ESG da CVM, empresas precisam acelerar, diz PwC

Maioria das companhias está em fase de entendimento das novas de normas de reporte sustentável obrigatórias a partir de 2026, mostra pesquisa

Para cumprir reporte ESG da CVM, empresas precisam acelerar, diz PwC
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Empresas e fundos brasileiros estão avançando no trabalho para adotar o novo padrão global de divulgações financeiras para sustentabilidade, mas precisam acelerar o ritmo para atender o cronograma da Comissão Mobiliária de Valores (CVM).

A conclusão é de uma pesquisa recém-publicada pela consultoria e auditoria PwC Brasil sobre o panorama atual da implementação das regras do International Sustainability Standards Board (ISSB) no Brasil.

Em outubro passado, a CVM determinou o uso de novas normas criadas pelo ISSB. Com isso, o Brasil se tornou o primeiro país a determinar oficialmente tais diretrizes. 

“A CVM foi bem ambiciosa em implementar essas regras para o ano de exercício de 2026 (com publicação em 2027) e, propositalmente, colocou um objetivo bastante desafiador para as empresas”, diz Mauricio Colombari, sócio da PwC Brasil.

“É normal elas ainda estarem se familiarizando com a norma publicada no ano passado, mas vão ter que acelerar bastante o ritmo nos próximos exercícios para conseguir chegar até lá.”

A maior parte das organizações ainda está em fase de entendimento das normas e quase 60% ainda não definiram os papéis e as responsabilidades de funcionários para a preparação dos reportes, de acordo com a pesquisa. 

O levantamento circulou por cerca de 60 empresas de capital aberto, com maior representação dos setores de engenharia e construção (16,2%), energia e serviços de utilidade pública (16,2%), produção industrial (13,5%), celulose, papel e embalagens (10,8%), infraestrutura e grandes projetos (10,8%) e varejo e consumo (10,8%). 

Dentro das empresas, as respostas vieram especialmente das áreas de finanças e controladoria (37,9%), sustentabilidade (27%) e relação com investidores (16,2%).

Dor de crescimento

“Enquanto outros países estarão pensando o que fazer, o Brasil já saiu na frente. Isso é muito  positivo, mas colocou, de fato, uma pressão grande sobre as empresas”, afirma Colombari. 

Quando as regras contábeis foram estabelecidas anos atrás pela IFRS Foundation, mesma responsável pelo ISSB, havia  referências de outras jurisdições. “Agora, isso não existe. É o Brasil que vai passar a ser referência.”

Mais da metade dos respondentes (56,8%) apontou como principais desafios para aplicação da norma: a integração de diferentes áreas da organização; informações quantitativas sobre como os riscos e as oportunidades de sustentabilidade podem afetar a posição patrimonial, geração de caixa e geração de resultados no curto, médio e longo prazos; e a necessidade de publicação das informações de sustentabilidade na mesma data que as demonstrações financeiras. 

A conexão das demonstrações financeiras com as informações de sustentabilidade (51,4%) e a definição de uma governança para gerir a temática (43,2%) vieram na sequência. 

Foco no investidor

O ISSB tem dois conjuntos de normas principais: a S1, referente a informações de sustentabilidade, e a S2, ligadas ao clima. 

O formato a ser adotado para o reporte dessas normas não foi definido. Os números ainda são bem divididos entre as empresas: 45,9% pretendem publicar um novo tipo de relatório focado em ISSB, enquanto a mesma parcela planeja adaptar um relatório atual, como o integrado. Outros 8,2% ainda não avaliaram o assunto. 

Não existe resposta certa, diz Colombari, mas o foco no investidor precisa ser lembrado. “A norma busca um olhar específico para os riscos e oportunidades da sustentabilidade, principalmente para o investidor ou para os provedores de capital. Por definição, é voltada para esse público.”

Compreender o objetivo para o qual o documento foi pensado é relevante para o formato escolhido pelas companhias.

Hoje, a maioria delas usa o Global Reporting Initiative (GRI) em seus relatórios de sustentabilidade. De modo geral, eles são voltados para um público amplo, têm caráter mais institucional, contam com uma narrativa da empresa e podem chegar a 200 páginas. 

“Para o ISSB, eu penso mais em algo como uma nota explicativa de balanço (financeiro), um documento mais curto e objetivo”, diz o executivo. 

As percepções sobre a norma

Para Colombari, dar ao investidor essa percepção do futuro da empresa é um dos benefícios das normas discutidas. Outro aspecto positivo é dar a oportunidade das companhias mostrarem como estão se posicionando nessas áreas, de modo transparente, para gerir e mitigar eventuais riscos. 

A pesquisa revela que 51,4% dos respondentes entendem que as normas do ISSB vieram preencher uma lacuna importante e contribuirão para que as divulgações sobre sustentabilidade tenham maior qualidade e confiabilidade.

Outros 37,8%, porém, entendem que a implementação é positiva, mas não enxergam benefícios significativos. 

“Esse dado é impactante, mas não é uma surpresa”, afirma Colombari, “Vejo duas explicações possíveis: o segmento da atuação se considera menos exposto a temas de sustentabilidade, e também existem profissionais mais céticos [em relação à necessidade desse tipo de divulgação]”. 

A regulação na área climática ainda não é consenso entre todas as partes do mercado. Nos Estados Unidos, a Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM americana) pausou a implementação de regras de divulgação climática no início deste mês. A decisão se deu após uma série de contestações judiciais por empresas de capital aberto. 

O estudo da PwC Brasil pode ser baixado, na íntegra, neste link.