Tesla e BYD, as duas maiores fabricantes de carros elétricos do mundo, anunciaram quedas significativas nas vendas no primeiro trimestre deste ano.
É o sinal mais claro até aqui que a transição para os veículos movidos a bateria está perdendo ímpeto. Seja por causa dos mais altos preços ou da pequena cobertura das redes de recarga, muitos consumidores estão reticentes.
Na China, de longe o maior mercado global de elétricos, as duas líderes travam uma guerra de preços desde o começo do ano.
Descontos também têm sido a regra nos Estados Unidos e na Europa. Os analistas apontam como principal causa a reticência dos compradores médios, que não abraçam as novidades logo de cara.
A americana Tesla vendeu 386,8 mil carros entre janeiro e março, um resultado cerca de 20% inferior ao do trimestre anterior e 8% abaixo do mesmo período no ano passado. A projeção era de 450 mil unidades vendidas.
Os números de sua maior rival, a chinesa BYD, caíram ainda mais: 42% no primeiro trimestre do ano, considerando apenas os carros 100% movidos a bateria.
Com os resultados, a companhia dirigida por Elon Musk recuperou a liderança no segmento dos puramente elétricos.
Quando se consideram todos os “eletrificados” (incluindo híbridos plug-in, que têm motor de combustão tradicional, além de baterias recarregáveis na tomada), a BYD segue a maior.
Foram vendidas 626,3 mil unidades, recorde para um trimestre e um crescimento de 13% na comparação com o mesmo período de 2023.
Corrida de obstáculos
Musk já havia afirmado que este seria um ano difícil para a empresa e para os elétricos em geral.
Nos maiores mercados de carros do mundo, o fim da era dos carros de passeio movidos a gasolina parecia uma inevitabilidade, por força da tecnologia, da regulação ou de ambas.
(No Brasil, o futuro é um pouco mais nebuloso.)
Generosos pacotes de incentivos para indústria e consumidores tentam acelerar essa transição, essencial para que o mundo evite efeitos ainda piores da mudança do clima.
Mas o recuo das vendas, que começou ano passado e parece se intensificar este ano, desafia essas previsões.
Num artigo recente publicado na Harvard Business Review, o consultor Jeremy Korst aponta para Crossing the Chasm (cruzando o abismo em tradução livre), um livro de mais de 30 anos.
Nele, o estrategista Geoffrey Moore argumenta que o ciclo tradicional de adoção de novas tecnologias não se aplica aos carros elétricos (houve uma pequena onda de entusiasmo na época).
Tradicionalmente, inovações se disseminam aos poucos, começando pelos early adopters e migrando para a maioria dos consumidores. No caso dos carros, entretanto, seria diferente.
Incerteza
Ainda é cedo para tirar conclusões, mas os sinais parecem confirmar essa suposição. Metade dos adultos americanos afirmaram que seu próximo carro provavelmente não será 100% elétrico, segundo uma pesquisa recente.
Entre as montadoras tradicionais, os sinais são desencontrados. Akio Toyoda, CEO durante 13 anos e hoje presidente do conselho da Toyota, afirma que “o inimigo é o CO2”, e várias soluções vão descarbonizar as ruas.
Já o português Carlos Tavares, CEO da Stellantis (dona de marcas como Fiat, Peugeot e Jeep), diz que a companhia está totalmente comprometida com o futuro elétrico.
O plano é oferecer 48 modelos a bateria globalmente ainda este ano. Até 2030, a meta é que metade das vendas nos Estados Unidos, o segundo maior mercado do mundo, sejam de 100% elétricos.