Aportes em climate techs encolhem 30% em 2023

Investimentos foram de US$ 32 bilhões em 2023; crise no mercado de venture capital afetou startups

Aportes em climate techs encolhem 30% em 2023
A A
A A

O ano terminou amargo para as climate techs, as startups focadas em diferentes tipos de soluções para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

Houve uma queda de 30% nos investimentos de risco em companhias do setor, de acordo com dados divulgados pela empresa de informações de mercado Sightline Climate. De US$ 45,5 bilhões em 2022, o total caiu para US$ 32 bilhões no ano passado.

O valor médio dos aportes foi 28% menor, que se segue à queda de 21% registrada em 2022. “A lucratividade é cada vez mais importante em comparação com o crescimento. Investidores e fundadores priorizam rodadas de tamanho menor e com metas concretas”, escrevem os autores do levantamento.

Praticamente todas as etapas de investimento sofreram recuos, com exceção do capital semente. Esses aportes no início da vida das startups cresceram 7% em 2023, passando a US$ 2,2 bilhões.

Isso se traduziu em um aumento expressivo no número de climate techs. No fim do ano passado, o levantamento contabilizou 2.589 startups voltadas ao clima, volume 36% maior do que o registrado no final de 2022.

Ou seja, os investidores parecem estar mais dispostos a apostar em novas empresas, que exigem capital menor, do que fazer operações com cheques maiores.

O ano foi especialmente ruim para o setor de alimentos e uso da terra, que viram os aportes desabarem em 55%, num indício de que o apetite dos investidores por proteínas alternativas de base vegetal parece estar arrefecendo.

Também houve queda nos investimentos em empresas que apostam na descarbonização dos transportes: os aportes caíram 26% no período. 

Foram aportados US$ 10,7 bilhões em empresas desse segmento. A maior parte, US$ 6,2 bi, foi destinada ao desenvolvimento de tecnologias de baterias. 

Ainda assim, esse recorte continua concentrando o maior volume de recursos, com 37% do total de aportes no ano. Seis das dez maiores rodadas foram em startups ligadas a transportes.

A fabricante de baterias sueca Northvolt levantou US$ 1,6 bi em duas rodadas, e a americana Redwood Materials, que está montando uma das maiores plantas de reciclagem de baterias, recebeu US$ 1 bi.

O maior aporte individual foi realizado na também sueca H2 Green Steel. A empresa, que produz aço de baixo carbono usando hidrogênio verde, recebeu US$ 1,6 bi.

Sem saída?

Esses “megadeals” foram a exceção. Rodadas de série C ou posteriores caíram cerca de 30% no ano passado. 

O dado reflete em parte a redução no total de saídas, que foi 50% menor em 2023. A contração mais marcante foi nas aquisições por Spacs, ou “empresas de cheque em branco”, que permitiam uma entrada mais rápida na bolsa.

Esse tipo de negócio caiu quase 90% na comparação com 2022. IPOs tradicionais mantiveram o mesmo ritmo lento, e a principal opção de saída para os investidores foram as vendas estratégicas.

O setor de petróleo e gás em particular vem demonstrando apetite, segundo o levantamento. Petroleiras europeias como Shell e BP adquiriram 12 climate techs desde o fim de 2020, segundo a SightLine Climate.

Otimismo cauteloso

Em um cenário macroeconômico global ainda desafiador – os juros ainda estão em nível elevado e os preços apenas começando a desacelerar –, a perspectiva da Sightline Climate para os aportes no mundo das climate techs neste ano mistura otimismo e cautela.

De um lado, investidores e companhias que ficaram em compasso de espera podem abrir as carteiras.

O vento contrário, porém, ainda é o mesmo: as condições incertas do mercado de capitais, muito influenciado por um ambiente macroeconômico ainda instável, que podem manter o setor andando de lado por mais um ano.