SoluBio colhe a safra bilionária dos bioinsumos

Empresa de Goiás investe no manejo biológico no campo e experimenta crescimento acelerado em menos de uma década

Estrutura da SoluBio
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A SoluBio surfou na hora certa a onda dos bioinsumos da agricultura e agora colhe os resultados: em menos de uma década de atuação no mercado, a empresa de Jataí (GO) atraiu investidores relevantes, foi avaliada em R$ 1 bilhão e planeja investimentos no exterior.

A empresa é uma das protagonistas do mercado brasileiro de bioinsumos, que já é bilionário e deve crescer mais ainda nos próximos anos. Somente na safra 2021/22, esse setor movimentou R$ 3,3 bilhões, segundo um estudo da CropLife Brasil, que representa o segmento, em parceria com a S&P Global. O valor representa um crescimento de 219% em relação à safra anterior.

Quando ouvir falar em bioinsumos, pense nos microrganismos presentes na natureza: bactérias, fungos, vírus. Na agricultura, esses organismos podem, ao mesmo tempo, regenerar o solo, aumentar a fixação de carbono, ajudar no crescimento de plantas e controlar pragas de uma forma sustentável, em substituição a produtos químicos.

Há pouco mais de dez anos, uma solução inovadora do tipo chamou a atenção do técnico agrícola Alber Guedes, que mantinha uma consultoria de agricultura de precisão para fazendas no Rio Grande do Sul, a Agroplan. Ele conheceu um tipo de biodefensivo aplicado contra pragas na soja em uma propriedade do Mato Grosso e resolveu levar para o Sul. “Virou uma febre, todo mundo queria conhecer.”

Guedes logo percebeu que poderia fabricar ele próprio os bioinsumos. Começou, então, com a ajuda de outros técnicos, a elaborar protótipos de fábricas. 

Fábricas de bioinsumos são compostas por grandes tambores de aço inox esterilizados, onde ficam depositados os microorganismos, acondicionados sob temperatura controlada, além de filtros para garantir a pureza dos organismos.

Percebendo o potencial de geração de valor que a fabricação de bioinsumos poderia trazer para o seu negócio, Guedes resolveu apostar nesse nicho, momento em que a Agroplan se transformou em SoluBio, em 2016.

“Chamei três pessoas para me ajudar, na garagem de casa, a criar o que seria a SoluBio. Montei todo o plano estratégico da companhia olhando as oportunidades e começamos a escalar o negócio”, lembra o fundador. 

O desafio inicial foi provar que a tecnologia parava de pé. “Tinhamos alguém falando o contrário por todos os lados: que era ilegal, que não funcionava, que causava doenças às pessoas que manipulavam o produto”, recorda o fundador da SoluBio. “Tivemos que provar uma coisa por vez até conquistar a confiança do produtor e mostrar o resultado prático.”

Até hoje, os bioinsumos não passaram por regulação no país. Somente em 2020, o Ministério da Agricultura criou o Programa Nacional de Bioinsumos e a previsão de um marco regulatório para o setor, que foi aprovado pelo Senado em setembro e voltou à Câmara dos Deputados.

Com novo nome e com a ambição de ser a maior biotech do agronegócio nacional, a SoluBio rapidamente começou a ganhar mercado. 

Guedes diz ter percebido que, para conseguir escalar seu negócio, não poderia ser apenas mais uma fabricante de bioinsumos – até por trabalhar com a natureza, disponível a todos – mas que deveria abarcar diversas atividades. “Somos, ao mesmo tempo, uma indústria, uma revenda e uma prestadora de serviços”, resume Guedes.

On farm

Assim nasceu o produto que passou a ser o coração da empresa, o SoluBio Experience, um pacote que inclui o manejo biológico on farm, feito dentro da fazenda do cliente, os insumos e o suporte técnico ao produtor.

Dessa forma, é possível ter, ao mesmo tempo, um padrão a ser replicado em diferentes propriedades e atender às necessidades de cada produtor.

Funciona assim: a SoluBio monta uma laboratório de produção e uma fábrica de bioinsumos na propriedade, cedendo os equipamentos em comodato, entrega kits de inóculos e meios de cultura esterilizados para o produtor e ainda oferece suporte técnico. Também faz o controle de qualidade in loco e via aplicativo, com apoio de consultores que fazem o acompanhamento constante.

Em 2015, ainda como Agroplan, a empresa atendia 40 mil hectares – quando o manejo biológico on farm ainda não estava integrado. Quatro anos depois, em 2019, o volume já era dez vezes maior: 400 mil hectares.

“Isso abriu também muito mercado de trabalho para biólogos, engenheiros de processo, que não estavam tradicionalmente no agro. Vemos isso também como um impacto social”, afirma a gerente de ESG da empresa, Rafaela Vendruscolo.

Em um meio ainda reticente ao uso de novas ferramentas no campo, o convencimento vem principalmente pelo resultado. Guedes diz que, com seu produto, os clientes conseguem reduzir os custos de cultivo em até 70%.

A SoluBio está presente em culturas como soja, milho, algodão, hortifruti – frutos como tomate, manga e banana –, cana de açúcar, eucalipto e grãos.

Entre os biodefensivos produzidos pela empresa, estão organismos como bactérias, fungos e algas, capazes de fazer o controle biológico de nematóides – um dos principais parasitas do campo –, lagartos, insetos e outras pragas e doenças.

A empresa faz ainda a produção de biofertilizantes, a partir da fixação biológica de inoculantes e de partículas de nitrogênio no solo, nutrindo a terra.

Com 30 kg de insumos e inóculos, é possível produzir 500 litros de produto em uma fazenda de 250 a 500 hectares, exemplifica o fundador da SoluBio. “A gente entra pelo custo, conquista pelo resultado e eterniza pela pegada ambiental.”

A ideia é que o manejo biológico possa conviver com os defensivos químicos no campo, servindo para trazer resultados melhores, segundo Guedes.

“Sempre que o produtor precisa intervir com um produto químico por um surto de praga ou doença, o resultado é muito mais eficiente. Com doses normais e se trabalhando de forma sustentável, não se cria uma resistência das pragas e doenças aos defensivos químicos.”

Crescimento acelerado

Hoje, a SoluBio contabiliza ter cerca de 400 biofábricas espalhadas por todas as regiões do país, com mais força na meca do agronegócio, a região Centro-Oeste, e uma presença maior também no Rio Grande do Sul, no Paraná e na Bahia.

Somando todos os clientes, a empresa atende 3 milhões de hectares – e pretende dobrar esse total até 2030. 

A SoluBio emprega mais de 500 pessoas e diz ter tido um crescimento médio de 80% nos últimos anos. Em 2023, o faturamento chegou a cerca de R$ 200 milhões. 

“Temos conseguido entre 120 e 200 novos clientes a cada ano e pretendemos seguir nesse ritmo”, diz Guedes.

Todo esse crescimento vem sendo apoiado por diferentes investimentos.

Em 2021, a empresa conseguiu financiar metade de um investimento total de R$ 110 milhões para construção de sua fábrica de insumos localizada em Jataí (GO), acessando o Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste, o FCO.

Em paralelo, a SoluBio fez sua primeira emissão de Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), no valor de R$ 100 milhões, para ampliar sua estrutura, seguida de outra emissão no ano passado, de R$ 150 milhões, para dar sequência ao crescimento do negócio.

No fim do ano passado, a empresa passou a ser investida pelo fundo de private equity Aqua Capital, que aportou R$ 175 milhões, e entrou como sócio minoritário relevante da empresa. Na estruturação do investimento, a SoluBio foi avaliada em R$ 1 bilhão. 

Os recursos do Aqua serviram para pagamento de empréstimo e para novos investimentos em estrutura, segundo Guedes.

A meta, agora, é expandir fronteiras.

O fundador da SoluBio ambiciona entrar com mais força no mercado internacional. Hoje, a empresa já tem presença em propriedades no Paraguai e quer avançar para os Estados Unidos. “Mirando não apenas as oportunidades comerciais, mas também possibilidades na área de pesquisa e desenvolvimento”, afirma.

No Brasil, a empresa tem investido em ciência e tecnologia. No ano passado, foram destinados cerca de R$ 10 milhões iniciais para a implantação de um centro de pesquisa e desenvolvimento, com sede em Brasília. Também há um outro pólo de pesquisa junto à fábrica de Jataí. A SoluBio mantém ainda parcerias para ensaios de campo e pesquisas em laboratório com instituições de todo o país.

Para Guedes, porém, o principal desafio da SoluBio não está nos laboratórios, nas rodadas de investimento ou nas pragas das lavouras. Ainda recai na mentalidade dos produtores.

“A mudança cultural ainda é uma barreira importante. O produtor rural usa o manejo químico há mais de 50 anos. Trabalhamos praticamente com uma quebra de paradigma.”