Eletrobras, Petrobras, Vale, PetroRio e Gerdau têm planos incompletos para zerar emissões

Empresas foram analisadas por iniciativa de investidores brasileiros – e deixaram a desejar no planejamento

Bloco de madeira com a inscrição "net zero" em cima de mesa de madeira.
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*Atualizada às 15h34 para corrigir erro de informação do levantamento. Por falha de visualização na ferramenta, a versão anterior do texto informava que a Eletrobras cumpria o maior número de critérios entre as analisadas, 13 dos 52. Mas a companhia está atrás da Petrobras e Gerdau, com 20 e 17, respectivamente.

Os planos climáticos da Eletrobras, Petrobras, Vale, PetroRio e Gerdau foram submetidos a uma minuciosa análise e a conclusão não foi muito animadora. Nenhuma das empresas têm uma rota completa para zerar emissões de carbono até 2050, tampouco se engajam na defesa de políticas climáticas ou têm planos que contemplem a chamada transição energética justa. 

É o que mostram os resultados do engajamento climático realizado pela aliança brasileira Investidores Pelo Clima (IPC), uma iniciativa da ERM Nint com apoio da ONG Instituto Clima e Sociedade (iCS). Os integrantes da aliança são gestores tradicionais e também de impacto, como BB Asset, Santander Asset, BNP Paribas, Vert e Vox Capital. 

Essa é a primeira vez que os resultados são divulgados publicamente, mas os engajamentos ocorrem anualmente desde 2020. 

O IPC seleciona empresas relevantes e com potencial de descarbonização, e seus investidores escolhem, então, cinco companhias para participar do projeto. A análise é feita de forma independente e usa como base a metodologia internacional da Climate Action 100+, iniciativa referência em engajamento climático por investidores, que conta 52 métricas para avaliar o envolvimento das companhias com a pauta climática em 11 indicadores, que vão da alocação de capital ao histórico de redução de emissões. 

Aqui, a análise foi feita a partir de documentos e materiais públicos, como relatórios anuais e de sustentabilidade, questionários respondidos pelas empresas e notícias publicadas na imprensa. 

Os critérios buscam responder se a empresa especifica que sua meta abrange ao menos 95% das emissões geradas diretamente e no consumo de eletricidade; se reconhece os impactos sociais de seus esforços de descarbonização e se a remuneração de executivos incorpora o desempenho climático, por exemplo.

Não surpreende que nenhuma das empresas tenha tido aderência total aos critérios por serem complexos e aprofundados, diz Marina Briant, gerente de programas ESG da ERM Nint, completando que, no entanto, algumas tendências interessantes foram observadas. 

“Nenhuma das empresas teve qualquer aderência aos critérios de transição justa. Esse é um conceito que está bastante na boca de todo mundo, mas ainda não está sendo refletido na prática, nos planos corporativos e estratégias de transição.”

Isso significa que não há comprometimento explícito em reter, treinar ou reempregar trabalhadores afetados pelas mudanças geradas pela transição energética nem em consultar comunidades impactadas por novos projetos, por exemplo. 

Também não houve alinhamento das empresas com lobby político climático, mostra a análise. Nesse ponto, a relação público-privado é importante pela capacidade das empresas de influenciar políticas públicas, fomentar o mercado e direcionar tendências. 

Nos destaques positivos, a Petrobras atende a todos os pontos de reporte da Task Force on Climate-Related Financial Disclosures, a TCFD. “Isso pode indicar uma maturidade para a transparência, que de certa forma é esperado, considerando o porte da Petrobras”, afirma Briant. 

A siderúrgica Gerdau cumpre todos os critérios sobre metas de redução de emissões no médio prazo, que vão até 2035. De forma geral, a Petrobras atende ao maior número dos critérios, 20 dos 52, em contraste com a PetroRio, que cumpre apenas um dos pontos analisados.

Com a análise pronta, o IPC está no processo de engajamento com quatro das empresas. Apenas a PetroRio, por enquanto, não fez comentários nem respondeu sobre as propostas de encontro, segundo a iniciativa. 

A iniciativa se apresenta como um espaço para troca entre investidores que lidam com essas empresas na gestão de seu portfólio, e diretores e demais representantes das companhias. “O IPC é a única iniciativa do Brasil que está fazendo o engajamento nesse modelo coletivo”, diz Briant.

A base de dados com os resultados, observações e justificativas estão disponíveis no site do IPC. Mesmo investidores que não participam da aliança podem integrar as informações em práticas como a gestão de risco ou avaliação das companhias.