BTG investe em térmica a carvão Pampa Sul

Banco afirma que negócio ajuda a garantir a transição energética responsável, uma vez que usina será encerrada dez anos antes do prazo

imagem aérea da usina de pampa sul
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O banco BTG Pactual, de André Esteves, está investindo na usina térmica movida a carvão Pampa Sul, estreitando sua relação com o último grande ativo de geração a carvão a entrar em operação no país, em 2019. O carvão, como se sabe, é a fonte energética mais poluente do mundo.

A termelétrica, localizada no município de Candiota, no Rio Grande do Sul, pertencia à Engie até setembro do ano passado, quando a empresa francesa de energia a vendeu como parte do seu compromisso global de descarbonizar seu negócio e ter 100% de energia renovável no portfólio.

A usina foi comprada pelos fundos Perfin e Starboard, que ficaram com 50% da empresa cada um, mediante um desembolso conjunto de R$ 450 milhões e dívidas de R$ 1,8 bi que foram assumidas. 

Agora o BTG está comprando uma fatia minoritária da cota do Starboard, de percentual não revelado, segundo documentos apresentados ao Cade, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, órgão que regula a concorrência no país.

De acordo com uma pessoa ligada ao banco, um cotista do fundo da Starboard que havia se comprometido com o investimento desistiu do aporte. “Entramos, via a holding do banco, para permitir que o negócio aconteça.” O investimento é de cerca de R$ 12 milhões, uma cifra modesta para o porte do banco.

Em documento protocolado no Cade, o BTG afirma que “a operação está em linha com a sua estratégia de investimentos no setor de energia, considerando a transição energética, conciliando investimentos em energias renováveis e gestão adequada dos ativos intensivos em emissões de gases de efeito estufa, considerando sua importância estratégica para a segurança energética e a economia local.”

Não é de hoje que o banco tem conexões com a usina. Em 2020 o banco foi o único coordenador de uma polêmica emissão de debêntures de R$ 582 milhões feita pela Engie para financiar 20% dos custos de construção de Pampa Sul. 

A operação foi um sucesso, mas bastante criticada por investidores com tese climática, uma vez que captou recursos de investidores para financiar um negócio altamente poluente num momento em que a dona do ativo já buscava se livrar dele para atender suas metas de descarbonização.

Na venda para Perfin e Starboard novamente o BTG teve um papel fundamental para viabilizar o negócio, ao fornecer a carta de fiança que garantiu que os novos acionistas poderiam assumir a dívida bilionária da usina.

Perfin e Starboard afirmaram se tratar de um investimento em transição energética feita de forma sustentável, referindo-se ao fato de que estavam se comprometendo a encerrar as atividades da usina até 2040, dez anos antes do prazo da outorga para operação e três anos e meio antes do fim de um contrato de venda de energia no mercado regulado, que foi firmado em 2014 e iria até 2043.

Tais compromissos constam como condições para a concessão da fiança pelo banco, além da criação de um comitê de pesquisa e desenvolvimento voltado para projetos de captura e armazenamento de carbono.

“Todos os compromissos estão sendo cumpridos e sentimos segurança para fazer o investimento. Temos convicção de que ele ajuda a garantir uma transição energética responsável, garantindo a segurança do sistema”, diz a pessoa ligada ao banco, fazendo comparação com o caso da térmica a carvão de Jorge Lacerda, em Santa Catarina, também vendida pela Engie, e que conseguiu prorrogar de 2028 para 2040 seu contrato de fornecimento de energia ao mercado regulado.

O tema das usinas termelétricas está na ordem do dia no BTG, que está patrocinando uma proposta lançada ontem de fusão da Eneva, do qual é um dos maiores acionistas, com a Vibra, antiga BR Distribuidora. A Eneva é produtora de gás natural e dona de diversas térmicas a gás e também a carvão. Paralelamente, o BTG também propõe que a companhia resultante da fusão absorva quatro usinas térmicas movidas a óleo combustível que pertencem ao banco, avaliadas em R$ 2,5 bi.