A saída de seguradoras de mercados considerados arriscados demais por causa da mudança climática pode deixar a conta na mão dos governos, aumentando as chances de instabilidade financeira mundial, diz um novo relatório do Banco Internacional de Compensações (BIS).
Órgãos supervisores têm o papel crítico de promover políticas de precificação robustas, afirma o documento. Do contrário, “existe o risco de uma falência do mercado, o que pode obrigar os governos a assumir o papel de segurador de última instância”.
O BIS é o chamado “banco central dos bancos centrais” e uma de suas atribuições é promover medidas que garantam a estabilidade do setor financeiro global.
O impacto do clima no setor de seguros já é evidente nos Estados Unidos. Na Califórnia, mais de metade das principais seguradoras pararam de oferecer proteção ou aumentaram os preços – em alguns casos até dez vezes – por causa da ameaça de incêndios florestais.
Na Flórida, um dos Estados americanos mais atingidos por furacões, o preço dos seguros residenciais triplicou nos últimos três anos.
Ambos os casos são exceção, pelo menos por enquanto. Segundo o BIS, a maior parte das seguradoras ainda não leva em conta fatores climáticos no cálculo dos prêmios.
Com o aumento da quantidade e da qualidade das informações disponíveis e a incorporação dos riscos nas modelagens, porém, “é razoável esperar mais reduções na disponibilidade e na economicidade da cobertura”.
Mas dados históricos são apenas parte da equação. O aumento da temperatura pode levar o planeta a cruzar “pontos de não-retorno”, desencadeando eventos extremos desconhecidos.
Reguladores, governos e empresas precisam trabalhar juntos para evitar que haja contágio para outros setores, como o bancário.
Imóveis ‘inseguráveis’, por exemplo, podem deixar de ser aceitos como garantia, afetando a exposição de bancos a riscos de créditos, diz o levantamento.