O Brasil captou US$ 2 bilhões, ou cerca de R$ 10 bilhões, na primeira emissão de sustainable bond soberano do país. Os títulos de dívida sustentáveis são papéis com recursos carimbados para projetos com benefícios ambientais e sociais.
Prevista para levantar ao menos US$ 1,5 bi, a operação, lançada na manhã desta segunda, teve uma demanda total superior a US$ 5 bilhões. Investidores de peso ficaram com o papel, como Bluebay, BlackRock, Pimco, Marathon, Amundi, Wellington e Pictet.
Os títulos, com prazo de sete anos, saíram com taxa de 6,45% ao ano, abaixo dos 6,8% sinalizados na abertura da operação.
O título Brasil 31, de vencimento semelhante, é negociado no mercado secundário a uma taxa de 6,40%. Assim, o prêmio de nova emissão do sustainable bond brasileiro foi de no máximo 5 pontos básicos, considerado baixo na comparação com outras operações semelhantes recentes, como de Colômbia e Costa Rica, que pagaram ‘new issue premium’ de 15 pontos.
Apesar disso, é difícil cravar que a emissão teve um ‘greenium’, ou seja, uma taxa mais em conta para o emissor por conta dos atributos de sustentabilidade.
Os recursos serão usados para rolar outras dívidas do Tesouro no exterior. Mas, para enquadrar a emissão como sustentável, o governo se comprometeu a destinar valor equivalente ao captado a projetos verdes e/ou sociais contemplados no relatório de alocação indicativa da operação, publicado em outubro. Estes, por sua vez, foram pinçados do arcabouço para títulos soberanos sustentáveis que o Tesouro divulgou em setembro.
O governo tem um prazo de 24 meses para fazer a alocação nos projetos e, durante o prazo de vigência da dívida (sete anos), terá que publicar dois relatórios anuais para comprovar os atributos sustentáveis: um relatório de alocação, que poderá ser certificado de forma independente, e outro de impacto, para detalhar os benefícios alcançados com o uso dos recursos.
De acordo com o relatório de alocação indicativa, os R$ 20 bi poderão ir para seis áreas com benefícios ambientais e duas com impactos sociais: prevenção e controle de emissão de gases de efeito estufa, energia renovável, biodiversidade, adaptação às mudanças climáticas, gestão de recursos naturais e uso da terra, combate à pobreza e, por fim, segurança alimentar e sistemas alimentares sustentáveis.
Como o Brasil estreou neste novo segmento de mercado depois de países como Chile, México, Peru e Uruguai, havia uma expectativa quanto à receptividade dos investidores e uma preocupação para que a operação saísse livre de controvérsias, segundo uma pessoa a par da emissão.
Para um investidor que analisou a oferta em detalhes, o arcabouço de sustainable bonds brasileiro ficou bastante robusto. “Agora vamos ver os projetos que serão vinculados, mas do ponto de vista do framework, foi bem construído.”
Segundo Miguel Almada Diaz, executivo da área de mercado de capitais do Santander, um dos bancos que coordenou a oferta, os atributos ESG da emissão e o fato de ser uma operação inaugural despertaram atenção extra dos investidores estrangeiros. “As emissões do Brasil sempre chamam atenção, mas, desta vez, os investidores entenderam que não podiam deixar de olhar e o apetite foi grande.”
Itaú BBA e J.P. Morgan também foram coordenadores da oferta.