A COP30 atraiu tanta gente quanto o Círio de Belém para a capital paraense, evento mais popular do Estado. Quase 50 mil pessoas se cadastraram para a Conferência do Clima da ONU deste ano. A maioria circulou hoje pelas grandes tendas da Blue e da Green Zone. Elas, porém, não encontraram o presidente do Banco Mundial, que fez passagem relâmpago por Belém. Algumas também passaram aperto na hora de comer.

Ajay Banga: a aparição

O presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, não ficou nem 24 horas em Belém. Passou pela cidade no dia 6, acompanhou discursos na plenária da cúpula dos líderes e decolou sem participar da coletiva de imprensa com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o lançamento do TFFF, do qual o banco é o gestor. 

Um observador aponta duas razões para tão discreta passagem: a expectativa frustrada de que haveria dezenas de compromissos de países desenvolvidos com aportes ao TFFF e as pressões anti-clima do governo dos Estados Unidos sob Trump, o maior acionista do Banco Mundial.

A formiga, a cigarra e a adaptação

Presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o economista brasileiro Ilan Goldfajn lançou mão da fábula da formiga e da cigarra (ou gafanhoto em algumas culturas) para ilustrar a urgência de se acelerar investimentos em adaptação climática, um dos temas que a presidência brasileira colocou no centro das discussões.

“A resiliência deixou de ser uma preocupação futura — é crucial para o desenvolvimento atual. Protege vidas, preserva o espaço fiscal e abre as portas para o investimento privado”, disse ele. “Isso nos lembra da antiga fábula: a formiga que se preparou para o inverno, enquanto o gafanhoto esperou demais.” Ou seja, é preciso investir em resiliência antes e não depois que os desastres acontecem.

O conjunto de bancos de desenvolvimento globais quer chegar a 2030 destinando US$ 42 bilhões anuais para adaptação de países de baixa e média renda. E querem mobilizar outros US$ 65 bilhões de financiadores privados no mesmo prazo. Nesta segunda-feira (10), eles divulgaram um estudo conjunto que aponta caminhos e traz inovações que já têm sido colocadas em prática por vários deles.

Chuva de boas vindas

A COP30 começou com um temporal amazônico, que caiu às duas da tarde – como na canção Bom dia, Belém, de Edyr Proença e Aldacinda Camarão – e se repetiu ainda mais forte às 16h. A estrutura da ONU para a conferência do clima, porém, parecia que não estava pronta para…. o clima. 

O ponto de ônibus da Blue Zone alagou. Circularam vídeos de pessoas tendo que andar com água na altura da canela. Na sala de imprensa, a intensidade da chuva causou goteiras. Repórteres da imprensa internacional e de curiosos pediram para a segurança abrir uma das portas para que pudessem observar e registrar a cascata que se formou. 

Sem ar…

A “feira” da COP30, área dos pavilhões de países e organizações, ficou pronta a tempo – ou quase. Durante o primeiro dia da conferência, o ar-condicionado da área não estava funcionando. Brochuras e panfletos que costumam ser ignorados na recepção dos estandes ganharam utilidade como leques improvisados.

… sem voz

As fortes chuvas que caíram em Belém na tarde desta segunda (10) não refrescaram essa parte da Blue Zone – e vão deixar muita gente afônica até o fim da conferência. O barulho da água caindo sobre o teto da estrutura temporária da COP30 é muito alto. Em diversos estandes era difícil ouvir o que se discutia nos paineis, apesar dos microfones e alto-falantes. Mesmo para conversar era necessário falar um pouco mais alto.

… e sem comida

Por volta das 12h, a comida já havia se esgotado na Green Zone, gerando frustração entre aqueles que enfrentaram longas filas. Na Blue Zone, parte dos restaurantes ficou sem alimentos e café, e as filas também foram extensas. Os serviços foram normalizados por volta das 14h30. 

Os cartões de alimentação da conferência, operados pela Cielo, também acabaram durante o almoço – e um novo lote só foi disponibilizado às 16h. A aquisição de todos os alimentos dentro da Blue Zone é possível apenas com o referido cartão, que é recarregável.

Chamada do BNDES

A chamada pública de mitigação climática do BNDES recebeu 45 propostas de fundos de investimento, com potencial para mobilizar até R$ 73,7 bilhões em investimentos. As propostas demonstram uma demanda de R$ 21 bilhões em apoio financeiro do banco. Os números foram divulgados nesta segunda-feira (10), durante a abertura do pavilhão do BNDES na COP30. O resultado da seleção será divulgado em janeiro. 

O programa prevê o aporte de recursos em fundos já existentes ou criados especificamente para esta finalidade, voltados a projetos de descarbonização, transição energética, agricultura verde, reflorestamento e conservação ambiental.