
Foi dada a largada. A COP30 começa oficialmente nesta segunda-feira em Belém. Com palavras de esperança do presidente brasileiro da conferência e mangas caindo do céu. Uma tragédia do outro lado do país mostra a necessidade de discutir adaptação às mudanças climáticas.
Watch your head

É época de manga em Belém. Conhecida como “A cidade das mangueiras”, que foram trazidas da Ásia pelos portugueses no século 18, a capital paraense tem as ruas forradas dessas árvores centenárias que formam túneis verdes. Ao redor do Parque da Cidade, local onde acontece a conferência do clima da ONU, as árvores chamam a atenção. Não só pelo tamanho e pela beleza, mas também pelo risco de acidentes.
A poucos metros dos portões, um motorista de aplicativo deixava um passageiro na última sexta-feira (7) quando se ouviu um ploft. Era uma manga amarela e pesada que despencou em cima do carro. Não é raro os carros serem amassados pelas frutas ou terem para-brisa quebrados.
Habla y habla

O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, concluiu sua série de cartas à comunidade internacional. Ele diz encerrar um ciclo de palavras para que o mundo começe um ciclo de ação.
Em suas últimas cartas, ele alerta para o risco do aquecimento global ultrapassar 1,5ºC e o planeta entrar em um ponto de não retorno. Mas há espaço para esperança. A COP30, diz o presidente, deve marcar a maturidade do regime climático e passar da negociação para a implementação.
Corrêa do Lago também reconhece os esforços já feitos para tentar alcançar as metas do Acordo de Paris e a ambição global pela transição climática. Mas o “quase” não é suficiente, escreve. “Precisamos ir mais rápido para alcançar todos os países, todas as comunidades, cada membro da nossa família humana antes que impactos climáticos mais severos o façam.”
Mutirão, a origem
Em sua primeira carta, em março, o presidente da COP30 convocou o mundo a fazer um “mutirão global pelo clima”.
A palavra tem origem indígena. Mutirão deriva de motirõ (ou grafias semelhantes) do tupi antigo, que descreve ações para o bem comum ou “reunião para a colheita/construção”. A palavra foi adaptada ao português brasileiro e descreve uma ação coletiva e voluntária, em que as pessoas se reúnem para realizar uma tarefa específica em troca de ajuda mútua, sem remuneração.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez coro. Em seu discurso na Cúpula dos Líderes, Lula fez um apelo para que os países façam um mutirão para combater o aquecimento global.
Elegância local
O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, tomou café da manhã com jornalistas neste domingo (9) usando uma guayabera adornada com um bordado típico da Ilha de Marajó. Este é um tipo de camisa masculina cubana conhecida por sua elegância e conforto, especialmente em climas quentes.
Questionado pelo Reset se esse seria o seu modelito para a COP, ele riu e disse que não. Em outra ocasião, ele anunciou que o dress code da conferência em Belém seria relaxado e que está será a COP sem gravata.
Adaptar é preciso: ciclone no Paraná
Dias antes do início da COP30, no Pará, um ciclone destruiu praticamente uma cidade inteira no Paraná. O evento extremo deixou ao menos seis mortos e cerca de mil pessoas desalojadas, segundo levantamento da Defesa Civil. A cidade atingida é Rio Bonito do Iguaçu, que tem 14 mil habitantes e fica a cerca de 400 km de Curitiba. Os ventos chegaram a 250 km/h.
“Parecia aquela cena do filme 2012, quando o mundo começa a acabar e as pessoas saem sem rumo porque não têm para onde ir”, contou ao Reset uma pessoa que estava de passagem pelo local. “Algumas carregavam familiares, outras estavam com fraturas expostas. Havia árvores e postes caídos por toda parte.”
O Corpo de Bombeiros informou não haver mais ninguém desaparecido ou preso em escombros neste sábado (8). Segundo o governo do Paraná, 750 pessoas ficaram feridas em todo o Estado. Outras 85 cidades do Sul e do Sudeste também foram afetadas pelos ventos e chuvas intensas.
Adaptação é um dos temas centrais da COP30. Políticas de adaptação são aquelas que reduzem danos de enchentes, secas, ondas de calor e doenças e envolvem cidades, infraestrutura, seguros, saúde e natureza.
Cúpula do metano
A presidência da COP30 junto com os governos do Brasil, China e Reino Unido organizaram neste domingo (9) em Belém uma cúpula para discutir caminhos para a redução do metano e outros gases de efeito estufa – que não o CO2. Esses gases têm maior impacto no aquecimento global do que o carbono, mas permanecem por menos tempo na atmosfera.
O objetivo é desacelerar as mudanças climáticas e gerar benefícios imediatos para a qualidade do ar, segurança alimentar e saúde pública. Para isso, a ideia é formar grupos nacionais para garantir ações contínuas dentro das instituições governamentais, como regulamentação alinhada, mitigação rápida e mercados mais justos.
A iniciativa pretende mobilizar US$ 150 milhões em um primeiro momento e implementar ações coordenadas de alto impacto, alinhadas às prioridades nacionais. Também participam representantes de Barbados, França, Alemanha, da Climate and Clean Air Coalition e da Bloomberg Philanthropies.