Backlash ao ESG: ameaça ou ponto de virada para investimento responsável? 

O ESG já esteve mais na moda. Investidores tinham orgulho de dizer que critérios ambientais, sociais e de governança eram levados em consideração na hora de tomar decisões. Empresas formaram comitês de diversidade e inclusão e passaram a servir café em copos de papel nos seus eventos corporativos. 

Mas a maré virou rápido e a oposição política ao termo se consolidou – em alguns lugares trazendo riscos jurídicos às empresas e investidores, caso dos Estados Unidos. O backlash (retaliação) ao ESG virou tema de preocupação no mundo das finanças sustentáveis.

“O termo ESG está sendo usado como uma arma, virou algo pejorativo e com isso perdemos confiança e cooperação”, disse Louise Davidson, CEO do Australian Council of Superannuation Investors (ACSI), organização que reúne gestoras australianas, durante o PRI in Person, evento organizado pelo Principles for Responsible Investment (PRI), em São Paulo.

O PRI é uma rede global de investidores cujos signatários contam com US$ 130 trilhões em ativos sob gestão. 

Para Davidson, essa reviravolta não trouxe nada de bom. Mas há quem ache que o declínio da sigla veio em boa hora.

“Tinha mais a ver com marketing do que com avaliação de riscos e oportunidades. O backlash está forçando as companhias a irem além do superficial e isso ajuda a combater o greenwashing”, disse Nina Roth, diretora de investimentos responsáveis da Columbia Threadneedle Investments, gestora com US$ 675 bilhões sob gestão.

Se as falas pareceram muito incisivas, cabe revisitar os acontecimentos recentes. Estados americanos como Oklahoma e Florida vem aprovando leis que punem ou dificultam o uso de critérios de sustentabilidade em investimentos estatais ou de fundos de pensão. 

O Texas chegou até mesmo a mirar as consultorias de voto, como ISS e Glass Lewis, com uma legislação que as torna vulneráveis a processos caso recomendem a seus clientes que votem contra as propostas da gestão, principalmente quando envolvem questões de sustentabilidade e diversidade. 

Com a lei, as consultorias ficam mais vulneráveis a processos caso recomendem votos contrários ao aumento de remuneração de executivos, por exemplo. Recentemente, o bilionário Elon Musk trocou suas companhias de jurisdição, reincorporando várias delas no Texas.

Em 2023, o CEO da Blackrock, maior gestora do mundo, disse que não usa mais a sigla porque ela teria sido manipulada tanto pela esquerda quanto pela direita. 

No setor financeiro, as alianças setoriais de descarbonização praticamente acabaram – ou pouco restaram de suas intenções iniciais. A Net-Zero Banking Alliance (NZBA), dos bancos, encerrou as atividades em setembro depois do êxodo de signatários, que deixaram o grupo temendo riscos regulatórios e de grupos anti-ESG.

Reconstruir reputação

Apesar da divergência acerca dos benefícios ou malefícios da decadência da sigla, houve convergência acerca da necessidade de reconstruir a reputação dos investimentos responsáveis em outro patamar. 

“Falávamos apenas com a elite institucional, precisamos sair dos conselhos de administração e conversar com os trabalhadores e as comunidades”, disse Ioannis Ioannou, professor de estratégia e empreendedorismo da London Business School.

Em diversos painéis do evento, que reuniu investidores institucionais e gestores de todo o mundo, ficou claro que eles vêm sendo exortados a criar pontes com interlocutores que antes não eram muito próximos, como governos, trabalhadores e comunidades. 

Parte disso se deve ao fato de que regulações cada vez mais responsabilizam gestores de investimento por crimes cometidos por suas investidas. Um exemplo é a diretiva da Comissão Europeia para responsabilidade corporativa (CSDDD), com foco em combater violações aos direitos humanos na cadeia de suprimentos, que, junto ao Modern Slavery Act do Reino Unido, foi bastante mencionada em debates sobre condições de trabalho dignas.

“Precisamos ter atitudes que sejam condizentes com o que o ESG propõe, ter uma narrativa sólida que esteja alinhada às questões fiduciárias”, disse Michael Garland, subcontrolador adjunto para governança corporativa e investimento responsável da cidade de Nova York. 

Será um desafio e tanto, afinal, o principal tema dessa edição do PRI in Person foi como conciliar esses princípios com o investimento crescente no setor de defesa – que envolve, entre outras coisas, armamentos.