Lula discursa na Cúpula dos Líderes

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o adiamento da adoção de uma taxa de carbono sobre o transporte marítimo internacional. Os Estados Unidos conseguiram barrar o acordo após fazer ameaças aos países que apoiassem a medida.

Sem mencionar o país ou o presidente americano, Donald Trump, Lula afirmou ser “lamentável que pressões e ameaças tenham levado a Organização Marítima Internacional a adiar esse passo”.

A declaração foi dada durante uma sessão temática sobre transição energética realizada na Cúpula dos Líderes, da COP30, na manhã desta sexta-feira (8). 

A medida buscava acelerar a substituição do petróleo como principal combustível da navegação e estimular o uso de alternativas mais limpas, como a amônia verde.

A expectativa é que ela fosse adotada no mês passado, em reunião da Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês). Por pressão americana, o assunto foi adiado para o próximo ano.

Com a taxa sobre a navegação, a estimativa era arrecadar cerca de US$ 10 bilhões anuais para compensar 1 bilhão de toneladas de emissões de gases estufa lançados por grandes navios de carga e de passageiros.

Trump ameaçou retaliações, incluindo tarifas portuárias, restrições de visto para tripulações marítimas e sanções a funcionários dos países favoráveis à iniciativa de descarbonização. 

Na noite anterior à votação, ele publicou em sua rede social, a Truth Social, que os EUA não iriam tolerar “este novo imposto global e fraudulento sobre o transporte marítimo” e conclamou outros países a votarem contra.

Contradições

“2024 registrou novo recorde de emissões de carbono do setor energético, o maior índice desde 1957. Os incentivos financeiros muitas vezes vão no sentido contrário ao da sustentabilidade. No ano passado, os 65 maiores bancos do mundo se comprometeram a conceder 869 bilhões de dólares para o setor de petróleo e gás”, disse Lula durante a abertura da sessão sobre transição energética. 

As críticas aos incentivos para fontes de energia poluentes contrastam com a decisão do governo federal de lançar um leilão de reserva de capacidade, em julho, apenas para contratação de carvão e gás.

A exclusão de biocombustíveis e armazenamento em baterias gerou críticas do setor privado e da sociedade civil. O Ministério de Minas e Energia, então, afirmou que iria acelerar a construção de um edital para as baterias até dezembro de 2025.

Transição energética

O presidente Lula afirmou que o Brasil “não tem medo de discutir a transição energética”, pois lidera a área há décadas. Ele pontuou que, ainda nos anos 1970, o país iniciou investimentos em larga escala nas alternativas renováveis.

“90% da matriz elétrica nacional provém de fontes limpas. Somos pioneiros no desenvolvimento de motores flexíveis e o segundo maior produtor mundial de biocombustíveis.Nossa gasolina tem 30% de etanol em sua composição e nosso diesel conta com 15% de biodiesel. O etanol é uma alternativa eficaz e imediatamente disponível para adoção nos setores mais desafiadores, como a indústria e os transportes”.

Ele voltou a usar o termo “mapa do caminho” para falar da necessidade de se afastar dos combustíveis fósseis, repetindo um dos temas centrais do discurso de abertura da Cúpula. De acordo com Lula, são três os passos fundamentais. 

O primeiro é implementar o acordo de Dubai de triplicar a energia renovável e de dobrar a eficiência energética até 2030. O segundo seria colocar a eliminação da pobreza energética no centro do debate e incluir metas de cocção limpa e de acesso à eletricidade nos planos climáticos nacionais.

Por fim, o último ponto seria aderir ao Compromisso de Belém para quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035 e acelerar a descarbonização dos setores mais desafiadores.