Courageous Land soma 250 mil hectares em plataforma de IA (inteligência agroflorestal)

A Courageous Land, uma startup brasileira, alcançou 750 fazendas cadastradas em sua plataforma de inteligência agroflorestal, somando 250 mil hectares. O sistema também contabiliza 1 milhão de créditos de carbono, que estão em negociação.

A empresa criou um modelo que une tecnologia e consultoria para transformar terras degradadas em fazendas que adotam sistemas agroflorestais, ou SAF, como são conhecidas as técnicas produtivas que combinam culturas de valor comercial com reflorestamento usando espécies nativas.

Lançada no ano passado, a plataforma usa as coordenadas georreferenciadas de uma propriedade rural em qualquer parte do país para identificar os melhores produtos e as árvores mais indicadas para plantio naquela região. 

A startup também estima quantos créditos de carbono podem ser gerados pela atividade de reflorestamento. 

Agora, o software conta com novas funcionalidades para ajudar o produtor no planejamento e na gestão das agroflorestas. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (5) no evento “Courageous Land Pré-COP30”, que reuniu produtores, empresas e ONGs em São Paulo. 

Do outro lado da equação, a plataforma de IA (inteligência agroflorestal) da startup conecta os proprietários das terras com investidores e empresas interessadas em soluções agroflorestais. Um exemplo é a Ambev, que depende de recursos hídricos para a produção de cervejas, águas e outras bebidas. 

A transformação de pastos em áreas agroflorestais pode ajudar o solo a reter até 12 milhões de litros de água por ano, estima Philip Kauders, um americano que mora no Brasil há 12 anos e é co-fundador e CEO da Courageous Land. 

“Isso desperta o interesse de grandes empresas [como a Ambev], que dependem de muita água para suas operações e enxergam o potencial desses projetos”, diz Kauders. 

As agroflorestas também geram renda com a venda dos cultivos. Um dos contratos firmados é a venda de café para a Eleva Finca, marca que conecta pequenos e médios cafeicultores da América Latina a compradores internacionais interessados em grãos rastreáveis e produzidos com técnicas sustentáveis. 

Do solo ao lucro

Na nova versão do software, que funciona inteiramente online,  o produtor pode acompanhar em tempo real o desenvolvimento do projeto de transformação das suas terras, com painéis de controle financeiros e operacionais.

Uma das novidades é que o sistema cruza informações climáticas e de solo para projetar a viabilidade das espécies até 2040.

“O diagnóstico mostra quais cultivos continuarão viáveis mesmo com as mudanças climáticas. O produtor entende o potencial de sua terra e pode planejar financeiramente sua transição para a agrofloresta”, explica Kauders.

Com esse diagnóstico, é possível visualizar custos, necessidade de insumos, mão de obra e retorno esperado, por meio de estimativas de receita. 

A Courageous Land também conta com equipes técnicas que apoiam o dono da terra na implementação dos projetos. Segundo Kauders, a ideia é expandir essa rede de profissionais para atender de forma mais próxima e adaptada às diferentes regiões do país.

O modelo de negócios da empresa envolve financiar a transição das fazendas com um pool de capital levantado junto a fundos de private equity, bancos de desenvolvimento e fundos filantrópicos. 

Em troca, a startup recebe pagamento pelo uso do software (que também funciona como ferramenta de gestão para o produtor), participação na venda dos produtos agroflorestais e direitos integrais sobre os créditos de carbono gerados. 

A plataforma já levantou capital de family offices, fundos de venture capital e filantropia. Entre os parceiros estão o Fundo Vale e a Corquise, da Holanda, e fundos de venture capital como The Yield Lab, Seed Stars e K50.

Kauders não divulga o total já levantado pela companhia para efetivamente começar a transformação nas fazendas. 

Para ele, há uma demanda crescente por agroflorestas “por parte de investidores e compradores que querem apoiar esses projetos e das próprias fazendas”. 

“As agroflorestas não são apenas uma solução para combater as mudanças climáticas, mas também uma forma de se preparar para elas. Elas criam microclimas que protegem as lavouras dos extremos e aumentam a renda dos produtores”, afirma Kauders.