Na COP30, Natura quer mostrar que regeneração é oportunidade de negócio

A ucuuba é uma árvore amazônica que pode chegar a 60 metros, cuja madeira costumava ser vendida para virar cabo de vassoura. Até que os moradores de Abaetetuba , cidade no interior do Pará, redescobriram o potencial de suas sementes – dentro delas há um óleo altamente hidratante e aromático. 

Este conhecimento ancestral foi recuperado por estudos realizados pela Natura, que há 25 anos chegou à Amazônia com um modelo de negócio que potencializa a conservação e regeneração do meio ambiente, ao mesmo tempo que fomenta o desenvolvimento social.

Desde que a empresa passou a comprar as sementes de ucuuba, a renda dos ribeirinhos aumentou cerca de três vezes, sem derrubar árvores, mantendo a floresta em pé. 

A ucuuba é apenas um dos 46 ativos da biodiversidade da região, inicialmente da linha Ekos, lançada em 2000, e hoje presentes em mais da metade de todo o portfólio da Natura. E um dos muitos exemplos de como a empresa associa com sucesso seu negócio – e o crescimento dele – ao impacto positivo que gera no planeta e na sociedade. 

A sustentabilidade sempre esteve no centro do modelo da companhia, que este ano deu um passo além: lançou como estratégia o compromisso de ser uma empresa regenerativa. A Natura quer que seu negócio, em sua totalidade, alimente de modo contínuo a natureza, as comunidades, as pessoas e as relações entre elas.

Rumo a Belém

A  empresa, que é líder do setor de beleza e cuidados pessoais na América Latina, mostra que seu modelo escalável de bioeconomia regenerativa é possível, e lucrativo. E um dos seis eixos principais da agenda de ação da COP30, a primeira conferência do clima realizada no Brasil, está exatamente relacionado ao tema (o eixo Gestão Sustentável de Florestas, Oceanos e Biodiversidade). 

“Por ser uma COP na Amazônia, a agenda de biodiversidade ganhará espaço junto às questões climáticas”, diz Ângela Pinhati, diretora de sustentabilidade da Natura. “E esse assunto traz também temas sociais, como a geração de renda para as comunidades impactadas e, consequentemente, o desenvolvimento do país.”

Nisso a empresa brasileira tem muito a compartilhar. E estará em Belém com suas soluções para mitigação climática, proteção da biodiversidade, inclusão social e financiamento verde. “A nossa visão é transformar desafios socioambientais em oportunidades de negócios”, diz Pinhati. 

E bons negócios. Segundo estudos do Fórum Mundial de Bioeconomia, o valor total da bioeconomia deve atingir US$ 30 trilhões até 2050. E é fundamental que ela seja “equitativa, regeneradora da biodiversidade, que apoie a ação climática e que facilite a transição sustentável da economia real”, defende o relatório “A Bioeconomia Global”, elaborado pela NatureFinance e pela Fundação Getúlio Vargas para a Iniciativa de Bioeconomia do G20.

Na COP30, além de participar de eventos com diferentes parceiros globais, a Natura é cofundadora da C.A.S.E. (Climate Action Solutions & Engagement), uma coalizão de empresas que compartilham iniciativas práticas capazes de escalar impacto e influenciar políticas públicas para a agenda do clima. Bradesco, Itaúsa, Itaú Unibanco, Marcopolo, Nestlé e Vale são as parceiras do projeto. 

“Queremos mostrar que a Amazônia não é um problema a ser resolvido, é uma solução a ser cultivada”, diz Pinhati. “E nós, brasileiros, temos tecnologia para fazer isso acontecer.”

Em Belém, a empresa também é mantenedora e parceira estratégica do Parque de Bioeconomia do Pará, inaugurado em outubro para a COP30 e construído para ser o mais importante polo de inovação em bioeconomia florestal do Brasil. O espaço será mantido após a conferência e a Natura anunciou um investimento de R$5 milhões ao longo de três anos para apoiar o complexo pioneiro. 

A iniciativa reforça o papel fundamental da sociobioeconomia como solução integradora diante da crise climática e da perda de biodiversidade. “Para cada R$1 de receita líquida, a Natura gera R$ 2,5 de receita para pessoas e para o planeta”, diz Pinhati. “Soluções baseadas na natureza dão resultados efetivos e mudam o cenário de enfrentamento às mudanças climáticas.”

Menos emissões, mais ganho social

Uma das soluções que a Natura levará à conferência é a implantação de agroindústrias nas comunidades, com mão-de-obra local. Elas ajudam a equacionar um grande problema: o aumento considerável de emissões, com o transporte de insumos até  outros centros urbanos mais distantes, ao mesmo tempo em que qualificam as pessoas e agrega valor ao fornecimento da comunidade. 

Já são 21 fábricas em funcionamento no Brasil, sendo 19 delas na Amazônia, onde são extraídos óleos, manteigas e óleos essenciais. Além do impacto ambiental, a iniciativa escalável aumenta a renda dos trabalhadores em cerca de 60% e transforma atividades sazonais em contínuas.

O destino de muitos desses insumos é o Natura Ecoparque, em Benevides, no Pará, a 35 quilômetros de Belém. Inaugurado em 2014, o espaço é responsável por 94% do volume total de sabonetes vendidos pelo grupo – de lá saem 1 milhão de pastilhas do produto por dia. 

Além de instalações totalmente voltadas para a sustentabilidade, o parque oferece espaço para empresas que queiram atuar com sociobioeconomia. Em fevereiro, foi inaugurada ali uma fábrica de embalagens, a Ecoprint, uma parceria da Natura com a gaúcha Box Print. Em modelo de simbiose industrial (colaboração entre empresas), são reaproveitados resíduos da produção em novas embalagens. 

O modelo já havia sido testado com a alemã Symrise, que desde 2015 utiliza resíduos em uma fábrica de manteiga e óleos essenciais. A idéia, agora, é aproveitar a COP30 para atrair novas vizinhas. “O fundamental é que sejam companhias que compartilham de nossos valores”, diz Pinhati. Para quem quiser conhecer de perto a atuação das comunidades e do Ecoparque, a Natura disponibiliza um programa de visitas durante a COP30, com participação mediante inscrição. 

Finanças verdes

Como não existe transição climática sem capital, a Natura pretende aproveitar a conferência da ONU para compartilhar soluções para obtenção de crédito para comunidades e para escalar soluções. 

No ano passado, a empresa concluiu uma captação de R$ 1,3 bilhão em debêntures com metas atreladas à sustentabilidade. Debêntures, ou green bonds, são títulos de dívida das empresas emitidos para financiar projetos sustentáveis – no caso da Natura, principalmente relacionados à bioeconomia da Amazônia. E aumentam ainda mais o alinhamento da companhia com suas metas de regeneração.

Outra solução financeira do qual a Natura faz parte é o Amazônia Viva, mecanismo de financiamento híbrido, o chamado blended finance, que busca resolver um problema típico dos financiamentos da região: eles precisam ter juros baixos, longo prazo de pagamento e garantias não-predatórias. O programa já mobilizou cerca de R$ 26 milhões e teve 100% de adimplência dos tomadores de crédito nas comunidades. “Isto prova como a sociobioeconomia é viável e escalável para a Natura e para outros setores”.