AMAZÔNIA

Com Mercedes e Mitsui, Hydro aporta R$ 100 mi em corredor agroecológico no Pará

Objetivo é recuperar vegetação nativa e incentivar bioeconomia em torno de mineroduto; empresa aposta na filantropia para se reaproximar de comunidades após desastres ambientais

Alunorte, da Hydro, no Pará

Nova York – A Mercedes-Benz e a Mitsui são as duas novas parceiras financeiras da mineradora Hydro no programa Corredor, que irá aportar R$ 100 milhões de reais ao longo de dez anos para iniciativas de bioeconomia no Pará. O anúncio foi feito durante a Semana do Clima de Nova York.

O projeto será realizado nos sete municípios pelos quais passa o mineroduto da empresa, entre Barcarena e Paragominas. A Belterra, startup que restaura áreas degradadas combinando vegetação nativa e produtos agrícolas de valor comercial, entrará com o capital técnico.  O plano é aumentar o investimento à medida que novos parceiros surgirem, com potencial de chegar a R$ 30 milhões anuais.

O objetivo da iniciativa é o aumento da capacidade agrícola na região. A Hydro mapeou 28 comunidades quilombolas que serão beneficiadas. “A ideia é ser uma aceleradora de cooperativas que podem se tornar fornecedoras de grandes empresas”, diz Eduardo Figueiredo, vice-presidente sênior de sustentabilidade da Hydro. O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o Centro de Empreendedorismo da Amazônia e o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia também foram anunciados como parceiros.

Marcelo Pereti, CFO da Belterra, afirma que o projeto tem alto potencial de geração de empregos, desde a produção agrícola sustentável até ocupações de caráter mais técnico, relacionados a monitoramento, relato e verificação (MRV).

“O objetivo é o desenvolvimento territorial por meio da restauração produtiva da região, aumentando a renda dos produtores locais, com rastreabilidade para o cacau, açaí, dendê e créditos de carbono”, diz.

O programa abrange uma área equivalente ao território da Suíça, com 650.000 habitantes e 2 milhões de hectares de floresta tropical de alta biodiversidade. Segundo a Hydro, as prioridades para os usos dos recursos serão definidas pelas próprias comunidades. É uma tentativa da empresa de se reaproximar das comunidades locais, uma relação que foi se deteriorando ao longo dos anos por conta de uma série de denúncias ambientais contra a companhia. 

Remediando o passado

Fundada em 1905, na Noruega, a Hydro comprou em 2011 os antigos ativos da Vale nas áreas de bauxita, alumina e alumínio. A Alunorte, planta da empresa no município de Barcarena (foto), região metropolitana de Belém, é a maior refinaria de alumínio do mundo fora da China – e a maior consumidora individual de gás natural do Brasil. Já a unidade de Paragominas é a maior consumidora individual de energia do país.

O momento mais tenso da atuação da empresa no Pará se deu em fevereiro de 2018, quando fortes chuvas causaram alagamentos na região metropolitana de Belém, gerando uma grande quantidade de lama vermelha na planta da empresa em Barcarena.

O caso desencadeou uma série de denúncias contra a Hydro. À época, o Instituto Evandro Chagas, do Ministério da Saúde, constatou vazamentos de rejeitos tóxicos de mineração, contaminando rios utilizados pela população de Barcarena. Além disso, a empresa admitiu a existência de uma tubulação clandestina de lançamento de efluentes não-tratados no rio.

As denúncias escalaram, culminando em uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembleia Legislativa do Pará e um termo de ajustamento de conduta do Ministério Público no valor de R$ 150 milhões de reais. 

Mais tarde, em 2021, também houve um processo no Tribunal de Roterdã, na Holanda. Na ocasião, a Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia (Cainquiama) alegou danos à saúde e impactos financeiros decorrentes da atividade da empresa. A ação, que elencou diversos danos que a Alunorte teria causado na região desde 2002, foi julgada como improcedente nesta quarta-feira (24). 

Desde então, a empresa tem aportado recursos de caráter filantrópico no Pará. Desde o caso de 2018, foram R$ 260 milhões investidos em ações socioambientais, segundo a empresa. Há ainda parcerias com o governo estadual, como o Usinas da Paz, conjunto de centros sociais em comunidades vulneráveis. A empresa também tem investido em publicidade com rostos conhecidos, como o da cantora Fafá de Belém, surfando na onda da COP30, que ocorrerá em Belém em novembro.

Descarbonização

O alumínio é considerado uma das indústrias de mais difícil descarbonização. Na Hydro, R$ 12,6 bilhões foram investidos desde 2022 com o objetivo de reduzir as emissões. Entre as iniciativas, está a substituição do óleo diesel por gás natural nas caldeiras, além do uso de biomassa de caroço de açaí, similar ao modelo que a Votorantim Cimentos também utiliza no Pará. Hoje, a empresa tem uma média de 4 toneladas de CO2 emitidas por quilo de alumínio produzido, enquanto a média global gira em torno de 16 toneladas.

“Não apostamos em offset de carbono. Nossa estratégia é reduzir as emissões no produto sempre, o que gera um prêmio verde inclusive pela qualidade da matéria-prima”, afirma Figueiredo. 
* O jornalista viajou a convite da Hydro