
Nos últimos dez anos, 94% dos municípios brasileiros declararam estado de emergência ou de calamidade devido a eventos climáticos, segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Esse cenário resultou em prejuízos que somaram R$ 327 bilhões – só nas enchentes do ano passado no Rio Grande do Sul, foram cerca de R$ 100 bilhões, com apenas 6% cobertos por seguros. Os dados são da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg).
Para Dyogo Oliveira, presidente da CNseg, esta lacuna na cobertura de eventos climáticos é uma das grandes oportunidades para o setor nos próximos anos, mas não a única. “Os eventos não afetam apenas o volume das indenizações pagas, mas toda a natureza do setor de seguros”, afirma Oliveira.
Para discutir e construir a muitas mãos este caminho, com novas soluções e produtos capazes de atuar como instrumentos de resiliência, tanto para a sociedade quanto para negócios, a CNseg terá durante a COP 30, em Belém, a Casa do Seguro, um hub de conteúdo, diálogo e articulação para posicionar o mercado segurador nas discussões do clima.
Instalado em um pavilhão de 1.600 m², a poucos metros do hub principal da conferência da ONU, o espaço receberá entre 10 e 21 de novembro autoridades governamentais, líderes empresariais e representantes de organizações internacionais e estrangeiras para diversos painéis, trocas de experiências e negociações. Esse projeto se viabilizou com a parceria de nove seguradoras que atuarão como empoderadoras – Allianz, AXA, BB Seguros, Bradesco Seguros, MAPFRE, Marsh McLennan, Porto, Prudential e Tokio Marine.
O futuro não é mais como era antigamente
Para Oliveira, um dos maiores desafios das seguradoras com a nova realidade climática é a remodelagem das análises de riscos. Tradicionalmente baseada em históricos e no passado, ela precisa mudar. “O cenário atual não se comporta mais como antes, então não adianta mais olhar para trás para prever riscos futuros.”
Claudia Prates, diretora de sustentabilidade da CNseg, destaca o papel duplo do setor na transição. “O setor segurador é extremamente impactado pelas mudanças climáticas, porque cobre risco. Ao mesmo tempo, ele também é provedor de soluções, para cobrir prejuízos causados por catástrofes e na mitigação de novos eventos”, ela diz.
Prates ressalta a importância de assegurar tecnologias e infraestrutura fundamentais à transição: “Ter cobertura para eventos adversos dá mais segurança e resiliência aos projetos. As soluções baseadas na natureza, por exemplo, como reflorestamento e agricultura regenerativa, precisam contar com seguros específicos contra queimadas, inundações, pragas, para o maquinário”.
Seguro social e setor público
Há cerca de cinco anos, a CNseg, representante do setor securitário, tem se dedicado com mais foco à transição climática, com participação na COP de Dubai, em 2023, e de Baku, em 2024, e por meio de parcerias e trocas com associações e empresas de seguro de países como a França e o Reino Unido.
Esta construção da nova realidade do setor ganha um forte aliado, um hub de inteligência climática, com mecanismos para fortalecer o conhecimento e entendimento dos incidentes e riscos climáticos, para que as seguradoras possam cada vez mais desenvolver produtos mais adequados às novas necessidades do mercado.
O setor público, levanta Oliveira, ainda demanda atenção especial. “Atualmente, ele não tem seguro algum. Não há seguro para a infraestrutura do Estado, para escolas e hospitais públicos, e mais, ou igualmente grave, não existe qualquer proteção para a sociedade”, explica o presidente da CNseg.
Países como México, Peru e Chile já têm programas que vêm sendo implementados neste sentido, para proteger os cidadãos em caso de incidentes climáticos. A CNseg já apresentou ao governo brasileiro o projeto do seguro social de catástrofe. “Ele é apenas uma das inúmeras maneiras que o setor tem hoje como instrumento de resiliência da sociedade e dos negócios.”
O secretário nacional de mudança do clima do Ministério do Meio Ambiente, Aloisio Lopes de Melo, reforça a necessidade de mais instrumentos para lidar com os impactos das mudanças climáticas. “O desenvolvimento de produtos de seguro é uma área de desenvolvimento importante no conjunto do pacote de instrumentos necessários para que a gente possa lidar melhor com os impactos, minimizar os seus efeitos sobre infraestrutura, sobre a economia e sobre as comunidades”, diz o secretário.
Pré-COP: aquecendo o debate
No dia 8 de outubro, em Brasília, a CNseg promove um dia de conversas e trocas sobre a estratégia do mercado de seguros brasileiro frente às mudanças climáticas. O encontro reunirá autoridades, parlamentares, líderes do setor e representantes do terceiro setor adiantarão os temas que serão os eixos centrais e que guiarão os debates na Casa do Seguro, em Belém:
- Proteção social e dos investimentos
- Finanças sustentáveis
- Infraestrutura resiliente
- Inteligência climática
- Seguros & agronegócio
- Descarbonização da frota brasileira
- Como os seguros podem auxiliar no desenvolvimento industrial mais sustentável
As inscrições para o evento, que acontece das 14h às 18h30, estão abertas e são gratuitas.