TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Políticas de Trump já elevaram emissões globais e ameaçam meta de 1,5ºC

Previsão é de que ritmo de redução das emissões dos EUA visto nas últimas duas décadas caia pela metade, segundo estudo 

Políticas de Trump já elevaram emissões globais e ameaçam meta de 1,5ºC

O abandono das políticas climáticas desde o início do governo de Donald Trump já aumentaram as emissões globais de gases de efeito estufa no primeiro semestre deste ano. E a previsão é de que corte pela metade a contribuição dos Estados Unidos no esforço de descarbonização do mundo, tornando ainda mais difícil que se alcance a meta de limitar o aquecimento global em 1,5ºC. 

As emissões globais nos primeiros seis meses de 2025 foram de 31 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente, segundo a Climate Trace, organização sem fins lucrativos apoiada por Al Gore. O volume foi 0,13% maior do que no mesmo período do ano anterior.

Os combustíveis fósseis foram o principal impulsionador do crescimento, e os EUA os responsáveis ​​por mais da metade desse aumento. As emissões do país cresceram 1,4% no período – as do Brasil, 1,2%.

Esse dado indica uma inversão de trajetória. Os Estados Unidos mostraram uma redução média anual de emissões de 1,1% entre 2005 e 2024, segundo a Rhodium Group, organização independente de pesquisa especializada em análise de políticas públicas e econômicas. 

Segundo um novo cálculo, esse ritmo deve cair pela metade nos próximos 15 anos. A previsão é de redução média anual de 0,4% até 2040. O motivo é o desmantelamento das políticas climáticas, muitas delas instituídas na gestão passada.

Medidas centrais do mega pacote verde aprovado por Joe Biden estão sendo derrubadas por Trump. O presidente americano já classificou de “farsa” a mudança climática. 

A Rhodium prevê que as emissões anuais dos EUA caiam entre 26% e 35% até 2035 nessas condições, uma mudança significativa em relação à estimativa do ano passado, de cortes entre 38% e 56%, durante o governo de Joe Biden.

“Os primeiros sete meses do segundo governo Trump e do 119º Congresso testemunharam a mudança mais abrupta nas políticas de energia e clima na memória recente”, afirmaram pesquisadores da Rhodium em relatório divulgado nesta quarta-feira (10). 

“Após o governo Biden ter adotado políticas significativas para impulsionar a descarbonização, o Congresso e a Casa Branca estão agora implementando um regime de políticas abertamente hostil à energia eólica, solar e aos veículos elétricos, buscando promover o aumento da produção e do uso de combustíveis fósseis.”

O relatório atribui as mudanças de previsão ao corte, por Trump, de créditos fiscais para energia renovável, à criação de incentivos ao setor de combustíveis fósseis e ao aumento da demanda por eletricidade devido à inteligência artificial.

Os setores de energia, transporte e remoção de carbono são os que mais contribuem para a diminuição das emissões em todos os cenários da Rhodium.

1,5ºC mais distante?

Nenhum desses cenários será suficiente para que os EUA, o maior emissor de carbono em termos históricos, ajude o mundo a evitar um colapso climático causado por um aquecimento global superior a 1,5ºC, segundo o jornal The Guardian.

“Com o segundo maior emissor do mundo [hoje] se recusando a acelerar a ação, o mundo terá muito mais dificuldade em evitar mudanças climáticas perigosas que prejudicarão os meios de subsistência nos EUA e em todo o mundo”, disse Bob Ward, diretor de política climática da London School of Economics and Political Science, ao Financial Times. 

Sob o slogan “drill, baby, drill” de Trump, o governo americano abriu novas áreas de exploração de petróleo, gás e carvão, abandonou o Acordo de Paris e reverteu boa parte das regulações que limitam a emissão de gases de efeito estufa.

Pouco antes de deixar a Casa Branca, Joe Biden anunciou novos compromissos climáticos dos Estados Unidos: meta de redução de emissões entre 61% e 66% em 2035, na comparação com 2005.

A Rhodium estima que as emissões dos EUA podem voltar a crescer novamente no fim da década de 2030 se as políticas que incentivam a transição do gás natural e do carvão para energias renováveis ​​não forem restauradas. Seria o primeiro aumento desde 2007. 

Neste cenário, os EUA emitiriam 1,3 gigatoneladas extras de carbono equivalente estufa até 2035, equivalente às emissões do Texas, Califórnia e Michigan juntos no ano passado.