O consórcio de agricultura regenerativa Reg.IA, formado por Agrivalle, Bayer, BRF, Gapes, Milhão Ingredients e Produzindo Certo, divulgou na segunda-feira (8) os resultados do seu primeiro ano de operação. Foram 149 mil toneladas de soja, cultivadas em 36,6 mil hectares de 38 propriedades, com produtividade média de 4 toneladas por hectare.
É um número 14,3% maior do que a média nacional brasileira em 2024, que ficou em 3,5 toneladas de soja por hectare, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento. Esta é uma boa notícia para o setor porque o retorno financeiro é um dos desafios para o modelo regenerativo ganhar escala. Além de maior produtividade, há outro incentivo para o bolso do produtor: empresas do consórcio pagam 2% de “prêmio” sobre o valor da saca a quem adere ao protocolo, pelos atributos de sustentabilidade.
Os números preliminares do projeto-piloto já sinalizavam um resultado positivo. Para Aline Locks, CEO da Produzindo Certo, a consolidação dos dados da primeira safra mostra que os empreendedores rurais brasileiros estão prontos para entregar produtos mais sustentáveis.
“Agora é hora de ver o tamanho real da demanda do mercado, ver quanto e como isso será absorvido. Mas isso precisa vir acompanhado da valorização das práticas”, diz.
A área produtiva total das 38 propriedades parceiras do consórcio é de 112.150 hectares. Deste total, 37.257 são dedicados à agricultura regenerativa, o equivalente a 33,2%. Como é um mercado novo, a maioria dos produtores prefere se comprometer com alguns talhões da fazenda em vez de aplicar as práticas em toda a propriedade. A meta para a segunda safra é dobrar o número de propriedades, segundo Locks.
Plantio direto
A agricultura regenerativa é um modelo de produção baseado no bom manejo da terra, para que ela fique mais saudável e mais produtiva por mais tempo. A agricultura é a única atividade econômica que, além de emitir carbono, é capaz de capturá-lo e estocá-lo no solo – desde que haja, claro, as boas práticas de manejo. Quanto mais saudável e regenerado for o solo, mais carbono ele estoca, o que é valioso para as metas de descarbonização do setor agrícola.
Locks afirma que o programa não mede o custo de implementação das práticas de agricultura regenerativa, mas que estudos apontam um investimento entre R$ 500 e R$ 3.000 por hectare.
O protocolo da Reg.IA obriga produtores a adotar o sistema de plantio direto. É uma técnica de manejo na qual espécies que deixam o solo mais nutrido e úmido são cultivadas e geram uma palha residual, que cobre o terreno. Na sequência, novas sementes – no caso do programa, de soja e milho – são colocadas na terra sem o preparo convencional, como aração e gradagem.
Além do plantio direto, o produtor deve escolher pelo menos mais uma prática sustentável entre as seguintes opções: adubação orgânica, uso de defensivos biológicos, redução do uso de defensivos químicos ou rotação de cultura, que é a variação de cultivo de espécies em uma área.
O consórcio também divulgou os resultados do milho regenerativo no primeiro ano de operação: 9,2 mil toneladas, uma produtividade de 14,59 toneladas por hectare. A expectativa é chegar a 240 mil toneladas até o fim da safra 24/25.
A pegada de carbono do cultivo regenerativo do consórcio foi 66% menor para a soja e 82% menor para o milho, considerando as médias nacionais. Os cálculos são da calculadora Footprint PRO Carbono, desenvolvida pela Bayer em parceria com a Embrapa.
A pegada média de carbono foi de 510,58 quilos de CO2 por tonelada, com estoque de carbono no solo de 73,5 toneladas por hectare, segundo resultado das análises realizadas pela ConnectFarm. “O comprador leva junto esse laudo com o cálculo da menor pegada de carbono”, pontua Locks.
Rochas como aliadas
A Reg.IA fechou uma parceria com a InPlanet, startup de origem brasileira e alemã que utiliza remineralizadores para restaurar solos tropicais e remover carbono da atmosfera. É o chamado intemperismo acelerado de rochas, a reação entre água, CO2 e minerais capaz de remover carbono da atmosfera de forma permanente e renovar solos tropicais.
Ao aplicar rochas moídas no solo, a InPlanet acelera um processo natural de formação de bicarbonato no lixiviado do solo. Esse bicarbonato é transportado por rios e aquíferos até o mar, onde permanece armazenado com segurança nos oceanos por mais de 10 mil anos.
“Além da remoção de carbono, restauramos a saúde do solo, aumentamos sua capacidade de retenção de água e ajudamos o agricultor a reduzir o uso de insumos convencionais”, destaca Niklas Kluger, diretor de operações e cofundador da InPlanet.
Com isso, a startup poderá desenvolver, no futuro, projetos de geração de créditos de carbono nas propriedades parceiras do Reg.IA.
A InPlanet emitiu e vendeu recentemente seus primeiros créditos de um projeto na cidade de Rio Claro, interior de São Paulo. Foram 235 toneladas de carbono removidas, das quais 90 foram entregues à empresa de tecnologia holandesa Adyen por um preço de US$ 200 a US$ 300. Os créditos foram auditados pela Eco Engineers.
Fundada pelos alemães Felix Harteneck e Niklas Kluger, a InPlanet desenvolveu uma metodologia a quatro mãos para gerar os créditos com a Isometric, uma plataforma inglesa de registro de remoção de carbono que tem entre seus clientes grandes compradores de créditos de carbono, como Frontier, Google e Microsoft.
O consórcio também anunciou uma parceria com a ProForest, organização sem fins lucrativos, com foco na construção de governança, comunicação e boas práticas.