UM CONTEÚDO SANTANDER

Do potencial à realidade: a restauração florestal como uma classe de ativo

Brasil pavimenta o caminho para se tornar líder no mercado de créditos de carbono de restauração florestal

Conteúdo de marca

Santander
Do potencial à realidade: a restauração florestal como uma classe de ativo

O Brasil concentra a maior oportunidade global em um dos segmentos mais promissores e ainda pouco explorados do mercado de créditos de carbono: a restauração de florestas tropicais. Com dezenas de milhões de hectares de terras aptas à recuperação a baixo custo — área equivalente ao território da França — o país possui ativos naturais e financeiros para liderar.

São áreas degradadas, com pouco ou nenhum uso econômico, que podem gerar carbono, alimentos, biomateriais e bioenergia, contribuindo para a segurança climática, alimentar e energética. Um estudo recente da Orbitas estima um potencial econômico de até US$ 141 bilhões até 2050 para projetos de restauração no Brasil.

A remoção de carbono por meio da restauração florestal se destaca frente a outras tecnologias pela escala, maturidade técnica e custos competitivos em diversas modalidades. Outras soluções de remoção são relevantes no portfólio climático, mas ainda apresentam custos elevados e desafios operacionais e técnicos. Por isso, a restauração é crítica para a descarbonização da economia nesta década.

Além dos benefícios climáticos, a restauração regenera biodiversidade, protege solos e mananciais e gera empregos nas zonas rurais. Um estudo do BID Invest com a The Nature Conservancy estima que restaurar 2,7 milhões de hectares prioritários na Amazônia Legal exigiria US$ 12,9 bilhões e criaria em média 0,42 emprego direto por hectare — entre 20 e 80 vezes mais do que os usos predominantes da terra no país.

Desafios para a escala

Transformar esse potencial em realidade depende de converter os créditos de carbono de restauração em uma nova classe de ativos, com fluxos de receita previsíveis, governança sólida e infraestrutura financeira capaz de atrair grandes volumes de capital institucional.

Para isso, é preciso fortalecer a demanda, aprimorar o arcabouço regulatório, mitigar riscos e alinhar fontes de capital à fase de escala do setor. Isso inclui padronização e volume em contratos de offtake, políticas que ampliem a base de compradores, inclusive por instrumentos internacionais como o Artigo 6 do Acordo de Paris e o CORSIA, mecanismos acessíveis de mitigação de risco, como seguros, hedge cambial e garantias, além de veículos financeiros escaláveis.

O Brasil já aplicou com sucesso essa lógica em concessões de infraestrutura e leilões de energia renovável, garantindo demanda, reduzindo risco e atraindo capital.

Momentum crescente

A boa notícia é que o cenário é promissor. Nos últimos cinco anos, surgiram empresas capitalizadas, inovações financeiras, fundos especializados, alianças empresariais e incentivos públicos. Um exemplo é a linha de financiamento misto do programa Eco Invest Brasil, voltada à restauração de pastagens degradadas com modelos produtivos e ecológicos diversos. Lançada em agosto de 2025, a iniciativa tem potencial de destravar R$ 31 bilhões em investimentos totais até 2027 e mira até 1,4 milhão de hectares restaurados, com recursos do Fundo Clima reforçados por Títulos Soberanos Sustentáveis.

Outro marco é o ProFloresta+, parceria entre Petrobras e BNDES, que combina compra antecipada e a preço pré-fixado de créditos de restauração com espécies nativas, padronização contratual e acesso a crédito estruturado. O programa cobre até 50 mil hectares na Amazônia, e a primeira etapa de 15 mil hectares deve mobilizar mais de R$ 450 milhões.

Também avançam alianças pré-competitivas que buscam compartilhar informações, remover gargalos e dar visibilidade e credibilidade ao mercado, como o Nature Investment Lab e a Brazil NbS Investment Collaborative. Esses esforços ajudam a consolidar padrões, reduzir riscos e atrair offtakers e financiadores para soluções baseadas na natureza.

No plano internacional, destaca-se a Symbiosis Coalition, que reúne as big techs Microsoft, Google, Meta e Salesforce, além da consultoria McKinsey, no primeiro e maior compromisso antecipado de mercado (AMC) para créditos de remoção baseados na natureza. O grupo pretende adquirir, até 2030, 20 milhões de toneladas de créditos de restauração de alta integridade, com preço definido e contratos de longo prazo, garantindo previsibilidade de receita e viabilizando investimentos iniciais.

O momento decisivo

Os avanços permitem mirar mais alto, mas a velocidade será decisiva. É preciso destravar escala nos próximos cinco anos para consolidar a liderança na década seguinte, alinhando o Brasil às metas globais de descarbonização e neutralidade climática.

Com a realização da COP30 em Belém, em novembro, o país terá uma vitrine estratégica para posicionar a restauração no centro do nexo clima-natureza, como estratégia de mitigação, regeneração da biodiversidade e geração de renda e desenvolvimento. As decisões tomadas agora definirão se o Brasil consolidará essa vantagem comparativa como novo motor de crescimento e se a restauração se firmará como uma classe de ativos de escala global.

* Leonardo Colombo Fleck é head sênior de sustentabilidade do Santander e conselheiro da Biomas; Viviane Otsubo Kwon é senior expert de sustentabilidade do Santander