Net zero depende de corte de 25% na demanda de fósseis até 2030, diz AIE

Investimentos em renováveis terão de passar de US$ 1,8 tri anuais para US$ 4,5 tri nos próximos sete anos

Bomba de gasolina abandonada
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Ainda há chances de evitar consequências ainda mais graves da mudança climática, mas isso dependerá de um corte radical no uso de combustíveis fósseis no futuro imediato, acompanhado por investimentos anuais de US$ 4,5 trilhões em energias limpas.

Essas são as duas principais conclusões do novo Net Zero Roadmap, levantamento da Agência Internacional de Energia que atualiza cenários projetados dois anos atrás para que o mundo atinja a neutralidade de carbono em 2050.

A demanda por petróleo, gás natural e carvão precisa cair 25% até 2030 para que a temperatura global não suba mais que 1,5°C em comparação com a era pré-industrial.

A AIE afirma que “políticas estritas e efetivas” serão necessárias para isso. “Alguns vão dizer que é difícil. É muito, muito difícil. É uma tarefa hercúlea”, disse o presidente da entidade, Fatih Birol.

Uma prova disso será vista daqui pouco mais de dois meses, na COP28. Os combustíveis fósseis serão um dos principais pontos de conflito da conferência, que acontece no Golfo Pérsico e será presidida por um executivo do setor petroleiro.

As decisões das COPs dependem de consenso, e grandes produtores, notadamente a Arábia Saudita, já deixaram claro que vão barrar qualquer tentativa de incluir limites para a produção de petróleo e gás.

A Opep, o cartel dos grandes produtores de petróleo, acusou a agência de incentivar a volatilidade do mercado global depois de Birol anunciar que o pico dos combustíveis fósseis acontece ainda esta década.

No front das energias limpas o diagnóstico é mais positivo. A agência menciona o sucesso das vendas de carros elétricos e dos painéis de geração solar – “o novo carvão, não por causa do clima, mas por causa do [baixo] custo”, afirmou Birol.

Os investimento em renováveis aumentaram 40% em dois anos e atingirão US$ 1,8 trilhão este ano. Mas, para garantir a meta do Acordo de Paris, esse total precisaria passar para US$ 4,5 trilhões anuais no começo da próxima década.

Esse crescimento corresponderia a uma redução de até 80% na demanda por combustíveis fósseis em 2050. Há dois anos a AIE já afirma que novos projetos de extração não devem ser iniciados se a meta é atingir o net zero global.

A agência também estimou o custo de manter a trajetória de 1,5° retirando o CO2 da atmosfera, em vez de evitando as emissões. “Seria necessário remover quase 5 GtCO2 anualmente na segunda metade do século.” No ano passado, as emissões mundiais foram de 37 GtCO2. Além de ainda não comprovada em grande escala, a tecnologia poderia custar US$ 1,3 trilhão anuais. “Tirar carbono da atmosfera é caro e incerto. Devemos fazer o possível para evitar lançá-lo”, afirma o levantamento.

(Imagem: Mandell Smock, via Unsplash)