SOLAR E EÓLICA

Trump paralisa projeto de eólicas offshore que estava 80% concluído

Ordem derruba ações da dinamarquesa Orsted, maior empresa do mundo no setor; presidente americano há anos critica geração de energia em alto-mar

Turbinas eólicas offshore

As ações da Orsted, líder mundial em energia eólica offshore, caíram 16% nesta segunda-feira (25) após o governo Trump interromper a construção de um parque eólico quase concluído nos Estados Unidos. O valor de mercado da companhia caiu para 75 bilhões de coroas dinamarquesas, aproximadamente US$ 11,7 bilhões.

Esse é o capítulo mais recente de uma série de desafios da Orsted no mercado americano. Nos últimos anos, a inflação e o aumento de custo na cadeia de suprimentos fizeram a empresa cancelar dois projetos e ter um prejuízo de aproximadamente US$ 5,6 bilhões. As ações da companhia estão quase 90% abaixo do pico registrado em 2021.

No passado, a Orsted obteve lucros iniciando projetos e depois vendendo grandes participações neles para investidores que queriam exposição à energia verde. Mas a eleição de Donald Trump para a presidência mudou radicalmente o cenário da transição energética nos Estados Unidos.

Trump acabou com a maior parte dos incentivos do megapacote de descarbonização aprovado na gestão de Joe Biden, seu antecessor. E a energia eólica é uma obsessão particular do presidente americano.

Fake news

Há anos ele afirma, sem nenhuma base em evidências, que o ruído das turbinas eólicas poderia causar câncer. Na campanha, repetiu diversas vezes que os cataventos em alto mar estariam causando “mortes de baleias como nunca se viu”.

A situação da Orsted já era precária mesmo antes da ordem de paralisar os trabalhos no projeto Wind Revolution, na costa do Estado de Rhode Island, no nordeste do país. 

A tentativa de replicar nos Estados Unidos o sucesso obtido na Europa enfrentava inflação e juros altos, o que tornou o ambiente econômico desafiador para um negócio que exige grandes despesas de capital.

A companhia, que é controlada pelo governo dinamarquês, tentou sem sucesso vender por US$ 6,2 bilhões parte de outro empreendimento offshore nos EUA. Para dar continuidade ao projeto, a Orsted havia anunciado uma emissão de ações de US$ 9,4 bilhões no início de agosto.

A ordem de parar as obras do Wind Revolution foi uma surpresa, segundo analistas. O parque eólico já tem 45 das 65 turbinas instaladas, e a previsão era iniciar as operações em 2026.

A determinação do Bureau of Ocean Energy Management, responsável por esse tipo de empreendimento, alegou “proteção do meio ambiente” e questões de segurança nacional para justificar a medida, mas sem dar mais detalhes, segundo o The New York Times.

A empresa tentou tranquilizar os investidores na segunda-feira, afirmando que a captação de recursos continua. Seria a maior venda de ações do setor energético europeu em mais de uma década, segundo a Bloomberg.

Mas a paralisação pode afetar o interesse dos acionistas. “Prevemos que tudo isso crie um cenário mais desafiador para a próxima emissão, tanto em relação ao preço das ações quanto à demanda dos investidores”, disse Ahmed Farman, analista da Jefferies, em nota.

Tensões bilaterais

A ordem de interromper as obras da Orsted foi emitida poucas horas depois de o ministro das Relações Exteriores dinamarquês, Lars Lokke Rasmussen, assinar um acordo climático com o governador da Califórnia, Gavin Newsom – uma das principais vozes anti-Trump do Partido Democrata, de oposição.

As relações entre os dois países estão tensionadas há meses. Nas primeiras semanas de seu mandato, o presidente americano fez repetidas referências a uma tomada de controle da Groenlândia, um território autônomo que pertence à Dinamarca.

Os governadores de Connecticut e Rhode Island, os dois Estados que consumirão a eletricidade gerada pelo projeto da Orsted, disseram que estão trabalhando para alterar a decisão.

“Esta jogada política do governo Trump aumentará o custo das contas de luz e contradiz tudo o que o governo nos disse”, disse o governador de Connecticut, Ned Lamont, em um comunicado. “Ela desperdiça anos de investimento estadual em energia renovável, destinados a diversificar nosso fornecimento de energia e reduzir custos para famílias e empresas.”

Este não é o primeiro projeto paralisado por Trump neste ano. A construção do Empire Wind, da norueguesa Equinor, também foi interrompida. Mas a decisão foi revertida depois de um acordo com a governadora de Nova York, Kathy Hochul, que poderia permitir a construção de novos gasodutos no Estado.