
A Mahta, startup de superalimentos da Amazônia, recebeu investimento de R$ 20 milhões do Fundo da Biodiversidade da Amazônia (ABF, na sigla em inglês), gerido pela Impact Earth e com BNDES e fundos de George Soros e da L’Oréal entre os investidores.
Com o aporte, a startup planeja acelerar o desenvolvimento de novos produtos, fortalecer as cadeias produtivas no bioma e estrear no varejo. A meta é dobrar seu faturamento mensal para R$ 2 milhões ainda este ano.
A foodtech transforma em pó alimentos amazônicos como cacau, bacuri e cumaru, alimentos que ficaram conhecidos como “superalimentos” por terem alta densidade nutricional, ou seja, muitos nutrientes em poucas calorias. O carro-chefe da startup é um suplemento em pó que combina 15 frutas e castanhas da floresta. A promessa da Mahta é vender alimentos que beneficiam tanto a saúde das pessoas quanto a do meio ambiente.
“A gente entrega um impacto triplo: oferece um produto proteico vegano muito melhor, porque não vem de monocultura; agrega valor para a comunidade comprando algo que antes ela não vendia; e ajuda a regenerar a floresta”, diz o fundador e CEO da Mahta, Max Petrucci.
Com 15 ingredientes para seus produtos, a foodtech lida com produtores espalhados por diferentes Estados, como Amapá, Roraima e Pará. Um diferencial da Mahta está na variedade de ingredientes utilizados e no desenvolvimento de produtos de maior valor agregado, segundo Maria Laura Florido, gerente de investimento na Impact Earth.
Para ela, um dos grandes desafios da Amazônia é a aquisição de produtos como commodities, sejam eles crus ou pouco processados. “Quanto mais processado o produto estiver ainda dentro da floresta, maior é o valor que se consegue pagar por ele”, afirma.
Para transformar os produtos in natura da Amazônia em pó, a Mahta usa uma técnica de desidratação por congelamento e sob baixa pressão, que mantém quase a totalidade dos nutrientes, diferentemente da secagem por calor. O processo se chama liofilização e é utilizado pela Nasa para produzir as refeições de astronautas.
Novos produtos
A Mahta nasceu em 2019 ao identificar em um subproduto da castanha do pará uma proteína altamente nutricional e vegana. Na cooperativa Reca, a “torta da castanha” era descartada após a extração de seu óleo, vendido para a Natura. A Mahta passou a comprar essa torta para produzir seus produtos em pó, o que gera renda extra, reduz desperdício e promove a regeneração da floresta, diz o CEO da startup.
Segundo ele, a ideia é desenvolver novos produtos e identificar novas oportunidades semelhantes a esta para agregar mais valor aos ingredientes.
Para isso, o dinheiro do aporte será direcionado para aumentar a equipe de pesquisa e desenvolvimento (P&D), que hoje conta com nove pessoas, incluindo três doutores.
A startup também quer fazer mais open innovation (pesquisa com colaboração de parceiros externos), com o Centro de Biodiversidade da Amazônia (CBA), academia e outras entidades.
Vendas
Hoje, as vendas da Mahta são feitas no e-commerce diretamente para o consumidor final. Um terço do faturamento vem do modelo de assinatura. Segundo Petrucci, as vendas programadas permitem maior previsibilidade de produção e pagamentos antecipados aos produtores.
Para acelerar as vendas, o plano é passar a distribuir o produto também em redes de varejo. A estratégia ainda está sendo montada e uma pessoa foi contratada para tocar essa nova frente. A ideia é estar em mercados em que seus concorrentes diretos já atuam, casos de empresas de leites vegetais como Nude e Naveia.
Os produtos com ingredientes da Amazônia também despertam interesse no mercado externo, segundo Petrucci. Por isso, também está sendo estudada a possibilidade de expansão internacional. “Nas feiras aqui no Brasil temos encontrado interessados em levar a Mahta para os Emirados Árabes, Europa e Austrália”, conta.
A ideia de expansão internacional é positiva para o ABF. “Quanto mais a empresa crescer, mais recursos conseguimos trazer para a floresta. Assim, saímos da lógica de simplesmente exportar matéria-prima e passamos a exportar produtos finalizados, com valor agregado”, diz Florido. “Ainda estamos estudando como isso vai acontecer, mas é um movimento extremamente positivo.”
A Impact Earth apoia a Mahta também na estruturação de indicadores de impacto socioambiental, que serão monitorados pelo fundo junto com os indicadores financeiros até 2030. Entre eles, está a parcela do retorno financeiro destinada aos produtores amazônicos.
Investidores
Com R$ 250 milhões sob gestão, o Fundo da Biodiversidade da Amazônia tem como objetivo investir em pequenas e médias empresas com impacto socioambiental na Amazônia Legal. Conta com investidores como BNDES, Soros Economic Development Fund (SEDF), CGIAR, L’Oréal Fund for Nature Regeneration (LFNR) e ASN Impact Investors.
O ABF é um fundo de investimento em participações (FIP), mas tem flexibilidade no tipo de instrumento que utiliza para fazer seus investimentos, podendo ser o tradicional equity até dívidas lastreadas em receitas futuras com venda de produtos ou créditos de carbono.
No caso da Mahta, o aporte foi feito em um modelo híbrido: parte em dívida com juros abaixo da Selic e pagamento em cascata, com parcelas crescentes após carência; e parte poderá ser via participação nos lucros da empresa.
“O fundo se propôs a não só trazer capital, mas também apoiar a empresa a ganhar mais maturidade no campo da sustentabilidade, porque construir essa cadeia é muito difícil. Nosso diferencial é justamente garantir que a sustentabilidade seja incorporada de fato ao negócio”, explica Florido.