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Ônibus, patinete e mototáxi: o plano de Belém para o transporte na COP30

Haverá ônibus exclusivo para credenciados da conferência e férias escolares e trabalho remoto para desafogar o trânsito

Ônibus, patinete e mototáxi: o plano de Belém para o transporte na COP30

Belém – Quem foi às últimas COPs se locomoveu, basicamente, por transporte público e ônibus que atendiam exclusivamente aos participantes, em rotas criadas entre os hotéis e o local da conferência. Como em Belém as hospedagens não estarão concentradas na rede hoteleira, começam a surgir dúvidas sobre como a organização está preparando o transporte da cidade para o evento. 

O plano de mobilidade das Conferências do Clima da ONU é feito a muitas mãos, mas no fim do dia conta muito com a infraestrutura local. Em entrevista ao Reset, o prefeito de Belém, Igor Normando (MDB), disse que esse não será um problema durante a COP30. Ele assumiu o cargo em janeiro deste ano, quando a cidade já estava se preparando para o evento.

A principal aposta da prefeitura é o transporte gratuito para os credenciados da chamada Zona Azul (ou Blue Zone), área reservada às delegações oficiais e observadores e onde acontecem as negociações. Ela será montada no Parque da Cidade, que fica a 6 quilômetros do aeroporto. 

Para aliviar o tráfego, a cidade terá férias escolares, que irão incluir os municípios vizinhos Ananindeua e Marituba, e autorização de trabalho remoto para servidores públicos. O plano conta ainda com aumento da frota de ônibus de linha, interdições temporárias de ruas  e capacitação para motoristas de aplicativos. 

É preciso criar um fluxo contínuo entre pontos estratégicos da cidade para o evento: aeroporto, Parque da Cidade, Hangar Centro de Convenções e a parte central de Belém, conectando locais de chegada, hospedagem, eventos (oficiais e paralelos) e serviços. 

A mobilidade urbana é uma questão em Belém. Obras como as do sistema BRT, com faixas exclusivas para ônibus, se arrastam há 15 anos. Como em outras capitais brasileiras, o trânsito exige paciência dos motoristas mesmo fora dos horários de pico. 

Ônibus exclusivo

As COPs tipicamente criam rotas de ônibus ligando a Zona Azul a regiões da cidade que concentram hotéis. O serviço é gratuito e oferecido aos participantes credenciados para essa área em que acontece a parte “oficial” da conferência.

A necessidade de oferecer transporte varia de acordo com as opções da cidade. A COP28, em 2023, foi realizada na Expo City de Dubai, que era servida pelo metrô.

No caso de Belém, com a oferta insuficiente de leitos em hotéis, muitos participantes vão ficar espalhados pela cidade em acomodações alugadas por meio de plataformas como Airbnb e Booking. Isso complexifica o traçado dessas linhas de ônibus, que em outros locais passa pelas principais zonas hoteleiras. 

“O foco é a integração. Ainda estamos estudando. Vamos ter ônibus circulando especificamente para a COP, mas não haverá veículos em todos os hotéis. Haverá pontos espalhados pela cidade para que os participantes andem pouco até os ônibus, em linhas expressas e integradas”, explica Normando.

Na edição da COP do ano passado, em Baku, capital do Azerbaijão, havia faixas exclusivas para a circulação dos ônibus. A medida nem parecia necessária: havia pouquíssimo trânsito na cidade. Os locais atribuíram o fenômeno incomum à decretação de férias escolares fora de época e à determinação do governo do país de trabalho remoto durante as duas semanas do evento.

Os ônibus são úteis apenas para os deslocamentos de ou para a Zona Azul. Para os outros casos, a opção mais popular são serviços como o Uber e similares. Inúmeros eventos paralelos são realizados nas cidades-sede durante as duas semanas da conferência.

Um plano de mobilidade detalhado está sendo preparado pela Secretaria Extraordinária para COP-30 (Secop) em conjunto com o governo do Estado do Pará e a Prefeitura de Belém e deverá ser divulgado em outubro. 

Entendendo a cidade

Belém não tem metrô e o fluxo mais intenso durante a COP deve ocorrer entre diferentes bairros por meio de ônibus e carros. 

O Parque da Cidade e o centro de convenções Hangar, onde vão ocorrer os encontros diplomáticos, ficam entre os bairros de bairros Sacramenta e Marco. São 7,2 quilômetros até a Estação das Docas, região central da cidade, trajeto que leva de 15 a 20 minutos de carro em dias normais. 

Foto aérea do Parque da Cidade, onde ocorrerá a maior parte das atividades da COP30, em Belém (Crédito: Rafael Medelima/Agência Pará)

A Estação das Docas é o principal ponto turístico da capital e, em seu entorno, estão concentrados hotéis e restaurantes de alto padrão, nos bairros de Nazaré, Reduto e Campina. É lá que irão ocorrer a maioria dos eventos paralelos organizados pela iniciativa privada e imprensa internacional. Dali ao aeroporto, o percurso é de 8,5 quilômetros, cerca de 30 minutos. 

“Estão previstos bloqueios temporários e restrições de acesso em áreas sensíveis, como o entorno do Parque da Cidade, o Porto de Outeiro e o Aeroporto. Nessas zonas, apenas veículos credenciados terão permissão de circulação”, informou a Secretaria Extraordinária para a COP30, do governo federal, em nota.

Já os bairros de Pedreira e Umarizal funcionam como pontos intermediários, com vias importantes que ligam os principais locais da COP30. Ambos devem concentrar também parte da demanda por hospedagem e possuem tráfego intenso por conta da alta densidade residencial e concentração de bares e restaurantes.

Na Pedreira, uma feira temporária ocupa parcialmente duas das seis faixas da Avenida Pedro Miranda, principal via do bairro, desde que o Mercado Municipal entrou em reforma, há três anos. As obras ainda não foram concluídas.

Outro ponto sensível é o Porto de Outeiro, que passa por revitalização e receberá dois cruzeiros transatlânticos, voltados para hospedagens de luxo, com seis mil leitos disponíveis. Ele fica há cerca de 30 quilômetros de distância do Parque da Cidade, em um trajeto que pode levar até mais de uma hora de carro, por meio da avenida Augusto Montenegro. 

Uma ponte, porém, está sendo construída, o que deve reduzir o tempo de deslocamento pela metade ao ligar o distrito de Outeiro ao bairro de Icoaraci. A previsão de entrega da obra é setembro de 2025.

Geladão, mototáxi e patinete 

São esperadas cerca de 50 mil pessoas para a COP30, mas nem todas terão como destino final o Parque da Cidade, com muita gente circulando pelos eventos paralelos. 

A frota de ônibus do transporte público da cidade conta com 1.100 veículos em operação, segundo o prefeito de Belém. Desses, 30% são novos, com ar-condicionado, acessibilidade e wi-fi. São os “Geladões”, uma demanda antiga da população diante do calor intenso da cidade, mas que só começaram a circular em abril. Atualmente, a passagem de ônibus custa R$ 4,60.

“Estamos estendendo o sistema de tap in para todos os ônibus, com pagamento por celular”, afirma o prefeito. 

As opções privadas de transporte contam com os tradicionais carros de aplicativos e um meio bastante popular entre os locais: o mototáxi. O transporte de passageiros em motos é parte rotina urbana há muitos anos. 

Regulamentado e amplamente utilizado, o serviço é uma alternativa rápida e de baixo custo para enfrentar o trânsito com mais rapidez. Diferentemente de capitais como São Paulo, onde o serviço é proibido por lei, em Belém ele pode ser encontrado nas ruas, inclusive em pontos de mototaxistas, além dos aplicativos. A demanda costuna ser alta.

O uso de transporte por app, porém, é sempre um desafio em grandes eventos na cidade. No Círio de Nazaré, celebração religiosa anual que atrai cerca de 50 mil pessoas, os tempos de espera chegam a 25 minutos. Na semana passada, a média de espera era de sete minutos.

Uber e 99 operam na cidade com serviços de carro, táxi e moto para passageiros. Procuradas, as empresas informaram que não divulgam o número de motoristas cadastrados em cada cidade, por questões estratégicas. 

A assessoria de imprensa da Uber disse não ter “informações sobre eventuais ações específicas para o período da COP em Belém”. A 99 lançou uma operação de motos elétricas na cidade, com 60 motocicletas eletrificadas em circulação e uma meta de chegar a 300 até a CO30. 

A Prefeitura de Belém iniciou o cadastramento de dois mil motoristas de aplicativo para atuarem nas áreas oficiais da COP30. A meta é identificá-los como “parceiros” oficiais do evento e, em parceria com o sindicato da categoria, dar capacitação em atendimento, direção e inglês. 

Na capital do Azerbaijão, apps de transporte ofereciam uma categoria especial com o nome de COP, com motoristas que falavam inglês. Já no balneário egípcio de Sharm el-Sheikh, anfitrião da conferência de 2022, esses serviços não operavam e houve relatos de dificuldade de encontrar táxis.

Mas na semana passada, o meio de transporte mais usado no Parque da Cidade eram mesmo patinetes elétricos. Mais comuns em outras metrópoles brasileiras, eles começaram a operar no dia 4 deste mês em Belém e foram bem recebidos pela população. 

A empresa Jet, de origem russa, disponibilizou 600 patinetes em caráter experimental por 180 dias. A cobrança é de R$ 0,49 por minuto (após uma taxa inicial de R$ 1,99) ou R$ 30 por hora. A velocidade máxima permitida é de 20 km/h nas ciclofaixas e 40 km/h nas demais vias.

Por via das dúvidas, veteranos de COPs indicam escolher calçados confortáveis para a conferência, pois mesmo com bons planos de mobilidade, bater perna é necessário.

*Colaboraram Sérgio Teixeira Jr. e Thais Folego, de São Paulo