FINANÇAS

No próximo leilão, recurso do Eco Invest será para participação acionária

Tesouro planeja lançar mais dois editais para bancos e gestoras ainda este ano, sendo o último voltado para a Amazônia

No próximo leilão, recurso do Eco Invest será para participação acionária

Os primeiros leilões do Eco Invest atraíram recursos privados estrangeiros para financiar projetos verdes brasileiros por meio de dívida. O próximo terá um instrumento de financiamento diferente: participação acionária. 

O objetivo é financiar projetos e startups na fronteira da inovação da transformação ecológica e da economia de baixo carbono, segundo Rogério Ceron, secretário do Tesouro Nacional. “Assim se viabiliza um apetite maior por startups e projetos disruptivos, que têm mais dificuldade de acessar capital. É essa agenda que a gente quer enfrentar.”

O Eco Invest é um programa do governo federal e, em uma de suas frentes, oferece recursos no modelo de blended finance, em que o capital catalítico (subsidiado ou filantrópico) entra para reduzir custos ou mitigar riscos, atraindo recursos privados em maior escala. 

É isso o que o Tesouro vai oferecer para fundos de investimento em participação (FIPs) em seu terceiro leilão. Os detalhes ainda estão sendo fechados, mas o edital com as condições para que gestoras e bancos possam apresentar suas propostas deve ser lançado ainda neste mês, segundo Ceron, que participou do São Paulo Climate Week, promovido pelo Itaú e Cubo na capital paulista. 

Essa edição não deve focar em nenhum setor específico, olhando para uma agenda mais ampla. Mario Gouvêa, coordenador do Eco Invest no Tesouro Nacional, disse ao Reset que alguns segmentos de interesse são os de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), hidrogênio verde, bioeconomia, baterias e terras raras.

O Tesouro promete incluir instrumentos de proteção, entre eles de volatilidade cambial e de primeiras perdas – em um mecanismo similar ao de cotas subordinadas de fundos creditórios, que absorvem mais riscos.

“Queremos mitigar pelo menos alguns desses riscos para, de forma compartilhada e para o bem do país, viabilizar uma carteira de projeto mais ousada. Deve vir por aí, em breve, um edital com essa característica”, disse o secretário.

Ele não estimou qual o volume de capital total ou catalítico que o próximo leilão pode atingir. Mas pontuou que será em uma escala menor do que a dos leilões anteriores, de financiamento via dívida. “Mas para o mercado de equity, pode fazer diferença relevante.”

Dinheiro para Amazônia

Ainda neste ano, o Tesouro planeja lançar mais um leilão de blended finance, desta vez com um foco específico: o bioma da Amazônia. O objetivo é financiar projetos de bioeconomia e de produtos baseados na natureza.

“Tem uma agenda, um leilão específico sendo construído junto com outros atores do governo e também com as instituições [financeiras]”, disse Ceron. 

Assim, o governo cumpre a primeira fase do programa com quatro concorrências, sendo duas de escopo mais amplo (a primeira e terceira) e duas temáticas: recuperação de pastagens e Amazônia. “Com isso, a gente alcança todos os instrumentos que almejávamos.” 

Segundo o secretário, após isso o Tesouro “repetiria” os leilões, com as mesmas temáticas, mas novas tranches. 

Recuperação de pastagens

O resultado do segundo leilão, voltado para recuperação de áreas degradadas, foi divulgado na última sexta-feira (8): o Tesouro aceitou propostas para conceder R$ 16,5 bilhões em capital a juros subsidiados de 1% ao ano para 10 instituições financeiras. 

Elas terão que buscar outros R$ 13,7 bilhões em capital privado, elevando o total destinado à recuperação de pastagens degradadas para R$ 30,2 bilhões. 

Os recursos serão aplicados na restauração produtiva de uma área equivalente a 1,4 milhão de hectares. É quase duas vezes a área desmatada anualmente na Amazônia, segundo Ceron. “É algo relevante, um programa público vai garantir que a gente coloque de volta para produzir um volume tão grande de terra.”

A alavancagem dessa edição precisou ser menor para poder garantir a viabilidade de uma carteira de projetos. A alavancagem mínima exigida foi de 1,5 vez e a média dos projetos apresentados e aceitos pelo Tesouro foi de 1,8 vez – no primeiro leilão ela foi de 6 vezes. 

Para fazer suas propostas, os bancos tiveram que apresentar relatórios indicativos de alocação dos recursos ao Tesouro. Olhando as carteiras apresentadas, Ceron disse que havia bastante projeto de SAF, biocombustível, reflorestamento e sistemas integrados de produção, como agroflorestas e lavoura-pecuária. 

O Tesouro não define qual deve ser o custo final cobrado pelos bancos na concessão de crédito aos projetos. Mas a expectativa do governo é de que as instituições consigam entregar taxas de um dígito para o tomador final. Mas isso vai depender da alavancagem (quanto maior, maior o custo), complexidade do projeto e condições de captação de recursos no mercado.