Reino Unido adia fim da venda de carros a combustão

Sob pressão política doméstica, premiê Rishi Sunak dá meia-volta em compromissos climáticos

Reino Unido adia fim da venda de carros a combustão
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O premiê britânico, Rishi Sunak, anunciou nesta quarta-feira o relaxamento de algumas medidas-chave do plano nacional de corte nas emissões de gases de efeito estufa do país.

Num discurso antecipado em dois dias por causa de vazamentos na imprensa, ele atrasou em cinco anos (de 2030 para 2035) o fim da venda de novos carros movidos a combustíveis fósseis.

Em relação aos carros, mesmo com o atraso de cinco anos o país segue o mesmo cronograma de países como Alemanha, França e Espanha, disse o primeiro-ministro.

O prazo para que residências substituam sistemas de calefação a gás foi estendido em nove anos, até 2035. O subsídio governamental para fazer a troca também será maior, e haverá exclusões para famílias de baixa renda. A mudança tem custo alto, e uma lei nesse sentido criou uma crise política que durou meses na Alemanha.  

Sunak afirmou que as medidas não terão impacto nos compromissos assumidos pelo país perante a comunidade internacional, incluindo a meta de atingir o net zero em 2050.

Mas um comitê independente que assessora o governo já se manifestou afirmando estar “menos confiante” no cumprimento das metas.

Ainda não está claro como o anúncio afeta os planos e se serão necessárias compensações em outras áreas.

As empresas também não gostaram do que ouviram. “Nosso negócio precisa de três coisas do governo: ambição, compromisso e consistência. Relaxar [a meta de 2030] mina os três”, disse a presidente da Ford no país, Lisa Brankin.

Um dos temores é que uma desaceleração dos planos torne ainda mais atraentes os subsídios oferecidos pelos Estados Unidos e também por alguns países europeus que querem ser mais competitivos na economia verde.

Não há dúvidas sobre a motivação de Sunak: a política interna do país. O premiê deve ser o rosto de uma derrota histórica do Partido Conservador na próxima eleição geral do país.

O Partido Trabalhista, na oposição há 13 anos, deve ter uma vitória esmagadora nas urnas, de acordo com pesquisas recentes.

A tentativa de Sunak é colar nos adversários a imagem de “eco-radicais”, mas as meias-voltas anunciadas nesta quarta-feira desagradaram integrantes de seu próprio partido. 

Ele apelou para uma espécie de  “populismo climático”. O discurso mencionou algumas ideias ventiladas, mas que nunca estiveram perto de se tornar lei: a  obrigatoriedade de compartilhar carros, taxação extra para carne e restrições em viagens aéreas.

Sunak tenta ao mesmo tempo agradar o eleitor em casa sem perder a credibilidade do país perante a comunidade internacional.

Há pouco menos de dois anos, o Reino Unido recebeu a COP26 em Glasgow (Escócia) e vinha se posicionando como um dos “fiscais” mundiais do clima.

Reagindo às notícias, o ex-vice-presidente americano Al Gore afirmou que Sunak está cometendo um erro. O nome do premiê não constava da lista de convidados pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, para a cúpula climática de líderes globais realizada também nesta quarta-feira em Nova York.