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COP30 terá poluição extra de aviões por limitação de aeroporto

Aeroporto de Belém passa por reforma de expansão, mas não terá capacidade para estacionar e abastecer todas aeronaves; governo definiu 26 aeroportos de apoio

COP30 terá poluição extra de aviões por limitação de aeroporto

Chegar em Belém para a COP30 não será um problema, como acontece com a hospedagem, mas a conferência será responsável por emissões extra de carbono relacionadas aos voos. Mesmo depois de uma reforma de meio bilhão de reais, o Aeroporto Internacional de Belém não terá capacidade para estacionar e abastecer todos os aviões esperados na capital paraense. Para isso, eles serão direcionados a outros 26 aeroportos espalhados pelo país, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

A alternativa inevitavelmente lança mais CO2 na atmosfera com o tráfego de aviões vazios diretamente associado à conferência que debate mudanças climáticas.

Os aeroportos de apoio estão espalhados por 16 Estados de quatro regiões do país (só a região Sul ficou de fora). O mais distante de Belém é o aeroporto de Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG). A distância entre as duas capitais é de aproximadamente 2.100 km. De avião, o trecho dura pouco mais de 3 horas e emite, em média, 22.500 kg de CO2, considerando aviões para 150 passageiros, segundo o Google Flights – por carregar menos peso, uma aeronave vazia emite menos gases poluentes. 

“Nem toda a frota vai poder estacionar no aeroporto de Belém, pois isso impactaria as operações”, diz Thairyne Oliveira, diretora de gestão estratégica da Secretaria Nacional de Aviação Civil do Ministério dos Portos e Aeroportos. “Ficou estabelecido um grupo de aeroportos que vão funcionar como um estacionamento para delegações. Eles vão receber aviação geral, jatos executivos e aviação comercial.”

O Aeroporto Internacional de Belém possui capacidade atual para receber 21 mil passageiros por dia e 7,7 milhões por ano, segundo informações do site do governo criado para a COP30. Após as obras de ampliação, a capacidade será de 13 milhões de passageiros por ano, uma ampliação de 69%, e de 28 pousos e decolagens por hora.

Expansão do aeroporto

O aeroporto de Belém é operado pelo consórcio NOA Airports, das empresas Socicam e Dix Empreendimentos. Ele arrematou em leilão o direito de operar por 30 anos os aeroportos de Belém e de Macapá. O consórcio venceu a disputa em 2022 com uma proposta de R$ 125 milhões, um ágio de 120% em relação ao valor inicial. 

Na ocasião, porém, não havia previsão de que a cidade receberia um grande evento. A notícia de que o Brasil seria sede da COP30 só chegou um ano depois. A expectativa do Ministério das Relações Exteriores é de que a capital paraense receba 50 mil pessoas durante o evento. 

No contrato de concessão já havia previsão de obras para expansão do aeroporto, mas elas precisaram ser antecipadas por conta da COP30. A entrega da reforma foi adiantada do primeiro trimestre de 2026 para agosto de 2025, o que gerou um aditivo no contrato. A estimativa da Agência Nacional de Aviação Civil é que o investimento total na expansão seja de R$ 470 milhões.  

“Antecipamos as obras assim que houve a decisão da ONU de fazer a COP30 no Brasil. No plano original, parte do aeroporto estaria em plenas obras em novembro”, explica Oliveira, da Secretaria Nacional de Aviação Civil.

Serão ampliados o número de portões, as áreas comuns e os espaço para aeronaves, segundo informação da concessionária que administra o aeroporto. A  área de embarque vai crescer quase três vezes, dos atuais 1.593 m² para 4.303 m². O local deve ganhar dois novos mezaninos e uma nova praça de alimentação. 

Procurada pelo Reset, o consórcio NOA Airports não concedeu entrevista nem a informação sobre o aumento do número de portões de embarque. A reportagem esteve no local em maio deste ano, quando o aeroporto tinha dez portões de embarque e desembarque. 

A obra ocorre em três turnos, mobiliza 500 funcionários e está dentro do cronograma previsto, segundo o Ministério dos Portos e Aeroportos, por isso deve ser entregue até o fim de agosto.

Novas rotas

Até o momento, conseguir uma passagem de avião para ir à COP30 não tem sido um problema, nem de oferta nem de preços. A crise da hospedagem em Belém talvez explique o fenômeno, uma vez que muitas pessoas ainda não têm lugar para ficar faltando apenas quatro meses para o evento.

“A demanda está dentro do que imaginamos e cabe no nosso preço de prateleira. Quando as pessoas compram a passagem, pensam no hotel. Então [as incertezas sobre hospedagem] podem ser um fator de inibição”, Rafael Araújo, diretor executivo de planejamento da companhia aérea Gol. 

Ele avalia que os preços estão dentro da normalidade. É possível comprar passagem de ida e volta entre São Paulo e Belém em novembro por R$ 1.292. Segundo o serviço Google Flights, o preço está dentro da média histórica para o período, mas há uma tendência de alta. Em maio, era possível encontrar as mesmas passagens por R$ 768. 

As maiores companhias aéreas do país aumentaram a oferta de voos durante a conferência, inclusive com a inclusão de novas rotas internacionais. 

A Gol tem 56 mil assentos disponíveis em voos para a capital paraense entre os dias 7 e 23 de novembro – a COP30 acontece entre os dias 10 e 21 de novembro. É um número 230% a mais do que o oferecido no mesmo período do ano anterior. Ao longo de todo o mês, serão 77 mil.

“A Gol pensa muito no bate e volta. Muita gente pode não conseguir hospedagem e ir para um evento ou agenda somente em um dia específico. Vimos muito isso na Copa do Mundo do Brasil, com pessoas dormindo em outras cidades”, diz Araújo.

A Latam fez uma aposta mais modesta: 48% de acréscimo de assentos no mês de novembro. A empresa não divulga o número absoluto, mas afirma que a rota Belém-São Paulo subirá de 28 para 35 voos semanais. Já a rota Belém-Brasília sobe de 10 para 14. 

Procurada pela reportagem, a Azul afirmou que irá divulgar seu planejamento em momento oportuno – a companhia entrou em recuperação judicial em maio deste ano.

As companhias aéreas também adicionaram novas rotas internacionais à operação. Durante novembro, a Latam vai operar três voos semanais entre Belém e Bogotá, capital da Colômbia. A Gol retomou o voo direto Belém-Miami – a Latam opera rota parecida, mas que desembarca no aeroporto de Fort Lauderdale, a uma hora do centro de Miami. A ideia é, a partir de uma parceria com a American Airlines, evitar escalas em São Paulo. 

A francesa Air France-KLM segue na parceria com a Gol para conectar a capital paraense a Paris com escalas em São Paulo e Rio de Janeiro, mas também irá incrementar a rota Paris-Belém, com escala em Caiena, capital da Guiana Francesa, com seis voos extras durante a COP30.