BIODIVERSIDADE

'Oceanos com David Attenborough' mostra como é possível salvar nossos mares

Um dos maiores divulgadores científicos do mundo mostra em documentário maravilhas do fundo do mar, os perigos de sua destruição e como ainda é possível salvá-lo – e nós também

Imagem do documentário Oceanos com David Attenborough

Sir David Attenborough, um dos maiores divulgadores científicos do mundo, lembra-se de, quando criança, enxergar o mar como um grande desconhecido, um mistério motivando a pergunta sobre o que estava além. Em seu quase um século de vida (ele completa cem anos em maio do ano que vem), foram enormes as descobertas sobre o que está dentro dessas grandes massas de água e sua importância fundamental para a vida na Terra, desde suas origens. 

No documentário Oceanos com David Attenborough, que estreou no Disney+ no domingo (8), ele mostra algumas maravilhas do fundo do mar, os perigos de sua destruição, mas, principalmente como ainda é possível, apesar de desastres como o branqueamento que atinge 80% dos corais, salvar todo o ecossistema marinho – e nós também. E sem medidas drásticas. 

A tecnologia avançou muito desde os primeiros equipamentos de mergulho dos anos 1950, década em que Attenborough começou a narrar documentários sobre a natureza. (É dele a voz da série Planeta Terra, da BBC, cuja segunda parte está disponível no Max.)

Mas ainda há muito o que descobrir. Cerca de 75% do solo oceânico continua sem mapeamento. Nos últimos anos, graças a novas tecnologias, o número de montes submarinos identificados– estruturas que partem do fundo do mar sem chegar à superfície – dobrou: agora são mais de 40 mil. E eles são fundamentais para a vida marinha, sendo pontos de parada ou finais para espécies migratórias no alto-mar. Ou seja, o oceano aberto é muito mais rico do que se imaginava antigamente, quando era considerado quase deserto.

A maior parte da humanidade interage mesmo com as águas rasas das costas, e cerca de 3 bilhões de pessoas dependem delas para sobreviver. Nessas partes do oceano, há uma diversidade de vida em equilíbrio delicado. Existem bosques submarinos e prados marinhos. E os corais são animais vivendo em simbiose com algas, anêmonas e outros animais marinhos. Cerca de 2 mil espécies marinhas são descobertas todos os anos. O plâncton, como se sabe, absorve mais dióxido de carbono do que as florestas tropicais e podem ser nossos grandes aliados na luta contra a emergência climática.

Um problema chamado ser humano

O problema, como sempre, é o ser humano e o capitalismo desenfreado. Enquanto os pescadores artesanais das áreas costeiras, sobrevivendo há séculos do que retiram do mar, não encontram mais peixes, a não ser os pequenos, cerca de 400 mil grandes embarcações percorrem todos os oceanos fazendo pesca comercial, com dragas e arrasto de fundo. 

São essas as imagens mais impressionantes do documentário. Depois do deslumbramento provocado pela riqueza de espécies, formas e cores das florestas, prados e corais submarinos, que inspiraram inclusive o cineasta James Cameron na série de filmes Avatar, vêm imagens da destruição. As pequenas canoas dos pescadores da Libéria, na África Ocidental, são ultrapassadas e ameaçadas por esses navios de pesca predatória. Câmeras capturam a ação das dragas e arrastos, com peixes e outros animais desesperados tentando fugir. A maior parte do que foi capturado e morto é simplesmente descartado depois. E o fundo do mar fica parecendo cenário de série ou filme distópico – porque, na realidade, dragas e arrastos são agentes do apocalipse tanto quanto zumbis, robôs, vírus ou fungos no cinema e na televisão. 

Como diz Attenborough: “A ideia de terraplenar uma floresta tropical causa revolta. Mas nós fazemos isso embaixo da água”. 

E não é ilegal. Na verdade, é algo incentivado por governos de certos países, em geral ricos, em uma espécie de nova colonização que retira recursos daqueles mais pobres. Ou de áreas inabitadas, como a Antártida, hoje percorrida para a captura de krill para fabricação de suplementos alimentícios em cápsulas de Ômega-3 e até comida para pets. O krill também é o alimento de boa parte das espécies que vivem na Antártida. E não só os países pobres ou regiões inabitadas que sofrem com esse tipo de pesca. Mesmo na costa inglesa e norte-americana, pescadores e moradores viram seus mares devastados.

Soluções

Mas achar que tudo está perdido nunca é a solução. E o documentário e Attenborough dão motivos para acreditar no futuro, o que é sua grande qualidade – a sensação de desesperança leva à inação. Alguns pequenos experimentos ao redor do mundo, no sul da França, no Havaí e nas Ilhas Channel, na costa da Califórnia, provam que o oceano é muito mais resiliente do que pensávamos. Pequenas áreas de proteção e proibição de pesca tiveram resultados incríveis – e rápidos – de recuperação da fauna e flora marítima. 

Como as espécies marinhas migram, esse renascimento provocou um crescimento da pesca em regiões fora da área de proteção. Grandes predadores retornaram. Peixes considerados praticamente extintos, também. Ou seja, as reservas funcionam. 

E para recuperar os oceanos não é preciso transformar tudo em reservas ambientais. Hoje, apenas 3% dos mares e oceanos são protegidos. A meta estabelecida pela Década das Nações Unidas da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável é chegar a pelo menos 30% até 2030. 

O desafio é implementar. Mas, com sua experiência de quase um século de vida, Attenborough lembra que, até recentemente, muitas espécies de baleias estavam à beira da extinção. A proibição da pesca comercial desde 1986 vem causando um crescimento nas populações de várias dessas espécies. Ou seja, dá para ser feito. E, salvando os oceanos, nós salvamos o mundo.

Oceanos com David Attenborough

Dirigido por Toby Nowlan, Keith Scholey e Colin Butfield

Disney+