AGRONEGÓCIO

Com novo aporte, Solinftec quer semear robôs

Gestora Yvy Capital fez novo investimento em parceria com a Rise; capital permitirá exploração de novos mercados e ampliar produção do robô Solix

Com novo aporte, Solinftec quer semear robôs

Desde o lançamento do robô Solix, há pouco mais de dois anos, a automação das atividades agrícolas deu um salto no dia a dia dos produtores atendidos pela Solinftec. 

A empresa já oferecia serviços de monitoramento das plantações e análise de uma série de informações, de previsões meteorológicas a dados colhidos por câmeras, radares e sensores. O software transformava tudo em recomendações, que tinham de ser colocadas em prática pelo produtor.

O Solix era a peça que faltava na automação do agronegócio. O robô da Solinftec se encarrega de aplicar inseticidas, herbicidas e retira ervas daninhas com alta precisão. É ele também quem decide como e por que agir a partir da inteligência artificial. São 150 os equipamentos já em campo no Brasil e Estados Unidos, principalmente em lavouras de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar. 

Mas a ambição da Solinftec é multiplicar este número. Dos 13 milhões de hectares de plantações que usam a tecnologia da empresa, somente 48 mil hectares contam com o robô. 

O plano é ter 750 Solix em campo até 2027, vendendo principalmente para produtores que já usam algum serviço da empresa. Um aporte de R$ 50 milhões das gestoras de investimentos Rise e Ivy Capital anunciado semana passada vai ajudar a financiar esse salto de escala.

O foco principal é no aumento da capacidade de produção dos robôs da Solinftec, que tiveram demanda reforçada por clientes que já tinham unidades operando. Um exemplo é a Fazenda Reunidas, do Grupo Baumgart, em Goiás, que começou com 2 Solix e agora tem 12, cobrindo todos os 1.500 hectares de plantações de cana-de-açúcar.

Eles foram projetados pela Solinftec e são fabricados no Brasil, com peças vindas dos Estados Unidos e da China. Cada um custa R$ 350 mil, em média. 

Apesar de atuar na fronteira da tecnologia para o agro, a Solinftec não é uma startup. Com 18 anos de atuação, a empresa se considera madura para esse novo passo. Desde a fundação, acumula R$ 1,3 bilhão captado e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) verdes emitidos.

Em 2024, a receita líquida foi de R$ 373 milhões. Dos 880 funcionários, 40% são responsáveis por pesquisa e desenvolvimento.  

‘Olho do dono’

“O robô nada mais é do que a velha enxada, do velho agricultor. Só que ele permite ainda a presença do ‘olho do dono’ observando o crescimento de uma planta e aplicando uma melhor adubação, por exemplo”, afirma Emerson Crepaldi, COO da Solinftec.

A combinação da tecnologia digital com os robôs da Solinftec fazem parte da chamada agricultura de precisão. Defensivos e fertilizantes, por exemplo, são usados “cirurgicamente”. Isso significa uma redução de custos imediata e outros ganhos que vêm com o tempo.

Segundo a empresa, o uso de herbicidas pode ser reduzido em 85%. Em culturas irrigadas, o consumo de água cai na mesma proporção. Também há menor necessidade de usar determinados equipamentos tradicionais, o que tem impacto no consumo de óleo diesel.

Menos aplicação de químicos ajuda a melhorar a qualidade do solo. “Você tem um ganho potencial gigante, principalmente em biota. Temos mais matéria orgânica, todo um sistema vivo que vai induzir a mais retenção de carbono, com impacto de produtividade. Dá para conectar todos esses indicadores sustentáveis e assim estimular mudanças no modelo de produção”, diz Crepaldi.

A companhia afirma que os ganhos de produtividade a partir dessa melhora da qualidade biológica da produção podem chegar a 15%.

Sem contar o desmatamento para a abertura de novas áreas produtivas, o uso de insumos químicos é uma das principais fontes de emissões de gases do efeito estufa da agricultura no país. Práticas regenerativas e o uso de tecnologia para aplicar esses produtos com mais precisão são apontadas como uma das chaves para reduzir esse impacto. 

Crescimento 


O caminho para a expansão da Solinftec é vender robôs da Solinftec para clientes que já usam alguma tecnologia, como sensores e softwares de gestão de dados. Assim, é possível fechar o ciclo da automação com essa espécie de sentinela. Para a Crepaldi, o robô é a terceira etapa e última etapa no caminho de automação oferecido pela empresa.

“Você começa a ter ganho de escala após provar o ganho do benefício. Temos um potencial gigante de venda dentro da base”, afirma Crepaldi.

A empresa também quer crescer no mercado americano, de onde vem 2,5% de sua receita. Outros 7% vêm da Colômbia.

Investimento

O aporte de R$ 50 milhões compõe a segunda fatia de um investimento de R$ 300 milhões anunciado pela Yvy Capital em 2024. A maior parte do pagamento, de R$ 250 milhões, já foi feita e deu à gestora uma participação acionária relevante na empresa, com direito a um assento no conselho. 

A Yvy colocou outros R$ 10 milhões na Solinftec, e os R$ 40 milhões restantes foram investidos pela gestora de impacto Rise, como primeiro investimento do seu novo fundo.  

Yvy e Rise têm compromissos de investir em projetos de impacto desde que foram fundadas. Isso foi, inclusive, um facilitador para o co-investimento de R$ 50 milhões nos robôs da Solinftec. Foram oito meses de conversas entre elas para definir o modelo do aporte.

Na visão da Yvy Capital, um dos diferenciais da Solinftec é a entrega de redução de custos ao cliente e de mais produtividade. Isso fortalece a empresa mesmo em momentos de baixa das commodities agrícolas. 

Outros acionistas da Solinftec são Unbox Capital (fundo com recursos da família Trajano, acionistas do Magazine Luiza), 10b, Blue Like and Orange, Lightsmith Group e TPG.