ECONOMIA CIRCULAR

Produção de insumos virgens cresce, e circularidade perde espaço 

Materiais reciclados e secundários tiveram leve alta de volume, mas percentual em relação ao total consumido caiu em 2024, aponta estudo

Produção de insumos virgens cresce, e circularidade perde espaço 

Reduzir a produção de matérias-primas do zero e aumentar a chamada circularidade é um dos caminhos para levar o mundo ao net zero até 2050. Apesar do fortalecimento da agenda, o percentual de materiais reciclados e reaproveitados no mundo tem caído.

Em 2024, a taxa global de circularidade manteve a tendência de baixa, alcançando apenas 6,9% dos 106 bilhões de toneladas de matérias-primas usadas. Em 2023, ela foi de 7,1%. O número também é 2,2 pontos percentuais inferior ao registrado em 2018, ano em que foi realizado o primeiro levantamento.

O índice foi divulgado nesta terça-feira (13) pela organização Circle Economy Foundation, num relatório global sobre o tema produzido em parceria com a consultoria Deloitte.

O que explica a queda da taxa foi o aumento na produção de bens a partir de matérias-primas virgens, numa velocidade acima da demanda pelos insumos secundários. O volume subiu de 92,8 bilhões de toneladas em 2023 para 98,8 bilhões em 2024.

No caso dos materiais reaproveitados, também houve um crescimento, mas bem menor. O volume subiu de 7,2 bilhões de toneladas para 7,3 bilhões. 

Pela primeira vez, o relatório detalha as origens dos insumos além da cadeia circular. A maioria parte de estoques das empresas (38%). Depois vêm a biomassa neutra em carbono (21,5%), materiais não recicláveis (18,1%) e combustíveis fósseis (13,3%).

A Circle Economy Foundation afirma que o mundo tem potencial de elevar a taxa para 25% e defende a redução de produção de materiais virgens com estratégias que priorizem o conteúdo reciclado, melhorem a eficiência dos recursos e abordem novos designs. 

Um exemplo é o aumento da durabilidade, com opções de reparo para os clientes e construção baseada em módulos.

Design e engenharia são pontos-chave, de acordo com Cecília Dall’Acqua, sócia da Deloitte e especialista em sustentabilidade. 

“Nós sabemos que os clientes estão dispostos a se engajar com fornecedores que têm iniciativas de circularidade. No entanto, essa decisão será feita apenas se o produto fabricado for melhor. Eles não querem comprometer qualquer atributo. Com a inovação, o que estamos atingindo agora são produtos reciclados que são melhores.” 

Para o mundo alcançar a neutralidade de carbono, o estudo projeta que o uso de materiais totais deveria cair dos 106 bilhões de toneladas ao ano para cerca de 84 bilhões, com uma taxa de circularidade de 17%.

Isso ajudaria, segundo o estudo, a reduzir as emissões globais em 25 bilhões de toneladas de carbono já em 2030, principalmente porque produtos secundários exigem menos energia que a produção de matérias-primas virgens.

Para a Circle Economy Foundation, o aumento da circularidade e uma melhor distribuição do consumo entre países desenvolvidos, emergentes e pobres garantiriam que essa reestruturação não implicasse em perda da qualidade de vida para as pessoas.

Os países de alta renda têm uma relação entre o consumo de bens per capita seis vezes maior que os de baixa renda. São 24 toneladas por pessoa em comparação a quatro toneladas.