GOVERNANÇA

Nova direção da Fiesp terá 130 homens e 3 mulheres

Liderada por Paulo Skaf, a chapa única tem sete vezes mais Carlos, Pedros, Antonios e Nelsons que o contingente feminino

Nova direção da Fiesp terá 130 homens e 3 mulheres

A Fiesp (Federação da Indústria do Estado de São Paulo) está prestes a eleger sua nova diretoria para o mandato de 2026 a 2029. Com amplo apoio do setor, Paulo Skaf registrou uma chapa única e deve voltar ao comando da entidade que presidiu por 17 anos, entre 2004 a 2021. A composição do grupo, porém, chamou a atenção pela baixa presença feminina. 

São 133 nomes na chapa única, dos quais apenas três mulheres. A disparidade repercutiu entre quem trabalha com equidade de gênero no mercado de trabalho. Há mais homens com o mesmo primeiro nome do que o número total de mulheres. Só de Carlos há mais que o dobro, com sete representantes. Pedro, Antônio e Nelson têm cinco cada um. 

A comparação é uma referência a um levantamento do jornal The New York Times, de 2015, que mostrou haver mais CEOs com o nome John e Jon à época nas empresas do índice de ações S&P500 do que todas as mulheres juntas. A relação foi igualada em 2024 no país.

“Até quando será possível haver inovação e sustentabilidade empresarial sem mulheres e sem diversidade?”, questionou a diretora da Associação Brasileira de Recursos Humanos Neiva Justa em uma publicação com a foto do grupo (veja abaixo). Ela é criadora do movimento #OndeEstãoAsMulheres. 

As mulheres presentes na chapa são Cristiane Prado Lopes, Maria Doralice Ângelo de Deus e Silvia Ribeiro de Aquino. Elas são, respectivamente, representantes dos setores de alimentos, vestuário e metalurgia. Nenhuma delas está na vice-presidência, o segundo escalão de poder.

Na Fiesp quem exerce o direito de voto não são as empresas individualmente, mas os sindicatos patronais filiados do estado de São Paulo. A eleição ocorrerá no dia 4 de agosto. 

“Estamos falando de segmentos em que homens são maioria, mas onde também há mulheres. Quando há apenas um perfil tomando decisões que afetam pessoas de vários perfis, o risco de as decisões serem indiferentes é grande, sem conexão com a base”, diz Renata Moraes, fundadora da consultoria de diversidade Impulso Beta.

Dados estatísticos mostram que o segmento industrial tem uma proporção menor de mulheres, quando comparado à média da força de trabalho nacional: 25% versus 43%, segundo o IBGE. Na liderança, porém, elas estariam proporcionalmente representadas, pois são 30% nessas posições, segundo um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) com 1.000 empresas industriais de todos os portes.

“Na alta liderança, aumenta a influência das redes de contato, das indicações. Quanto mais altos os cargos, mais as pessoas são avaliadas por soft skills. Quando a gente pensa nas entidades de classe, é puramente articulação, influência, networking”, afirma. 

Ela aponta também um viés de afinidade em entidades de classe. Na hora de indicar nomes, executivos tendem a reforçar o ambiente já masculino com a indicação de colegas com as mesmas características e experiências.

Questionada pelo Reset, a Fiesp afirma que a composição da chapa é de responsabilidade dos executivos que a formam. A atual gestão da federação, porém, comandada pelo empresário Josué Gomes, tem um número ainda mais baixo de mulheres: apenas duas. A reportagem não conseguiu contato com Paulo Skaf.

Ações pela diversidade

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Fiesp afirma endereçar políticas de gênero no Conselho Superior Feminino, criado em 2021 e de caráter consultivo. Seu objetivo é atuar principalmente na “retaguarda”, com ações de mentoria e capacitação de liderança, segundo Marta Lívia Suplicy, que preside o conselho (ela é homônima da Marta Suplicy que atua na política). 

A principal ação é o programa “Elas na Indústria”, de educação executiva, conduzido de forma online e gratuita, pelo qual passaram cerca de mil mulheres. “O Conselho tem um papel fundamental, de pegar por uma mão invisível, puxar e fazer as mulheres ascenderem. Eu acredito que existe vontade [nas empresas], mas ainda falta conhecimento dos caminhos”, afirma Suplicy.

Neiva Justa observa que ações isoladas têm impacto limitado. “Conheço algumas das iniciativas da Fiesp em prol da diversidade, mas sabemos que iniciativas isoladas, sem o endosso e o exemplo da presidência e diretoria, não transformam a realidade”, diz.

O levantamento da CNI também abordou como as empresas endereçam a questão de gênero. Ele mostra que 60% dizem ter políticas de diversidade, mas apenas 14% têm departamentos dedicados ao tema, com apenas 5% com orçamento próprio. 

A própria CNI também tem baixa representação de mulheres em sua liderança. São apenas duas mulheres na diretoria, de um total de 39 membros. A CNI não respondeu ao questionamento da reportagem sobre ações de promoção de igualdade de gênero.

Para mudar essa realidade as organizações precisam ter metas objetivas de representação feminina, segundo a fundadora da ImpulsoBeta. “Obrigações do tipo são a melhor ferramenta para mexer o ponteiro”, diz Renata Moraes. Ela cita duas iniciativas nesse sentido. 

A da bolsa de valores B3, que definiu que até 2026 as companhias em todos os níveis de listagem terão de ter pelo menos uma mulher e um membro de “comunidades sub-representada” no conselho de administração ou na diretoria estatutária.

A outra iniciativa é o Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, do governo federal, uma espécie de selo que reconhece empresas que cumprem pelo menos 70% das metas de igualdade propostas. Entre as boas práticas está a promoção de educação executiva e de gestão para mulheres alcançarem posições de liderança.