Com tíquete de R$ 10, Sitawi busca R$ 700 mil para impacto

ONG abre rodada de empréstimo coletivo para financiar produtora audiovisual e consultoria financeira para empreendedores negros

Gravação de documentário da produtora Maranha
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A Sitawi, organização sem fins lucrativos, está rodando a captação de mais um empréstimo coletivo. O objetivo dessa 13ª edição é aportar no total mais de R$ 700 mil para a Maranha, uma produtora audiovisual com foco em temas socioambientais, e para a Pappo Consultoria de Negócios, que presta serviços de consultoria financeira e de RH para pequenos empreendedores pretos. 

O modelo é o mesmo das rodadas anteriores: o investidor individual pode entrar com aplicações a partir de R$ 10. A ideia é democratizar os investimentos de impacto para o varejo, diz o diretor vice-presidente da Sitawi, Bruno Girardi.

O prazo do empréstimo é de 42 meses, sendo seis deles de carência, com taxa pré-fixada em 14% ao ano – com a previsão de um spread crescente em relação à Selic, dado o início do corte de juros. 

O tema é um dos mais flexíveis entre as captações já feitas pela Sitawi, diz Girardi, e o foco é mais social (as anteriores enfatizaram o meio ambiente).  

A explicação é a parceria com o Instituto Sabin, braço do homônimo grupo de diagnósticos, e a Próspera Social, um family office voltado para impacto socioambiental, ambos com foco mais generalista e voltado a projetos e iniciativas sociais.

Dos R$ 500 mil planejados para a Maranha (a foto acima mostra a gravação de uma das produções da empresa), R$ 150 mil foram desembolsados pelos investidores-parceiros. Os R$ 350 mil restantes serão levantados por meio da plataforma da Sitawi. Até o momento, 55% do total já foi arrecadado. Esse será o segundo investimento da Sitawi na Maranha, que quitou há alguns meses um empréstimo de R$ 215 mil contraído dois anos atrás.

Já o empréstimo coletivo para a Pappo atingiu 57% dos recursos até agora. A rodada começou no início de agosto e deve se estender até meados deste mês. 

A seleção das empresas

Os empréstimos coletivos liderados pela Sitawi seguem uma lógica que pondera parâmetros financeiros e de impacto do início ao fim do processo. 

Tudo começa com a busca pelos patrocinadores do projeto  – neste caso, Instituto Sabin e Próspera Social. Eles financiam a avaliação econômica, de impacto e da capacitação técnica dos empreendedores e ajudam a definir um tema para a rodada.

Feito isso, a Sitawi escolhe as companhias que receberão os recursos entre as cerca de cem que já foram pré-selecionadas e estão no pipeline da entidade. 

Os critérios são:

  • Capacidade financeira, para entender se a empresa tem perfil de crédito que mostre ser capaz de pagar a dívida; 
  • Atividade de impacto positivo comprovado e mensurável, que seja parte integral da estratégia da empresa e não apenas um acessório; 
  • Capacidade técnica, com análise do histórico de eficiência, investimentos e crescimento; e 
  • A “fibra ética da equipe”, que, apesar de ser um critério subjetivo, funciona como uma miniauditoria para entender o perfil de quem está à frente dos projetos, explica Girardi. 

Além do empréstimo, as organizações selecionadas recebem apoio da Sitawi em áreas como finanças e desenvolvimento de planos estratégicos. 

Conquista do CPF pelo propósito  

As oportunidades de investimentos oferecidas pela Sitawi recebem um ou outro investidor institucional, mas é das pessoas físicas que vem a maior parte dos recursos. 

“A plataforma [de empréstimos coletivos] foi lançada em 2019 e constituída originalmente com o intuito de democratizar o investimento impacto”, diz o vice-presidente. “As pessoas queriam investir em projetos bacanas e não tinham essa possibilidade. Agora, a partir de R$ 10, é possível fazer esse investimento e receber relatórios que demonstrem a evolução econômica e de impacto da organização”. 

Nas 12 rodadas anteriores, a Sitawi mobilizou R$ 27 milhões e apoiou 32 negócios. Desses, dois estão em meio à negociação de dívida e apenas um está  inadimplente. 

ESG vs. Impacto

Basta abrir um aplicativo de corretora para encontrar alguma alternativa de investimento que diz levar em consideração fatores ambientais, sociais e de governança – que compõem a sigla ESG. 

O ESG é a boca do funil, a porta de entrada para esse tipo de investimento. Ele abrange muito mais como é a atuação daquela empresa do que o que é feito por ela”, diz Girardi. “No nosso caso, focamos em organizações de impacto, que trazem essa questão para a essência de sua atuação.”

Ainda que limitadas, o investidor de varejo encontra algumas alternativas, como a Trê Investimentos. No mesmo molde de empréstimo coletivo da Sitawi, a iniciativa está com captação aberta de R$ 98 mil para uma escola de capacitação de mecânicos.