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Startup que remove CO2 no Brasil leva prêmio de US$ 15 milhões de Musk

NetZero conquistou primeiro lugar na categoria de soluções a partir da terra no XPrize Carbon Removal, que distribuiu US$ 100 milhões em prêmios 

Startup que remove CO2 no Brasil leva prêmio de US$ 15 milhões de Musk

A startup franco-brasileira NetZero foi uma das vencedoras de uma competição mundial para acelerar tecnologias de remoção de carbono. O XPrize Carbon Removal distribuiu US$ 100 milhões (cerca de R$ 575 milhões) para premiar soluções capazes de remover carbono em larga escala da atmosfera com sustentabilidade financeira. 

O objetivo do prêmio é encontrar tecnologias que ajudem na meta de remoção de 2,5 bilhões de toneladas (gigatoneladas) de CO2 por ano até 2030, para alcançar a meta global de remover ao menos 10 gigatoneladas anualmente em 2050. Esses são os volumes necessários para o mundo limitar o aquecimento global em 1,5ºC acima do período industrial, uma vez que apenas a mitigação não é mais suficiente. 

O primeiro colocado, que levou US$ 50 milhões do prêmio, foi a Mati Carbon. Baseada no Texas, nos EUA, a empresa desenvolveu um software para quantificar e validar a remoção de CO2 da atmosfera a partir do intemperismo acelerado de rochas – o pó de rocha

A NetZero ficou com o segundo lugar da competição geral e levou US$ 15 milhões (R$ 86 milhões, aproximadamente). Outro US$ 1 milhão (R$ 5,7 milhões) foi conquistado anteriormente em uma fase eliminatória. A startup também foi a vencedora da categoria de soluções ligadas à terra e à agricultura. Ela produz biochar, ou biocarvão, a partir de resíduos agrícolas, o que permite a fixação de dióxido de carbono no longo prazo. 

“Estamos muito felizes com o dinheiro, claro, mas o principal valor desse prêmio é o reconhecimento técnico da nossa tecnologia para remoção de carbono”, diz Olivier Reinaud, co-fundador e CEO da NetZero.

As inscrições para a competição, que acontece ao longo de anos, começaram em abril de 2021. Os times precisavam demonstrar que a tecnologia que possuem é capaz de remover 1 mil toneladas de carbono por ano, apresentar as projeções de custos para uma escala de 1 milhão de toneladas por ano, e mostrar que o negócio se sustenta em uma escala de 1 bilhão de toneladas de CO2 removidas da atmosfera atualmente. O critério de escolha do vencedor levou em conta a tecnologia mais escalável e de menor custo. 

Ao todo a premiação teve quatro categorias, a partir da rota tecnológica em que as soluções se inserem: ar, oceano, pedras e terra. 

A Fundação XPrize, criada em 1994 em Los Angeles, é uma grande franquia de competições globais para antecipar soluções tecnológicas para os grandes desafios da humanidade. 

Até hoje já foram lançadas 30 edições, com prêmios somados de mais de US$ 500 milhões, em áreas como saúde, educação, proteínas alternativas e escassez de água. Cada competição conta com um parceiro, que pode ser uma empresa, instituição filantrópica ou indivíduo, que doa o valor do prêmio em dinheiro e também apoia todo o processo. 

Essa edição foi patrocinada pela Fundação Musk, criada por Elon Musk, CEO da Tesla e da SpaceX, e seu irmão, Kimbal Musk, em 2021. O fundador da Tesla doou US$ 5,7 bilhões em ações da companhia para a fundação, que destinou parte do dinheiro para o XPrize. Mais recentemente, porém, Elon Musk tem ido na direção oposta ao que propõe a premiação ao embarcar no governo de Donald Trump, que retirou os EUA do Acordo de Paris e desmontou as políticas públicas federais voltadas ao clima.

Próximos passos

Os recursos do prêmio serão usados principalmente para a construção de novas plantas de biochar pela startup, segundo Reinaud. Hoje, o foco da NetZero está na produção de biochar a partir dos resíduos de plantações de café. As novas instalações serão voltadas para canaviais, com um novo modelo de negócio:  a startup prestará assistência técnica e fornecerá os equipamentos para que os produtores sejam capazes de produzir seu biochar a partir da biomassa de cana-de-açúcar.

“Nós vamos fornecer um serviço aos produtores, gerenciar tudo relacionado à certificação dos aspectos de carbono, que é uma das nossas especialidades, e os ajudaremos a comercializar os créditos de carbono com os compradores, principalmente na Europa e nos Estados Unidos”, diz Reinaud.

Hoje, a empresa opera no Brasil e em Camarões. Por aqui, duas plantas produzem biochar a partir da casca de café dispensada por produtores em Lajinha (MG) e Brejetuba (ES). Outras duas instalações estão sendo construídas em Minas Gerais, em com capacidades ligeiramente maiores. O custo varia de R$ 20 mil a R$ 30 mil por planta, de acordo com a NetZero.