OPINIÃO

Como a IA pode acelerar a economia circular

Tecnologia pode garantir mais eficiência na coleta e separação de resíduos e dar transparência e confiabilidade para toda a cadeia

Como a IA pode acelerar a economia circular

A inteligência artificial avança em todos os setores e aspectos da nossa vida, inclusive na reciclagem. As boas práticas ligadas à agenda ESG exigem métricas e ferramentas precisas para aferir os índices de sustentabilidade. Nesta década, será necessário tangibilizar a circularidade dos resíduos no mercado de consumo com a utilização desta tecnologia ao campo da reciclagem e logística reversa.

Processar e otimizar os volumes massivos de dados via algoritmos será fundamental para superar a enorme demanda represada.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010, obriga empresas e indústrias a promover a reciclagem das embalagens colocadas no mercado, por meio da logística reversa. Organizações de catadores e centrais de triagem e comercialização (homologadas juridicamente para este tipo de operação) compõem outra parte essencial do sistema que chamamos de economia circular. Essa longa cadeia requer mecanismos rigorosos de controles e aferições que conferem e garantem integridade a todas as etapas do processo.

A inteligência artificial pode ser uma importante ferramenta de checagem e validação. Considere o balanço de massa, uma conta que concilia o volume total reciclado durante um dado período de tempo. A inteligência sistêmica (a programação dos algoritmos) assegura que não haverá disparidade entre o que está no estoque e o que será colocado à venda no mercado, dando autenticidade às notas fiscais em circulação no mercado. 

A partir do momento em que as empresas informam quantas toneladas de resíduos e embalagens pós-consumo foram geradas pela venda dos produtos, a companhia responsável pela operacionalização de logística reversa calcula a pegada ambiental equivalente à quantidade de embalagens. As marcas pagam pelo serviço ambiental de coleta, triagem e envio de embalagens para a reciclagem dentro do acordo estipulado por ambas empresas, o percentual do total a ser reciclado.

Após o endosso da simulação, o software  efetiva o processo de compensação e validação, que leva posteriormente ao certificado ambiental, emitido após o escrutínio externo de uma auditoria independente, outro passo importante para referendar o trâmite.

O sistema de logística reversa se baseia na compensação ambiental e semelhante aos créditos de carbono: com ele as empresas podem terceirizar o serviço de recolher as embalagens descartadas pelos consumidores.

Coleta e separação 

A IA decodifica uma gama ampla de terminologias não-reconhecidas, que causavam lentidão no processo da leitura de dados. Utilizamos a IA com o objetivo de classificar, de acordo com a análise de cada item das notas fiscais, se a mesma está tratando de resíduos de embalagens pós-consumo.

Esse mecanismo possibilita mais precisão e transparência quanto à emissão das notas fiscais relativas à massa reciclada (que atesta tudo que entrou e que foi reciclado), o que aumenta a precisão fiscal e o lastro financeiro, permitindo maior transparência às operadoras de logística reversa que prestam serviços ao setor privado.

Entre as tendências e oportunidades tecnológicas relevantes para a gestão de resíduos sólidos nesta década, identificamos ainda os sistemas de visão computacional baseados em IA. Eles podem precisar diferentes tipos de materiais em fluxos de resíduos, facilitando a separação e a reciclagem. Essa tecnologia poderá ser especialmente útil em grandes centros de triagem, onde os volumes são grandes. Este é um aspecto fundamental, pois o software é treinado e permite que uma quantidade muito maior de resíduos seja identificável com mais precisão e rapidez.

Além disso, a tecnologia IA pode otimizar as rotas de coleta de resíduos e seus diferentes tipos de especificidades dentro da cadeia (o vidro, por exemplo, é mais delicado em seu transporte), considerando os variados fatores como localização dos pontos de coleta, o tipo de material e a capacidade dos veículos, garantindo uma coleta eficiente a fim de reduzir os custos operacionais e proporcionando segurança aos clientes.

É importante lembrar que, mesmo com desenvolvedores que operam em parceria com a iniciativa privada, a ampliação da agenda regulatória e da fiscalização pública sobre o tema, além dos investimentos em inovação, são necessários para manter o escopo de ações ligadas à mitigação do aquecimento global. Acompanhamos com imenso interesse e curiosidade os desenvolvimentos e desdobramentos relativos à IA e suas contribuições para um futuro mais justo, equitativo e sustentável.

* Luis Marciano é CTO da eureciclo