Equilíbrio de forças deve segurar ESG bonds na casa de US$ 1 tri, diz Moody’s

América Latina e Europa devem contrabalancear o efeito Trump nos EUA; COP30 fortalece expectativas para Brasil e região

Equilíbrio de forças deve segurar ESG bonds na casa de US$ 1 tri, diz Moody’s
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A emissão de títulos sustentáveis deve ficar estável neste ano, projeta a agência de classificação de risco de crédito Moody’s. Apesar da preocupação crescente – e justificada – com a agenda climática de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, um equilíbrio de forças ao redor do globo, com mercados com foco no desenvolvimento sustentável, deve dar suporte a esse mercado. 

“Se nossa previsão for concretizada, 2025 representaria o quinto ano consecutivo de cerca de US$ 1 trilhão em emissão de títulos sustentáveis, após um recorde de US$ 1,1 trilhão de 2021”, escrevem os analistas da Moody’s em relatório.

Esses volumes são consistentes com um mercado cada vez mais maduro e estabelecido, de acordo com a Moody’s, mas a estagnação sugere que alguns participantes estão sendo desencorajados a emitir dívidas que beneficiem projetos sociais ou ambientais

A agência observa que o ambiente fica cada vez mais complexo com diferentes atores atentos a indícios de greenwashing, a evolução de padrões e regulamentações e “ventos políticos contrários em alguns países” que devem sufocar a evolução dos títulos sustentáveis. 

Sem citar Trump nominalmente, os analistas afirmam que a agenda climática do novo governo irá divergir fortemente da estabelecida pelo ex-presidente Joe Biden, com apoio renovado à indústria de combustíveis fósseis, menos financiamento para energias renováveis e tecnologias verdes e flexibilização das regulamentações ambientais. 

“Dado o investimento contínuo de partes do setor privado e de certos governos estaduais e locais, juntamente com a já baixa penetração de títulos sustentáveis no mercado dos EUA, não esperamos um declínio adicional significativo dos volumes de títulos sustentáveis do país em 2025. No entanto, o cenário político em evolução limitará qualquer recuperação na emissão.”

A disparidade do contexto político e das exigências regulatórias em cada localidade fará com que as tendências para o mercado de ESG bonds sejam regionais, não globais. 

Impulso da COP30? 

Com os olhos voltados para a COP30 em Belém, a América Latina e o Caribe têm potencial de reverter a queda nas emissões de dívidas neste ano. Em 2024, a região emitiu US$ 39 bilhões em ESG bonds, 29% a menos que o recorde registrado no ano anterior. 

“Esperamos um aumento nas operações de emissores brasileiros, bem como de outros pares regionais, ao longo do ano, semelhante às tendências observadas antes de outras cúpulas da COP. Além da COP, as grandes emissões soberanas continuarão a basear os volumes na região”, diz a Moody’s. 

A previsão vai na contramão da feita por analistas na XP Investimentos, que esperam um ano mais fraco para o segmento no Brasil, por conta da elevação de juros prevista para os próximos meses. As operações devem ter volumes mais baixos, ao passo que atores de menor porte também passem a acessar essa alternativa de fonte de recursos, avaliam. 

Atlas distorcido

Como ocorre desde 2017, a Europa deve seguir como a principal emissora dos títulos sustentáveis, prevê a Moody’s. O mercado é o mais robusto do mundo e conta com diversos emissores em diferentes setores e países do continente.

Em mais um passo nesta consolidação, a União Europeia desenvolveu um “padrão-ouro” para as dívidas sustentáveis, que entrou em vigor no mês de dezembro. Entre outros critérios, os “green bonds europeus” que forem emitidos terão que ter pelo menos 85% de seus recursos alinhados à taxonomia do bloco econômico. 

Ainda que a aderência seja moderada no início, com o estudo por parte dos emissores e avaliação da demanda, o estabelecimento desse padrão-ouro pode apoiar o crescimento do mercado, avalia a agência.

A região Ásia-Pacífico deve permanecer em segundo lugar, com os fortes investimentos para a transição energética. Já na América do Norte, a previsão é de que as emissões sigam em um ritmo tênue como foi no ano passado – em 2024, foram emitidos US$ 124 bilhões em ESG bonds, 30% a menos que em 2021. 

O Oriente Médio e a África devem continuar com a menor participação regional neste ano. As emissões em 2024 caíram 21% em relação ao ano anterior, quando Dubai recebeu a COP28. 

Tipos de títulos

A projeção da Moody’s é que sejam emitidos US$ 620 bilhões em títulos verdes, US$ 150 bilhões em títulos sociais, US$ 175 bilhões em títulos de sustentabilidade (que combinam aspectos sociais e ambientais), US$ 20 bilhões em títulos de transição e US$ 35 bilhões em títulos atrelados à sustentabilidade (SLBs).

Os SLBs devem ser pressionados e, ainda que cresçam na comparação com 2024, seguir em menos da metade da média anual de US$ 80 bilhões entre 2021 e 2023. 

“Esperamos que muitos emissores continuem receosos de acessar o mercado SLB, porque o escrutínio dos investidores sobre a ambição da meta e a materialidade financeira persiste”, escrevem.

A agência espera que projetos de mitigação climática, como a oferta de energia renovável e desenvolvimento de edifícios verdes, continue no foco dos emissores. Ao mesmo tempo, o interesse crescente na adaptação climática e em soluções baseadas na natureza devem ter reflexos sobre as emissões.