O ano de 2024 foi marcado por incertezas macroeconômicas, tensões geopolíticas e eventos climáticos extremos. Sem olhar para o retrovisor, mas 2025 já começou e tudo indica que seguiremos diante de desafios no cenário global e doméstico, o que deve reverberar para a agenda ESG. Mesmo considerando sua natureza de longo prazo, algumas temáticas surgem com maior força e imediatismo, tornando-se boas oportunidades de investimento em 2025. Abaixo, exploramos cinco principais tendências que devem ganhar tração em 2025 como relevantes na tomada de decisão de investidores institucionais.
Transição energética ganha mais força
A Organização Meteorológica Mundial confirmou: 2024 foi o ano mais quente já registrado. Pela primeira vez, a temperatura média global ficou 1,5oC acima dos níveis pré-industriais. Com isso, é pouco provável que o mundo atinja a meta do Acordo de Paris de promover esforços para limitar o aumento a 1,5oC. Sem sinais de desaceleração das emissões de gases de efeito estufa, a necessidade da transição para fontes limpas nunca foi tão urgente.
O progresso é lento, mas ele acontece. Prova disso é que a capacidade de energia renovável globalmente vem aumentando, impulsionada principalmente pela China. Além disso, os investimentos em renováveis também não param de crescer e, em algumas partes do mundo, já superaram aqueles em combustíveis fósseis.
Os dados surpreendem. E o Brasil pode desempenhar um papel importante nessa história, ampliando a oferta de soluções para a transição energética. Abundante em recursos naturais e com vastas extensões de terras, além de uma matriz energética limpa (88% vs. a média global de 29%), o país oferece sólidas oportunidades de investimentos quando se trata da corrida pela descarbonização global.
Em 2025, esperamos investidores institucionais mais dispostos a alocar recursos em soluções emergentes, de olho em oportunidades relacionadas a eficiência energética, armazenamento e baterias, e a infraestrutura climática.
Inteligência artificial eleva a demanda por energia
Inteligência artificial (IA) é a bola da vez? Tudo indica que sim. Por um lado, ela pode ajudar a amenizar os efeitos das mudanças climáticas. Por outro, a rápida expansão da infraestrutura relacionada à IA, especialmente os data centers, possui um crescente impacto ambiental, elevando a demanda por energia, o consumo de água e a produção de lixo eletrônico.
Dentre os impactos esperados, o aumento da demanda por energia é, talvez, o mais significativo para o Brasil. Embora data centers representem menos de 1% do consumo global de energia atualmente, dados da McKinsey mostram que, para manter o ritmo de adoção da IA, a demanda por energia deve triplicar até 2030. E como as grandes empresas de tecnologia vão suprir essa demanda? Na nossa visão, primordialmente via fontes de energia limpa. E é aqui que o Brasil pode desempenhar um papel importante. O país tem o potencial de se tornar um polo de data centers, principalmente à medida que empresas de tecnologia priorizam o acesso à energia limpa em decisões de investimento. Mas não só porque temos fontes limpas (e baratas), mas também porque temos uma rede interconectada que permite operações ininterruptas.
Contudo, claro que não esperamos que milhares de data centers comecem a se instalar no país num piscar de olhos. Mesmo sendo uma aposta de longo prazo, algumas empresas já deram o pontapé inicial. No ano passado, por exemplo, a Microsoft anunciou R$14,7 bilhões em investimentos no país ao longo de três anos para aprimorar sua infraestrutura de nuvem e IA. E, olhando para frente, esperamos que anúncios como esse aumentem ao longo do ano.
Governança como fator (ainda mais) crítico para acionistas
Mesmo não sendo um tema novo para investidores, temos visto um olhar mais minucioso para critérios de governança corporativa na tomada de decisão de investimentos. Diferentemente de outros países, o Brasil carece de uma cultura robusta de ativismo acionário, com poucas gestoras de fato mantendo um relacionamento ativo com as empresas investidas. No entanto, isso vem mudando, ainda que lentamente. Do exercício do voto em AGO/E, até a indicação de Conselheiros, temos visto maiores esforços de engajamento, visando influenciar melhores práticas de governança.
Chegamos à metade de uma década decisiva para a ação climática
Quando assumiram – publicamente – metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, muitas empresas colocaram como alvo o ano de 2030. Ou seja, chegar em 2025 significa que estamos no meio do caminho de uma importante década para a ação climática. Em outras palavras, entramos num ano oportuno para que as empresas monitorem quão perto (ou mais provável, o quão longe) estão de cumprir seus objetivos. Mais do que isso, questionem o que precisa ser revisto para chegarem lá. Do ponto de vista dos investidores, esperamos um maior foco na busca por maneiras de responsabilizar, e eventualmente até recompensar, as companhias que estiverem mais próximas de atingir seus compromissos.
2025, então, será o ano de traduzir compromissos em ações, e há muito a ser feito. De acordo com dados da MSCI e da Accenture, apenas 16% das empresas de capital aberto estão no caminho certo para atingir emissões líquidas zero referentes a suas operações (escopos 1 e 2) até 2050.
Os preparativos do Brasil para a COP30
Entre 10 e 21 de novembro, Belém será sede da maior e mais importante conferência anual do clima, a 30ª Conferência das Partes (COP30). Para contribuir com as expectativas (que já são altas, diga-se de passagem), a COP30 acontece 10 anos após a assinatura do Acordo de Paris, em 2015, e coincide com o prazo para os países enviarem novas Contribuições Nacionalmente Determinada (NDC, em inglês).
Qual a importância de o Brasil sediar o evento? A COP30 é uma boa oportunidade para o país ampliar sua influência na diplomacia climática global. Na nossa visão, podemos desempenhar um papel importante como mediador, ajudando a destravar negociações e a superar eventuais impasses para incentivar a adoção de compromissos mais ambiciosos.
E o que deve permear a agenda? Além do financiamento climático, pauta que já é figurinha repetida nas últimas edições do evento, temas como uso da terra, desmatamento, biodiversidade e capital natural devem ganhar ainda mais força.
Marcella Ungaretti é sócia e head do Research ESG da XP.
Luiza Aguiar é analista sênior do Research ESG da XP.