Incêndios em Los Angeles podem custar US$ 20 bi a seguradoras

Estimativa é do banco JP Morgan; fogo ainda não está sob controle e previsão  de ventanias no fim de semana pode espalhar o fogo

Helicópteros combatem incêndio em Los Angeles
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Os incêndios devastadores que atingem Los Angeles e os arredores da segunda maior cidade dos Estados Unidos podem custar às seguradoras US$ 20 bilhões de dólares – ou mais, se os bombeiros não conseguirem controlar o fogo rapidamente, o que ainda é incerto por causa dos fortes ventos previstos para os próximos dias.

A estimativa, feita pelo banco JPMorgan, dobrou entre ontem e esta quinta-feira (9) e traz à tona mais uma vez a crise dos seguros no Estado. No bairro rico de Pacific Palisades, uma encosta com vistas sobre o Pacífico, 69% das apólices residenciais tiveram as renovações canceladas pela seguradora State Farm, a maior do mercado californiano.

Somente entre 2020 e 2022, 2,8 milhões de contratos no Estado deixaram de ser renovados, a maioria por decisão das seguradoras, segundo dados oficiais. Desse total, mais de 500 mil ficam no condado de Los Angeles.

Novos contratos também têm sido rejeitados pelas grandes companhias americanas na Califórnia, por causa de incêndios de grandes proporções cada vez mais intensos e frequentes graças à mudança do clima.

Elas alegam que exigências regulatórias (que são de competência estadual nos EUA) impedem a cobrança de prêmios que reflitam a nova realidade do clima.

Embora não seja possível estabelecer uma ligação direta entre os incêndios destes últimos dias e a mudança climática, há alguns sinais, afirmam os cientistas. Um deles é um ano de pouquíssimas chuvas na região no último ano.

Mudanças nas correntes de ar causadas pelo derretimento do gelo no Ártico também podem ter relação com a intensidade das ventanias Santa Ana, típicas desta época do ano e que estão especialmente intensas agora, espalhando o fogo rapidamente.

A conexão entre a emergência planetária e os incidentes registrados é conhecida como “atribuição”, uma área da ciência em desenvolvimento, mas os dados da indústria de seguros são inequívocos.

No ano passado, furacões, incêndios e outros desastres geraram perdas de US$ 320 bilhões globalmente, um aumento de cerca de 30% em relação a 2023, de acordo com a Munich Re, maior resseguradora (seguradora de seguradoras) do mundo.

Desse total, cerca de US$ 140 bilhões estavam cobertos por apólices. Foi o maior impacto para o setor desde 2017, quando um trio de furacões atingiu os Estados Unidos.

Pressão sobre a Califórnia

A situação atual em Los Angeles aumenta a pressão sobre o programa estatal FAIR, que funciona como um seguro de última instância para a Califórnia. O número de apólices contratadas pelo FAIR mais que dobrou entre 2020 e 2024.

Mas há sinais de que a solução não seja sustentável. Em primeiro lugar, essas apólices custam mais caro que as tradicionais, e oferecem menos cobertura.

O FAIR deveria ser procurado somente ao se esgotarem as alternativas comerciais. O crescimento inesperado da demanda leva “empresas tradicionais a deixar certas áreas, aumentando a dependência no FAIR. Esse ciclo, no fim das contas, pode afetar a estabilidade financeira” do programa, escreveu o responsável pela comissão de seguros do Estado, Ricardo Lara, em boletim.

Em setembro passado, quando foi feita a comunicação, o programa tinha uma exposição de US$ 431 bilhões a incêndios residenciais, um aumento de 60% em relação ao ano anterior.

Novos cálculos

Em 30 de dezembro, a Califórnia anunciou a etapa final da chamada Estratégia Sustentável de Seguros, cujo objetivo é devolver a estabilidade ao setor diante dos desafios impostos pela crise climática.  

Entre as medidas previstas estão a liberação do repasse de parte dos custos dos resseguros para os consumidores e a possibilidade de usar novas modelagens para cálculo de riscos.

O Estado era o único do país a impedir que as empresas embutissem esse tipo de custo nos valores cobrados dos clientes.

Também há obrigações de abrangência mínima de cobertura em áreas de alto risco. O cálculo será baseado na participação de mercado estadual detida pelas companhias.

O plano foi criticado pela ONG de defesa dos direitos do consumidor Consumer Watchdog. Em entrevista à CNN, Carmen Balber, diretora da entidade, afirmou que a reforma vai na prática significar um aumento de 40% a 50% nos preços pagos pelos californianos.

Já a associação setorial Insurance Information Institute defendeu as novas regras. Apesar da rentabilidade nos anos recentes, o setor perdeu uma década de lucros com dois anos seguidos de incêndios massivos, em 2017 e 2018.