O Timberland Investment Group (TIG), braço de investimento em florestas do banco BTG, alcançou o marco de US$ 500 milhões levantados para o seu fundo de reflorestamento da América Latina. Em meio à captação, o plantio das mudas já começou no Cerrado, bioma em que a empresa deve concentrar seus esforços pelo menos até o ano que vem.
O fundo foi lançado há três anos com o objetivo de captar US$ 1 bilhão para reflorestar mais de 260 mil hectares – metade com plantas nativas para restaurar ecossistemas e outra metade com espécies exóticas, como pinus e eucalipto, para fins comerciais. A exploração de madeira e a geração de créditos de carbono serão as fontes de receita dos projetos.
O TIG começou os investimentos ao fim de 2022 e, até o momento, soma investimentos em 46 mil hectares no Mato Grosso do Sul, quase 20% da área que espera abranger em sua estratégia. Para 2025, o plano é chegar a 10 mil hectares em restauração. “A nossa expectativa é fazer os investimentos no intervalo de três a cinco anos”, diz Mark Wishnie, diretor de sustentabilidade e responsável pela estratégia de reflorestamento do TIG.
Um dos principais desafios no processo de investimento em capital natural é a escolha da localização, afirma o executivo. “Estamos sendo muito cuidadosos com essa parte, buscando entender o contexto e as condições das áreas que gerimos, porque devemos permanecer ali por ao menos 15 anos.”
A primeira venda de créditos de carbono do TIG foi anunciada em junho deste ano, quando a Microsoft comprou 8 milhões de unidades (cada uma corresponde a uma tonelada de carbono evitada ou removida do ar). Em setembro, foi a vez de a Meta adquirir 1,3 milhão de créditos.
Escala no Cerrado
Quando se pensa em créditos de carbono, o primeiro bioma que vem à mente é a Amazônia, onde está concentrada a maior parte dos projetos brasileiros que visam proteger a floresta.
No entanto, o Cerrado tem atraído a atenção pelos altos índices de degradação da terra e sensibilidade às mudanças climáticas. Enquanto o desmatamento na floresta amazônica caiu no último ano, no Cerrado, a taxa foi na contramão e aumentou 23%. Já em 2024, o bioma sofreu a maior seca em centenas de anos e registrou milhares de focos de incêndio.
Foi no Cerrado que o TIG entendeu que haveria a possibilidade mais imediata de plantar em grande escala em um curto espaço de tempo, segundo Wishnie. As áreas individuais de cada propriedade tendem a ser maiores do que as da Mata Atlântica, por exemplo, e as condições ecológicas são bastante favoráveis para uma restauração bem sucedida na região, diz ele.
Se por um lado as condições do local atraem investimentos bilionários para a produção de florestas comerciais, por outro, o conhecimento sobre restauração e a cadeia de valor do setor ainda são embrionários. “Ninguém antes tentou restaurar florestas deste tamanho no Cerrado, então estamos desenvolvendo técnicas para equilibrar o custo e o resultado”, afirma o executivo.
O TIG tem uma parceria com o Laboratório de Restauração Florestal, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, para realizar experimentos em grande escala nos primeiros investimentos. A ONG Conservação Internacional também colabora com o projeto.
Parte da estratégia bilionária envolverá o desenvolvimento de corredores ecológicos, que conectem os diversos fragmentos do Cerrado. Esse tipo de vegetação é essencial para a manutenção da biodiversidade.
Cadeia de valor
Ainda que não abundantes, os viveiros existentes são suficientes para suprir a demanda atual de sementes, na visão de Wishnie, e ONGs parceiras do TIG oferecem capacitações para os membros das comunidades locais que se interessem em atuar como coletores de sementes.
“Isso não só fortalece as cadeias de valor da restauração das quais nós dependemos, mas também cria uma fonte de renda para algumas das comunidades em que investimos, que são relacionadas à restauração e à bioeconomia”, diz. “Precisamos, sim, de cadeias de valor mais fortes em todos os lugares, mas na minha experiência, aqui no Brasil elas já estão melhor desenvolvidas do que em muitos outros lugares da região.”
Outros biomas brasileiros e latino-americanos estão no radar da empresa, que segue a captação dos outros US$ 500 milhões para restaurar a região. No portfólio de investidores do fundo, estão a International Finance Corporation (IFC), do Banco Mundial, a Instituição Financeira de Desenvolvimento dos Estados Unidos (DFC, na sigla em inglês), o Banco Holandês de Desenvolvimento Empresarial (FMO, na sigla em inglês) e o governo do Reino Unido.
Um dos maiores gestores de florestas do mundo, o TIG conta com US$ 7,2 bilhões entre ativos e compromissos financeiros e quase 2,8 milhões de hectares nos EUA e América Latina na carteira.