Diminuir a pegada de carbono é uma preocupação cada vez mais presente no mundo corporativo. A primeira pergunta que vem à mente dos executivos é como fazê-lo. A segunda, diz Maria Fujihara, é “quanto custa”?
A brasileira Fujihara é cofundadora e CEO da Sinai Technologies, uma startup com sede em San Francisco, na Califórnia, que produz um software que une a contabilidade de gases de efeito estufa de um negócio e os diferentes cenários para realizar os cortes de emissões.
Em seis anos de vida, a empresa já recebeu US$ 40 milhões em capital de risco e conquistou clientes em 60 países, incluindo no Brasil. Embora a lista seja formada por companhias de vários setores, Fujihara diz que o foco são aqueles de mais difícil descarbonização.
“Damos muito suporte para as indústrias hard-to-abate, que têm seus escopos 1 e 2 maiores”, diz ela, em relação às emissões da atividade direta da empresa e as que estão associadas à energia adquirida.
“O escopo 3 [da cadeia de valor] é uma ilusão, é sempre o escopo 1 e 2 de alguém.” Setores como metais, petróleo e gás, transporte e agricultura – todos fornecedores de insumos – são a prioridade da startup.
Eis um exemplo prático. Uma parte significativa das emissões indiretas de uma montadora é o CO2 gerado na fabricação do aço que ela compra de uma siderúrgica – e um dos clientes da Sinai é justamente a gigante ArcelorMittal.
Faz mais sentido atacar essas emissões direto na fonte do que tentar estimá-las dentro da cadeia de fornecimento, especialmente as que são longas e complexas, afirma Fujihara.
As contas de escopo 3 podem ter variações de “até 900%”, diz a fundadora. “São números muito imprecisos.”
O preço do carbono
O interesse de Maria Fujihara na mudança climática vem de família. Seu pai é Marco Antonio Fujihara, um dos pioneiros dos mercados de carbono no Brasil e até o mês passado coordenador-executivo do Fórum Brasileiro do Clima.
Formada em Arquitetura e Urbanismo, Maria deu início à carreira na área de construção sustentável e foi só depois de um programa voltado para tecnologia e mudanças climáticas, na Singularity University, que ela mergulhou no mundo tech. Já no Vale do Silício, junto ao cofundador e CTO Alain Rodriguez, nasceu a Sinai. O nome, além de remeter à península egípcia, é a abreviação de ‘Sustainable Investments with Artificial Intelligence’.
O produto da empresa é um software voltado para os tomadores de decisão. O sistema da Sinai faz com os dados climáticos de uma companhia o mesmo que um módulo de business intelligence que mastiga a enorme quantidade de informações contida num sistema de gestão corporativo.
O ponto de partida são os inventários de emissões, um tipo de levantamento que muitas companhias já fazem há alguns anos. O objetivo da Sinai, afirma a fundadora, é passar da informação à ação.
Ela dá o exemplo de uma frota de veículos. “Você pode pegar o consumo de combustível, multiplicar por um fator de emissão e reportar esses dados”, diz Fujihara.
“Mas para realmente agir, você precisa entender quais combustíveis são esses, onde eles são produzidos, em qual veículo são transportados… As opções de mitigação vão ser completamente diferentes”.
Com base nas alternativas disponíveis – a substituição por veículos elétricos, por exemplo –, o software exibe qual seria a curva de redução das emissões no tempo e quanto custaria cortar cada tonelada de CO2.
A ideia é colocar o desafio climático em uma linguagem que os gestores entendem: retorno do investimento, cash flow, custos marginais e assim por diante.
O software também permite simular variáveis como as perspectivas de crescimento do negócio e como elas vão afetar tanto um eventual lançamento de mais carbono na atmosfera quanto os custos da mitigação.
Esse exercício é essencial, diz Fujihara. “Só então começamos a identificar as soluções. Questionamos, por exemplo, como é possível reduzir o consumo de diesel no caso de uma empresa que prevê crescer 10% ao ano.”
Um dos desafios é que, em muitas organizações, o time de sustentabilidade ainda é novo e o último a receber ferramentas dentro das corporações, afirma a fundadora. “Esse mercado inteiro está sendo construído e consolidado agora. As empresas ainda não sabem como comprar software de sustentabilidade ou de clima, e como cada um deles é categorizado.”
O Brasil, Estados Unidos e Japão são os três maiores mercados da startup. Por aqui, a Sinai atende clientes como Boticário, Natura e Siemens.