Baku, Azerbaijão – Egito, Emirados Árabes Unidos e Azerbaijão: este é o terceiro ano seguido em que a COP é realizada em países autoritários, que proíbem manifestações políticas e nos quais a ideia ocidental de liberdade de expressão significa pouco na prática. Os poucos protestos que acontecem costumam ser reprimidos violentamente. Opositores dos governos são silenciados ou estão presos. Desde 2022, violações de direitos humanos são um dos panos de fundo das conferências do clima.
A mudança será sensível daqui um ano, em Belém. Esperam-se enormes mobilizações pelas ruas da cidade, organizadas e espontâneas, de centenas de organizações brasileiras e estrangeiras na órbita das COPs climáticas. O ímpeto de ir pra rua está represado desde Glasgow, na Escócia, que recebeu a COP26.
Truculência
Pelo menos quatro azerbaijanos foram presos dentro da COP. Em um dos casos, registrado em vídeo por um jornalista da RBS, um homem ergue um cartaz pedindo o fim da matança de cães de rua e parece dizer algo sobre a política do país. Ele foi imediatamente detido e arrastado para fora, junto com duas outras mulheres. Não fica claro por que elas foram detidas – aparentemente elas estavam somente observando. Dias depois, um funcionário que reclamou das condições de trabalho impostas aos locais também foi levado pela segurança.
‘Trilhões, não bilhões’
Em Baku, há dois pequenos cercadinhos para manifestações no saguão que dá acesso à área dos estandes nacionais. O formato tradicional é uma fileira de pessoas ao fundo com faixas, e cartazes e bandeiras, e outra puxando palavras de ordem amplificadas por caixas de som portátil. Um dos hits na COP29 é: “Trilhões, não bilhões!”, sobre a necessidade de financiamento para os países em desenvolvimento.
Na arquibancada
Um protesto teve impacto visual marcante. Um grupo de ativistas teve acesso às arquibancadas do Estádio Olímpico e escreveu “Pay up!” (paguem) em grandes letras de tecido. Parece ter se tornado o o slogan oficial dos manifestantes nesta COP do financiamento. Mas a ação só foi vista em vídeos e fotografias, pois as tendas montadas no nível do gramado não têm janelas e o acesso aos assentos do estádio é bloqueado.
Parada de sucessos
Uma organização africana optou pela música (acima). Com cartazes pedindo “doações, não empréstimos” e acompanhados por um violão, ele cantavam uma música cuja letra fala em “mais que dobrar” os recursos para a adaptação climática.
Marcha sobre o carpete
O Estádio Olímpico fica numa área remota, entre o centro da cidade e o aeroporto de Baku. Não há nada em volta, e as redondezas estão repletas de carros de polícia e soldados do Exército. Não haveria quem assistisse uma eventual manifestação do lado de fora da COP – e, de qualquer modo, protestos nas ruas não são permitidos. O jeito foi fazer uma caminhada pelos corredores. “Foi a primeira marcha sobre um carpete da história”, comentou resignado um brasileiro que participou do ato.
Na moda
O keffyeh, lenço com padrão em branco e preto típico associado ao movimento de libertação dos palestinos, nunca saiu de moda entre ativistas de todas as causas, mas o adereço cresceu em popularidade desde a COP do ano passado por causa dos ataques de Israel em Gaza e no Líbano. Protestos contra o massacre de civis pelas Forças Armadas israelenses (acima) são os únicos que fugiram ao tema do clima.