Precisamos acreditar nas ameaças de Trump, diz líder climático americano

Presidente eleito vai tentar dar meia volta em políticas de Biden e deve sair novamente do Acordo de Paris, afirma John Podesta

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Baku, Azerbaijão – John Podesta, a mais alta autoridade climática dos Estados Unidos, afirmou que “é claro que o novo governo [de Donald Trump] vai tentar dar meia volta” nas políticas verdes do país.

“Em janeiro, daremos posse a um presidente cuja relação com a mudança climática é capturada pelas palavras ‘farsa’ e ‘combustíveis fósseis’”, afirmou Podesta em um breve pronunciamento à imprensa na COP29 antes de responder a perguntas dos jornalistas.

Mas o representante americano afirmou que a luta contra o aquecimento global é “maior que um governo, um ciclo político em um país”.

A vitória de Donald Trump na semana passada paira sobre a conferência do clima da ONU. Em 2017, no início de seu primeiro mandato, o republicano tirou os EUA do Acordo de Paris. Ele deve fazer o mesmo novamente, segundo Podesta. “Temos que acreditar nele.”

Um eventual abandono dos americanos será um golpe duro da cooperação global pela descarbonização, num momento em que os eventos climáticos extremos crescem em intensidade e frequência.

Podesta mencionou uma longa lista de eventos registrados em 2024, incluindo tufões no Sudeste Asiático que causaram prejuízos de mais de US$ 16 bilhões e os incêndios na Amazônia e no Pantanal. “Nada disso foi uma farsa”, afirmou. “São questões de vida ou morte.”

“Estou plenamente ciente da decepção que, em certas ocasiões, os Estados Unidos causaram para as partes do regime [climático internacional], que passaram de uma liderança engajada e efetiva seguida por um repentino desengajamento depois de uma eleição presidencial.”

Otimismo reservado

Em uma tentativa de transmitir otimismo, o americano disse que o megapacote ambiental de Biden se baseou em incentivos governamentais, mas é “crucialmente liderado pelo setor privado”. Nos quase quatro anos desde a posse de Joe Biden, companhias do país investiram mais de US$ 450 bilhões em projetos de energia limpa, afirmou Podesta.

Quase seis de cada dez novos empregos criados na esteira do pacote verde ficam em distritos eleitorais dominados por políticos do Partido Republicano. A pressão dos eleitores, na visão de Podesta, será uma força importante para a manutenção das políticas voltadas à transição.

“Enfrentaremos ventos contrários? Sem dúvida. Mas voltaremos ao sistema de energia dos anos 1950? De jeito nenhum. Estamos aqui [na COP29] para manter viva a meta de 1,5°C.”

Finanças climáticas

Em relação ao financiamento climático para os países em desenvolvimento, o tema mais importante da conferência este ano, Podesta sinalizou que os Estados Unidos insistirão na expansão da base de doadores.

Traduzindo: o país, junto com outras nações ricas, quer que os grandes poluidores entre os emergentes – leia-se a China – também ajudem a pagar a conta da adaptação dos mais vulneráveis à mudança do clima.

A China é hoje a maior emissora de gases de efeito estufa. Em termos históricos, o país fica em segundo lugar, atrás justamente dos Estados Unidos.

“Já argumentamos isso. Existem partes capazes [de ajudar a arcar com esse custo]. Não estamos mais em 1992, em termos da estrutura econômica do mundo.”

Podesta também indicou que os negociadores americanos vão dar ênfase ao “como” nas discussões sobre dinheiro. “Ficamos muito tempo falando do ‘quanto’. Mas há um trabalho muito importante para melhorar o acesso ao financiamento.”

As barreiras enfrentadas para conseguir recursos é uma das demandas dos países vulneráveis – mas aumentar os valores prometidos ainda são a prioridade.

(Texto atualizado às 15h53 para corrigir o nome da autoridade climática dos EUA)