NOVA YORK – Com US$ 43 bilhões sob gestão, o Pátria Investimentos acaba de criar uma vertical dedicada a investir em ativos ambientais. A primeira iniciativa é o lançamento de um fundo de reflorestamento, com o qual planeja levantar US$ 100 milhões.
“Não vamos parar em reflorestamento, vamos ampliar o escopo de fundos ligados à agenda climática”, diz Pedro Faria, sócio do Pátria, ao Reset.
O Reflorest Fund fará jus à estratégia pela qual a gestora é reconhecida: o investimento em ativos alternativos. Diferentemente de outros fundos, que costumam focar no reflorestamento da Amazônia, o Pátria vai colocar dinheiro na Mata Atlântica.
O bioma foi escolhido por ser o mais degradado (71% da floresta tropical nativa foi desmatada, segundo o Inpe) e por estar perto das maiores cidades do país, com ampla infraestrutura de logística. Também é o único bioma a ter uma norma específica, a Lei da Mata Atlântica, de 2006.
O plano é comprar terras degradadas e combinar duas atividades nelas: restaurar a floresta com árvores nativas (como ipê e pau-rosa) e exóticas (mogno africano), além de cultivar plantações como a de cacau e café. Com isso, o fundo espera ter renda da venda de créditos de carbono, madeira de alto valor e produtos agrícolas.
Segundo Faria, essa diversificação é uma forma de reduzir o risco da tese de investimentos.
“Há o modelo que é o restauro ecológico puro, em que a única fonte de receita é o crédito de carbono, e tem o modelo do restauro ecológico produtivo, que aí tem a madeira, o café, o cacau, a juçara e a própria terra.”
Investidores
A meta da gestora é retornar dinheiro aos investidores em 15 anos, com rendimentos anuais de até 12% em dólares.
Os primeiros aportes no fundo foram feitos por sócios da gestora e investidores pessoas física de alta renda. Na próxima segunda-feira, a gestora abre para sua base de clientes, formada por investidores institucionais.
“A gente precisa fazer o casamento perfeito entre um ativo com um perfil de muito longo prazo, estamos falando de 15 anos, com um investidor com o mesmo horizonte de investimento”, diz o sócio do Pátria.
A gestora espera captar também com bancos de fomento, organismos multilaterais e empresas que buscam contratos de offtake para compra de créditos de carbono.
A gestora já fechou o primeiro contrato do tipo, com a Shopify, garantindo a compra de créditos de carbono por US$ 75 a tonelada. “O negócio elucida o nível de qualidade dos projetos que a gente está desenvolvendo”, diz Faria.
O negócio foi trazido ao Pátria pela Pachama, empresa de tecnologia do Vale do Silício, que é parceira da gestora no fundo. A startup auxilia o Pátria na originação e comercialização dos projetos.
O fundo vai trabalhar com até cinco operadores florestais parceiros, que é quem vai fazer o plantio e suprimento das áreas. “Queremos nos apresentar a eles como um parceiro de capital para os projetos dos quais estão participando”, diz Faria.
Caminho trilhado
Apesar deste ser o primeiro veículo direcionado, o Pátria já tem investimentos em ativos da economia verde. “Sem se colocar dessa forma, o Pátria já é um investidor na agenda de clima. Por exemplo, nos aportes em energia renovável, é um investidor histórico e relevante no setor”, diz o sócio do Pátria.
No início deste ano, atraiu o BNDES e organismos multilaterais para um fundo bilionário de infraestrutura com foco em transição energética e mobilidade urbana. No braço de private equity, tem investimento em uma empresa de fertilizantes especiais, como parte de sua tese de agricultura regenerativa. Em 2019, criou uma empresa para tocar investimentos em energias renováveis.
“Temos uma tese bem aprofundada, identificamos projetos interessantes e sentimos a demanda de investidores por alocar capital”, disse o executivo, após participar de painel do Brazil Climate Summit, em Nova York.
*A repórter viajou a convite da organização do Brazil Climate Summit.