A entrada de Kamala Harris no lugar de Joe Biden como candidata presidencial do Partido Democrata deve trazer um impulso à agenda climática americana, um dos principais temas combatidos pelo seu principal adversário na disputa, o ex-presidente Donald Trump.
Logo após a confirmação de que seu nome vai receber o apoio dos delegados do partido na convenção, Harris começou a receber apoios e doações de grupos ligados ao clima. Em apenas uma noite nesta semana, mais de US$ 100 mil foram arrecadados em uma campanha do ambientalista Bill McKibben, por exemplo.
“Houve uma mudança de vibração realmente fundamental na comunidade climática”, disse Andrew Reagan, diretor executivo da Clean Energy for America, grupo que está ajudando a arrecadar doações para a campanha, ao site Semafor.
“Havia uma sensação de que não tínhamos chance de vencer, mas agora existe a possibilidade de realmente eleger um presidente de energia limpa.”
Os financiamentos de uma forma geral estão vindo com força desde a chegada de Harris. A nova pré-candidata conseguiu, em um só dia, US$ 80 milhões em doações à campanha, recorde histórico.
A agenda climática deve ser um dos principais assuntos da disputa à Casa Branca, não apenas pela atração do voto dos jovens, mas também pelo fato de que Harris e Trump têm opiniões contrastantes sobre o tema.
As críticas do republicano à agenda climática são públicas e conhecidas dos eleitores americanos – antes, durante e depois da passagem de Trump pela Casa Branca.
O ex-presidente menosprezou diversas vezes a mudança do clima, retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris assim que chegou ao poder e sempre foi muito próximo do setor de combustíveis fósseis – que foram e continuam sendo um dos principais doadores dos republicanos.
Somente nesta campanha, empresas do setor doaram ao menos US$ 36 milhões para candidatos republicanos, também de acordo com o Semafor.
Trump deve dobrar a aposta em um eventual retorno ao poder, mesmo que suas posições não estejam totalmente claras. Em um novo mandato do republicano, é certo que boa parte das políticas de Biden possaam ser desidratadas ou desfeitas – além da ameaça renovada de abandono das negociações climáticas globais.
[Trump] agirá muito mais rapidamente para impor sua agenda”, disse Myron Ebell, ex-chefe da equipe de transição para Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) no primeiro mandato de Trump, ao jornal britânico The Guardian.
Histórico
Já uma eventual vitória de Harris na disputa pode significar não apenas a continuidade das medidas de Biden, mas um passo além.
Ainda não se conhecem detalhes de suas propostas, mas é consenso que ela vai manter o rumo do atual goveno. E alguns episódios da atuação de Harris no Judiciário dão pistas sobre suas posições.
Quando era procuradora-geral da Califórnia, em 2016, Harris investigou a gigante do petróleo ExxonMobil por supostamente mentir para o público e para os acionistas sobre os riscos do uso de combustíveis fósseis para as mudanças climáticas.
Na mesma época, segundo informações da ABC News, Harris processou a Plains All-American, companhia de oleodutos, por um derramamento de óleo na costa da Califórnia, e também conseguiu um acordo de US$ 86 milhões com a montadora Volkswagen por fraudes nos testes de emissões de dióxido de carbono do diesel, caso que ficou conhecido como Dieselgate.
Antes disso, ainda nos anos 2000, quando era promotora distrital de San Francisco, Harris criou a primeira unidade exclusivamente dedicada à justiça ambiental do país.
Harris também se mostrou a favor da proibição da exploração de petróleo por fraturamento hidráulico, prática conhecida como fracking.
Mas a posição sobre o fracking pode trazer problemas à candidata na Pensilvânia, um dos Estados decisivos para a vitória de Biden na eleição de 2020. Biden venceu por uma margem apertada no Estado, segundo maior produtor de gás natural dos Estados Unidos, segundo informações do site Axios.