Uma das maiores agências de avaliação de risco de crédito do mundo, a americana S&P tomou a decisão de deixar de informar a nota ESG das empresas dentro de seus relatórios de rating.
Desde 2021 a agência vinha incluindo nos relatórios de crédito tradicionais um score de 1 a 5 para cada um dos três critérios ESG das empresas emissoras de dívida, o ambiental, o social e o de governança.
A decisão só vale para os relatórios de crédito tradicionais e não afeta os produtos específicos de avaliação ESG que a empresa fornece desde 2019, quando comprou o braço de rating ESG da gestora de fundos holandesa Robeco para disputar esse mercado.
Embora deixe de divulgar os scores, a S&P manterá a integração dos fatores ambientais, sociais e de governança em suas análises de crédito e continuará fornecendo textos analíticos sobre essas temáticas dentro dos relatórios.
“Essa atualização não afeta nossos critérios de princípios ESG ou nossa pesquisa e comentários sobre tópicos relacionados a ESG, incluindo a influência que os fatores ESG podem ter na qualidade de crédito”, afirmou a agência em nota.
Para especialistas, a decisão é uma resposta ao movimento político ideológico anti-ESG que ganhou força nos Estados Unidos, liderados por políticos ligados ao Partido Republicano, que passaram a atacar o uso de fatores ESG por Wall Street.
No ano passado, Estados americanos controlados por conservadores abriram investigações contra a S&P e outras agências pelo uso dos fatores ESG em suas análises, alegando violação das leis de proteção aos consumidores, por supostamente politizar uma análise que deveria ser estritamente financeira.
Tom Lyon, professor da escola de negócios da Universidade de Michigan que estuda as classificações ESG, disse ao Financial Times que o movimento da S&P é “apenas o exemplo mais recente de uma empresa que está capitulando diante dos ataques republicanos”.
Gustavo Pimentel, CEO da consultoria brasileira Nint, parte do grupo ERM, concorda que a decisão é uma resposta aos ataques republicanos, mas enxerga a decisão como uma blindagem estratégica, e não propriamente um recuo.
“É uma solução para sair do debate político, mas mantendo o compromisso com os investidores institucionais, que cada vez mais demandam a integração desses fatores aos riscos de crédito dos emissores de dívidas”, diz Pimentel, pontuando que os fatores seguem integrados à metodologia das análises de crédito feitas pela S&P e ainda farão parte dos textos explicativos de como eles afetam a nota de crédito geral dos emissores.
Revés
O movimento não deixa de representar um revés no avanço contínuo e explícito que as agências de rating vinham fazendo sobre o universo de análise ESG nos últimos anos.
Além de integrar a análise dos fatores aos relatórios de crédito tradicionais, de quatro anos para cá, todas as maiores agências de risco de crédito do mundo ingressaram no mercado de rating ESG dedicado, via aquisição ou de forma orgânica.
Até então, esse era um segmento dominado por firmas independentes.
Em 2019, a Moody’s comprou a francesa Vigeo Eiris, uma das mais tradicionais do setor, seguida pela S&P, que adquiriu o braço da Robeco. Em 2021, depois de perder para as concorrentes as principais oportunidades de incorporar provedores independentes, a Fitch criou sua própria área com esse fim.
O movimento de consolidação desse mercado também atraiu outros provedores de dados financeiros, como a Morningstar, que comprou a holandesa Sustainalytics em 2020.