Fundada há 30 anos, a gestora Fama Investimentos se notabilizou nos últimos três anos pela defesa enfática dos investimentos responsáveis e ESG feita por seu fundador, Fabio Alperowitch.
Agora, a casa está promovendo um reposicionamento, deixando de ser uma gestora monoproduto, que até hoje só teve um fundo de ações, para se transformar numa plataforma de investimentos sustentáveis, com novas classes de ativos e geografias.
“Está na hora de pensar nos próximos 30 anos e levar a Fama para outro patamar, não só de crescimento, mas de impacto”, diz Alperowitch.
“Nossa bagagem e compromisso se tornaram maiores do que apenas o fundo de ações, que é muito restrito perto do que podemos fazer em áreas como floresta e carbono”, completa.
Na largada, há duas novas frentes de produtos. Um fundo de ações focado em mudanças climáticas e uma parceria para criar produtos de renda fixa.
Batizado de Latam Climate Turnaround Fund, o novo fundo de ações, que já está em fase de sondagem de investidores, pretende captar recursos de investidores locais e principalmente estrangeiros para comprar papéis de empresas que sejam “ofensoras do clima”; no Brasil e em outros países da América Latina.
O objetivo é fazer engajamento com empresas de setores variados, de frigoríficos e cimenteiras a empresas de energia, varejo e até bancos, que sejam bem-sucedidas, mas que claramente estejam atrasadas em mitigar a pegada de carbono em sua cadeia de valor.
“Ninguém pressiona essas empresas hoje e nós poderemos, se necessário, escalar para a litigância climática”, diz Alperowitch.
Dito de outro modo, se o engajamento discreto não funcionar, o fundo pretende assumir uma postura ativista, expondo suas demandas e, no limite, poderá recorrer a disputas judiciais.
O climatologista Carlos Nobre será assessor sênior da estratégia, para respaldar cientificamente a atuação. E para liderar o engajamento também está se juntando à equipe de gestão a advogada Caroline Prolo, referência em direito ambiental no país, fundadora da LaClima e colunista do Reset.
O fundo atual, diz Alperowitch em carta enviada hoje a clientes, “seguirá com a mesma filosofia de investir em empresas de alta qualidade, geridas eticamente, e que levem a sério a agenda ESG”.
Para atuar em renda fixa, algo que não é sua expertise, a Fama fechou uma parceria com a securitizadora Gaia, de João Pacífico, especializada em estruturar operações de crédito para negócios que tenham impacto social e ambiental positivos.
“Eles originam e não têm produtos e nós temos produtos e não temos crédito. A ideia é criar fundos com títulos originados pela Gaia em temáticas específicas.”
A governança da gestora também será reforçada, com a criação de um conselho consultivo independente, com quatro integrantes: Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa e referência em políticas climáticas (também colunista do Reset); Jair Ribeiro, ex-banqueiro e fundador da Parceiros da Educação; Renato Meirelles, fundador e presidente do Instituto Locomotiva; e uma mulher especialista em diversidade e inclusão, de nome ainda não divulgado.
O outro fundador da Fama, Mauricio Levi, fará “uma transição gradual das operações do Brasil para prospectar oportunidades no exterior, onde já reside há 10 anos”.
Desempenho
A diversificação de classes de ativos e teses de investimento também ajudará a reduzir a dependência da Fama do fundo que a trouxe até aqui.
O período em que a Fama se destacou pela defesa da agenda ESG coincidiu com um desempenho ruim do fundo de ações da casa.
Em 2021, a carteira caiu 22,3%, ante queda de 11,9% do Ibovespa e, no ano passado, perdeu outros 21,2%, enquanto o índice de referência teve um desempenho positivo de 4,7%, puxado pelo boom das commodities refletido nos preços de Petrobras e Vale.
De 2016 a 2019, o fundo bateu com folga o benchmark e em 2020 ficou em linha com a bolsa. Desde a fundação, a Fama entrega uma valorização de 7000% contra 2500% do índice de referência.
Por conta da desvalorização das cotas, mas também dos saques de investidores nacionais e estrangeiros que afetaram toda a indústria no ano passado, o fundo viu seu patrimônio cair abaixo de R$ 1 bilhão, praticamente um terço de três anos atrás.