O interesse dos investidores por incorporar aspectos ambientais, sociais e de governança (ESG) na tomada de decisão de investimento tem crescido de maneira acelerada no mercado financeiro.
A pergunta que surge é: é possível ganhar dinheiro fazendo o que é certo?
Investigamos essa questão no artigo “O impacto do momentum ESG no preço das ações” (em tradução livre), que ganhou menção honrosa no Prêmio BID-SBFin, voltado para o desenvolvimento por meio das finanças sustentáveis.
As conclusões mostram que empresas mais sustentáveis têm custo menor de capital que as empresas menos sustentáveis, controlando-se por outros fatores de risco.
Já do ponto de vista do investidor, a melhor forma de maximizar retorno é apostar na melhora da qualidade das práticas ESG de uma companhia.
Para o estudo, analisamos as ações que compõem o S&P 500, formado pelas 500 maiores empresas negociadas na Nyse e na Nasdaq, que têm grande liquidez e cobertura de analistas.
Como medida de qualidade das práticas sustentáveis foi utilizado o escore ESG atribuído pela Sustainalytics, uma das principais provedoras de rating ESG, pertencente à Morningstar.
A análise foi realizada no período entre janeiro de 2014 e junho de 2020.
Performance absoluta
A primeira conclusão pode parecer, a princípio, contraintuitiva.
Em média, as ações com rating ESG mais baixo (tercil inferior) geraram um excedente de retorno entre 0,2% e 0,28% ao mês em relação às ações com rating ESG mais elevados (tercil superior).
Isso corrobora uma métrica conhecida como “prêmio de risco”: investidores exigem retorno mais alto para investir em ações com performance ESG mais fraca, pois enxergam maior risco na tese. Na mesma linha, eles cobram taxas mais altas para conceder empréstimos.
Empresas com as piores práticas de sustentabilidade tendem a ser menos resilientes a crises decorrentes de eventos sociais e climáticos, ter maior risco reputacional, e sofrer maior impacto negativo com mudanças regulatórias e de tecnologia.
Na mão contrária, do ponto de vista das corporações, os resultados indicam que empresas mais sustentáveis têm um custo de equity menor.
Portanto, o investimento em fundos ETFs ESG — que ranqueiam os investimentos de acordo com sua performance ESG absoluta — é condizente com uma estratégia de redução de risco, e não de retornos mais elevados que investimentos tradicionais.
O momentum ESG
Os resultados também mostraram que as ações com maior momentum ESG, ou seja, as que tiveram as maiores variações positivas de rating, têm em média um retorno ao mês entre 0,23% e 0,32% superior às que tiveram as maiores variações negativas.
É uma evidência de que os preços das ações se ajustam positivamente às variações do escore ESG, gerando retorno positivo para o acionista quando há melhora de práticas sustentáveis e um retorno negativo quando há piora.
A apreciação no valor do equity com a melhora do rating ESG indica ganho de valor com a redução do risco socioambiental e de governança e percepção de que haverá incremento nos fluxos de caixa futuros.
Portanto, estratégias de investimento baseadas em momento ESG (ao invés de ESG absoluto), ou seja, compra de ações de empresas que estão melhorando suas práticas de sustentabilidade, são condizentes com retornos mais altos para o investidor do que investimentos tradicionais.
Ressalvas
Embora o artigo traga evidências de que mais sustentabilidade gera maior valor para o acionista, é difícil generalizar esse resultado para outros mercados além do S&P500, ou mesmo para a utilização de outras bases de dados de escore ESG que não o da Sustainalytics.
Por dois motivos. Primeiro, porque as séries de ratings ESG ainda são relativamente curtas e não há um histórico temporal longo o suficiente para se testar as hipóteses mais robustez.
Segundo, porque para atribuir esses ratings, os provedores usam informações coletadas nos relatórios de sustentabilidade e em outras fontes para avaliar a qualidade da responsabilidade corporativa, práticas e riscos.
Não há um consenso universal sobre o que é material para um determinado setor e uma região específica, o que gera grande divergência entre os ratings ESG divulgados por diferentes provedoras.
Não é raro que uma empresa esteja mal ranqueada numa determinada agência e bem numa outra, o que gera ineficiência no apreçamento das práticas sustentáveis, e abre oportunidade para greenwashing.
Não se pode, portanto, assumir que o mercado financeiro está incorporando corretamente a qualidade das práticas ESG no preço das ações e dos títulos de dívida.
Ainda há muitas oportunidades de arbitragem para investidores, e, em muitos casos, o não reconhecimento correto do esforço de empresas em melhorar suas práticas de responsabilidade social corporativa.
Quanto maior se tornar o consenso do que é material para diferentes setores e regiões e melhor forem as divulgações das práticas e riscos ESG, mais evidências de que se ganha dinheiro fazendo o bem serão encontradas.
* Carolina Sverner é analista de investimentos alternativos na Brainvest e o artigo é baseado em sua tese de mestrado profissional em economia pelo Insper. Andrea Minardi é professora senior research fellow do Insper e membro dos conselhos da Insper Metricis, Insper Anjos e Climate Smart Institute. Fernando Tassinari é sócio fundador e gestor da Hakase Capital, com doutorado em economia também pelo Insper.