Startup que usa bactérias para despoluir a água atrai atenção da Ambev

A O2eco venceu o prêmio de melhor startup participante do programa de aceleração da fabricante de bebidas

Startup que usa bactérias para despoluir a água atrai atenção da Ambev
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O tratamento da água é um problema enfrentado por empresas de diferentes setores, e muitas vezes as soluções envolvem processos complicados para lidar com potenciais consequências ambientais. Pense em efluentes tratados com produtos químicos, que podem interferir na qualidade da água para consumo. 

A startup O2eco desenvolveu uma tecnologia que faz essa purificação usando organismos vivos já presentes nos corpos hídricos. O bioestimulador criado pela companhia multiplica as bactérias “do bem” que degradam materiais orgânicos, como rejeitos de esgoto, e auxiliam na despoluição.

A startup venceu a quarta edição da Aceleradora 100+, um programa da Ambev que fornece mentorias e impulsiona empresas iniciantes que conectam sustentabilidade e inovação e tenham alguma relação com a cadeia de valor da fabricante de bebidas.

A O2eco foi uma das 20 startups que participaram do programa. Escolhida como vencedora entre nove finalistas, a empresa e sua tecnologia de multiplicação de bactérias receberão R$ 100 mil. 

“De uma forma bem simplista, a gente cria mais bocas para ‘comer’ a matéria orgânica e assim regenerar o meio”, diz o fundador da startup, Luís Fernando Magalhães

O método consiste em  inserir na água uma placa de cera com nanominerais que estimulam a proliferação desses microorganismos de forma acelerada e exponencial. Assim, a “taxa de limpeza” é cerca de 8 mil vezes maior do que a que ocorreria de maneira natural. 

A tecnologia chegou ao Brasil em 2018, por meio de uma parceria com a australiana Marine Easy Clean. Depois, o projeto foi adaptado para a realidade brasileira na Universidade do Vale do Paraíba (Univap), em São José dos Campos, interior de São Paulo. 

Uma placa de 1kg pode tratar uma área de 100 m². “A carga orgânica fica predominante na superfície. Até quatro metros de profundidade, a profundidade não interfere tanto. Depois disso, fazemos outro dimensionamento”, diz Magalhães.

O tempo de aplicação varia conforme o nível de contaminação da água. A solução pode ser aplicada em estações de tratamento, rios, lagos, lagoas e estações de tratamento de indústrias, afirma. 

A tecnologia foi demonstrada num córrego de Sete Lagoas, em Minas Gerais, onde a Ambev despeja os efluentes de uma fábrica. O projeto piloto, que custou R$ 60 mil, durou três meses e foi financiado pela fabricante de bebidas.

Matéria-prima básica

O cuidado com a água é primordial para a empresa também na entrada da fábrica. Um possível uso dos bioestimuladores seria na limpeza dos corpos hídricos onde é captada a matéria-prima para a produção de cervejas.

“A qualidade da água muda muito conforme os períodos de chuvas, então podemos voltar esse projeto na outra ponta”, diz Rafaella Araújo, especialista de sustentabilidade em cadeias de fornecimento da companhia. 

Uma das características que atraíram o interesse da Ambev foi a possibilidade de implementação rápida da tecnologia. Bioestimuladores como os desenvolvidos pela O2eco não precisam obter registro prévio no Ibama.

“A gente não usa nenhum produto químico, nenhum produto biológico, nenhuma bactéria exótica ao meio”, diz Magalhães. 

Com mais de 83 mil quilômetros de rios poluídos no Brasil, de acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), é ali que se concentra a próxima empreitada da startup. A O2eco fechou uma parceria com a Sabesp e começará a aplicar a tecnologia em um trecho do Rio Tietê. 

Foto: J K, via Unsplash