Menos de um ano após a venda da Resultante para a KPMG, outra consultoria pioneira em ESG no Brasil é vendida para um grupo multinacional.
A Nint fechou um acordo de venda integral para a ERM, uma firma de consultoria focada na área de sustentabilidade com atuação em 39 países e controlada pela gigante de private equity KKR.
Fundada em 2011, a Nint nasceu como um dos braços da Sitawi — que manteve seu foco em fundos filantrópicos — e tem como seu carro-chefe a prestação de serviços de consultoria e integração de fatores ambientais sociais e de governança para o setor financeiro.
Nos últimos três anos, com o boom do ESG e da pauta climática, a operação saltou de patamar, com alta de 50% no faturamento ao ano, e começou a ser sondada por diversos atores, sejam estratégicos ou investidores financeiros, afirma o sócio-fundador Gustavo Pimentel.
Hoje, a empresa conta com 100 funcionários e está entre as 10 maiores provedoras de pareceres para operações de dívidas sustentáveis, de acordo com levantamento da Environmental Finance.
“A conversa com a ERM levou um pouco mais de um ano. Vimos muita sinergia do ponto de vista dos negócios, da cultura e do jeito de operar a empresa”, diz Pimentel (à esquerda na foto). Segundo ele, não houve um processo competitivo formal, com assessores financeiros contratados para este fim.
Ele e os outros cinco sócios da Nint —Tatiana Assali, Fred Seifert, Felipe Nestrovsky, Cristóvão Alves e Guilherme Teixeira — se tornarão sócios da ERM. Os valores envolvidos na transação não foram revelados.
A aquisição une duas empresas com perfis complementares.
Enquanto a Nint é forte entre bancos e fundos de investimento, a ERM foi forjada na economia real.
Sua origem está na elaboração de estudos ambientais, de licenciamento e engajamento com comunidades em grandes projetos industriais e de infraestrutura, além de avaliação de passivos ambientais e gestão de áreas contaminadas.
Essas áreas ainda são as principais linhas de receita, ainda que a empresa venha globalmente expandindo sua atuação para serviços mais estratégicos, como consultoria em transição energética e apoio na estratégia de descarbonização.
A companhia atua há 30 anos no Brasil, mas apenas há cerca de 10 começou a colocar mais foco no mercado nacional. “Saímos de 100 para 400 funcionários e vemos um amplo espaço para crescimento. A compra Nint é uma forma de crescermos mais rápido e juntos”, diz Paulo Santos (à direita na foto), sócio e diretor da operação local da ERM no Brasil.
É a primeira aquisição na América Latina da ERM, que fatura mais de US$ 1 bilhão globalmente em 39 países.
O slogan da companhia é “from boots to boardroom”, ou da operação até a sala do conselho, numa tradução livre. “Mas aqui no Brasil, a ERM não chegava tanto à sala do conselho, parava um passo antes”, afirma Pimentel. “É esse acesso que oferecemos.”
Na mão oposta, a ERM dá a Nint o acesso ao mercado corporate, de empresas não-financeiras, hoje sua área de menor representatividade e onde há um amplo mercado endereçável.
Outra complementaridade é o relacionamento mais perene da ERM com seus clientes.
“Em muitos casos, a gente faz o projeto de consultoria e quando ele acaba, acaba. Temos que esperar até surgir outro projeto”, afirma Pimentel. “A ERM traz essa capacidade de continuar trabalhando com os clientes num relacionamento de longo prazo.”