HSBC veta financiamento de novos campos de petróleo

Decisão de um dos maiores credores do setor vem após revolta de investidores

Fachada do banco HSBC, com árvores ao fundo
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O HSBC vai parar de financiar diretamente a exploração de novos campos de petróleo e gás, num dos posicionamentos mais duros entre os grandes bancos em relação a combustíveis fósseis. 

Em sua nova política de energia, publicada nesta quarta-feira, o banco britânico anunciou que deixará de fornecer empréstimos e formas de financiamento no mercado de capitais para projetos ligados a novos campos de petróleo e gás ou infraestrutura relacionada com esse fim.

A medida vai na linha do alerta da Agência Internacional de Energia (AIE) para que se interrompa a perfuração de poços de petróleo ao redor do globo.  

O peso do HSBC para o setor torna a decisão um marco. Desde o Acordo de Paris, em 2015, a instituição já emitiu US$ 111 bilhões em dívidas para companhias de combustíveis fósseis, segundo dados compilados pela Bloomberg. É o segundo maior montante entre os líderes europeus. 

Serviços financeiros e de consultoria continuarão disponíveis no nível corporativo desde que os planos de transição dos clientes sejam consistentes com as metas de portfólio do HSBC para 2030 e o compromisso de ser net zero em 2050. 

Em comunicado, o banco cita avaliação da AIE de que uma transição ordenada requer investimento contínuo nas plataformas já existentes para que se garanta a produção necessária para atender a atual demanda. A leitura é que o patamar de financiamento fornecido em 2020 seja mantido até 2030 e, depois, cortado pela metade. 

“Continuaremos a fornecer financiamento aos clientes, mantendo o petróleo e o gás fluindo para atender à (decrescente) demanda global atual e futura, com o envolvimento na transição vital para garantir que as empresas descarbonizem e diversifiquem seu fornecimento de energia, produção e modelos de negócios”, disse a instituição em comunicado. 

Transparência e engajamento corporativo

Ao lidar com os clientes que já integram seu portfólio, o HSBC irá avaliar se os projetos são consistentes com suas metas descarbonização. 

Se um plano de transição energética não for apresentado ou não for ambicioso o suficiente, não serão disponibilizadas novas formas de financiamento e é possível que sejam retiradas linhas de crédito já existentes. 

A nova política de energia foi desenvolvida “em consulta com partes científicas e internacionais, e com a indústria”, diz o HSBC. 

O setor de energia como um todo fica sujeito à medida, incluindo empresas de petróleo e gás, carvão, hidrogênio, energia renovável e hidrelétrica, nuclear, biomassa e resíduos para os setores de energia.

Também são definidas regras para a prospecção de novos clientes. Companhias em que 10% ou mais dos planos de investimento sejam marcados para exploração de gás e petróleo não entrarão na carteira, por exemplo. 

Pressão pela decisão

A mudança na postura vem após o HSBC conseguir impedir uma revolta por parte de investidores no ano passado. Às vésperas de sua reunião anual, 15 acionistas que detêm US$ 2,4 trilhões em ações sob gestão haviam pedido para que o banco reduzisse seu financiamento a combustíveis fósseis. 

Depois de meses de negociações, o pedido foi arquivado e o HSBC se comprometeu a revisar sua exposição a ativos de setores intensivos em carbono. 

Uma segunda linha, ligada à eliminação gradual de carvão térmico, também foi atualizada. O banco não irá financiar novas minas de carvão e quer reduzir suas emissões financiadas por mineração de carvão ou energia gerada pelo combustível em 70% nos próximos oito anos. 

Outros bancos britânicos caminham para longe do setor de energia intensivo em carbono. 

Ainda que não considerado um major player na indústria, o Lloyds decidiu no mês passado que não irá financiar diretamente novos campos de petróleo e gás.