Lidar com os efeitos da crise climática e impulsionar a transição energética vai exigir trilhões de dólares. De olho nas oportunidades que se abrem, o mercado financeiro tem ampliado as opções de produtos para investidores atentos aos riscos das mudanças climáticas ou que buscam direcionar capital para tecnologias de solução.
O cardápio de fundos focados em clima cresceu 32% nos nove primeiros meses deste ano e atingiu o recorde de 1.140 ao fim de setembro, aponta levantamento da Morningstar. São 280 fundos mútuos ou negociados em bolsa (ETFs) a mais que em dezembro do ano passado.
Desses, 180 foram criados neste ano – menos do que em igual período de 2022. Os outros 100 são produtos que tiveram sua estratégia alterada e passaram a adotar uma tese climática ou adicionaram metas de descarbonização do portfólio em linha com o Acordo de Paris.
Para definir o universo do levantamento, a Morningstar diz escolher aqueles que têm um mandato climático; e que isso é avaliado com base na intenção demonstrada e não nos ativos em carteira.
“Muitos portfólios sustentáveis pontuam bem nas métricas climáticas, mas se as questões ligadas ao clima não forem o foco das estratégias de investimento desses fundos, eles não serão incluídos em nosso universo”, diz a Morningstar no relatório do levantamento.
Para identificar a intenção, a Morningstar diz cruzar os nomes dos fundos e com dados encontrados em registros legais.
A empresa americana de dados, com base em Chicago, dividiu os fundos em cinco categorias:
- Baixo carbono; aqueles que buscam investir em companhias com intensidade de carbono reduzida
- Consciente do clima; que investem em empresas que consideram a mudanças climática em sua estratégia e estão melhor preparadas para uma economia de baixo carbono
- Green bonds; que compram títulos de dívida que financiam projetos de transição para uma economia verde
- Soluções climáticas; que miram empresas que contribuem para a descarbonização da economia por meio de seus produtos ou serviços e que vão se beneficiar dessa transição
- Energia limpa/tech; fundos que investem em negócios ligados à transição energética
Resiliência
Num cenário de aperto monetário, fortalecimento do dólar e reflexos da guerra da Rússia na Ucrânia, os fundos climáticos não ficaram imunes aos desafios macroeconômicos, mas exibiram certa resiliência.
Enquanto os ativos sob gestão de fundos globais encolheram 24% em dólar de janeiro a setembro, os portfólios climáticos diminuíram 10% no mesmo período, indo a US$ 368 bilhões de patrimônio.
Na conta entram o desempenho das carteiras, o fluxo de recursos e também o efeito do câmbio, já que os ativos denominados em moedas variadas foram convertidos para dólares para o levantamento.
Na comparação entre regiões, o pior desempenho foi na China, com encolhimento de 27,4%, a US$ 34 bi. Nos EUA os ativos dos fundos com foco em clima diminuíram 15,7% e na Europa, 6,5%, a US$ 303 bi. Dados da América Latina não foram contabilizados.
Europa na liderança
A Europa continua a puxar a fila dos investimentos sustentáveis. Nos últimos dois anos, o número de fundos climáticos triplicou na União Europeia e chegou a 754 (dos 1.140 globalmente).
O desempenho é consistente com a política do bloco, que tem um plano de ação para alavancar os investimentos sustentáveis, em linha com a meta de neutralizar suas emissões de carbono até 2050.
Duas das principais medidas são a criação da taxonomia verde, que define quais ativos podem receber o selo de investimento sustentável por contribuírem com as metas ambientais do bloco, e a Diretiva de Reporte de Sustentabilidade Corporativa (CSRD, na sigla em inglês).
Pela diretiva, que foi aprovada pelo Parlamento Europeu no início do mês, grandes companhias do bloco – e empresas de fora que atuam na região – terão que abrir suas informações de impacto social e ambiental e seguir novos padrões de sustentabilidade. A proposta, que visa mais transparência e políticas “antigreenwashing”, deve ser apreciada pela Comissão Europeia, braço Executivo do bloco, na próxima segunda-feira, dia 28.