Além do hype: Evento quer aproximar investimentos da realidade da Amazônia

Para Mariano Cenamo, idealizador do Fiinsa, há muito dinheiro fluindo para negócios na região – mas ele está indo pelo caminho errado

Além do hype: Evento quer aproximar investimentos da realidade da Amazônia
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Em meio ao hype que se criou em torno da defesa da Amazônia nos últimos anos, não tem faltado dinheiro de investidores interessados em escalar soluções – e retornos – para manter a floresta em pé.

Mas a relativa abundância de recursos não significa que um novo modelo de desenvolvimento econômico para a região esteja dado. Longe disso. 

O capital que chega está em busca de negócios de porte e maturidade que ainda são raros na região. Ao mesmo tempo, a narrativa da busca de alternativas para fazer frente ao desmatamento e ao garimpo ilegal passou a ser construída bem longe da floresta, não raro a partir da Faria Lima.

O diagnóstico é de Mariano Cenamo, cofundador do Idesam, CEO da aceleradora de impacto Amaz e um dos idealizadores do Festival de Investimentos de Impacto e Negócios Sustentáveis na Amazônia, que acontece nos dias 29 e 30 de novembro, em Manaus.

Em sua segunda edição, a proposta do Fiinsa é ser o grande ponto de encontro de  empreendedores, investidores e organizações da sociedade civil para discutir o ecossistema de negócios de impacto e a bioeconomia da Amazônia.

“As grandes questões que queremos responder são que tipo de capital precisamos atrair e como conseguimos estruturar esse ecossistema de empreendedorismo para criar negócios com capacidade de absorver o capital disponível”, diz Cenamo.

Cenamo se diz preocupado com o fato de empresas de fora da Amazônia dominarem as manchetes quando o tema são negócios da floresta. “E os créditos de carbono são apenas uma dessas agendas. Por isso a proposta é fazer essa discussão em Manaus.”

O capital que chega em busca de oportunidades de negócios, diz, é bem-vindo e essencial. “O problema é que o dinheiro está fluindo em excesso para os caminhos errados.”

A maior parte do capital tem ido para fundos de capital de risco, que buscam replicar na Amazônia a lógica do setor de tecnologia, com crescimento acelerado e retornos igualmente rápidos.

Para ele, essa é a receita para que a atual onda de investimentos na região fracasse. “Existe um risco de que esse movimento crie uma falsa sensação de conforto, enquanto nada muda de fato.”

Pipeline imaturo

Mariano Cenamo aponta dois equívocos dos investidores. O primeiro é uma expectativa de retorno incompatível com a realidade local. 

“O retorno de um venture capital tradicional está descolado da capacidade de retorno que os negócios de impacto da Amazônia conseguem dar – pelo menos no estágio atual de maturidade”, diz. “E hoje ainda não temos um benchmark para saber como vai se sair, por exemplo, um negócio que compra açaí de comunidades locais.”

O segundo equívoco é o prazo esperado de retorno. “Estamos falando de negócios que precisam resolver problemas ambientais e sociais urgentes que a região enfrenta.”

A chave, diz, é a adaptar a expectativa à realidade local, colocando na equação as dificuldades que qualquer negócio na região enfrenta.

“Um restaurante que opere em Manaus tem dificuldades logísticas, de luz, de internet, de gente, de informalidade e de irregularidades. Agora imagine as adversidades enfrentadas por um negócio de impacto.”

Mix de capitais

No processo de fomentar o ecossistema de negócios da floresta, o capital de risco deveria ser apenas um dos tipos de capital alocados. Cenamo acredita que a chave está na chamada ‘blended finance’, que, como o nome diz, mistura capitais de natureza distintas. 

“Temos que encontrar diversos blends. Capital de risco, capital filantrópico, dívida atrelada à receita futura, empréstimo atrelado à geração de créditos de carbono e por aí vai.” A discussão será tema de um dos painéis no primeiro dia do evento.

Por mais estranho que pareça, diz ele, hoje falta capital filantrópico, que, por definição, é mais paciente e disposto a tomar risco.

A maioria das doações é direcionada à agenda de resistência, ou seja, voltadas para ações de controle do desmatamento e atividades ilegais e desenvolvimento de políticas públicas, o que é bem vindo. “Mas pouco capital filantrópico flui para a agenda de negócios.” 

Agenda

A programação do festival segue cinco trilhas temáticas: estruturação do ecossistema de empreendedorismo, acesso a capital, pesquisa e desenvolvimento, comunidades e desafios do empreendedorismo.

Logo na abertura, Guilherme Leal, da Natura, Denis Minev, da varejista manauara Bemol, a indígena e ativista Juma Xipaya e Fersen Lambranho, da GP Investments, vão debater sobre as visões de futuro para a Amazônia.

Haverá discussões de viés mais prático, como a estruturação de cadeias produtivas para a bioeconomia e também sobre os desafios de comercialização, logística e distribuição dos produtos. O papel dos mercados de carbono e das grandes empresas também fazem parte da pauta.

Veja o line up de palestrantes e a programação completa.